A Cidade e as Serras - Resumo, aula e redação.
em 10 de Dezembro de 2017
O primeiro passo para se entender a Teoria de Bakhtin é reconhecer seu próprio lugar no mundo. Esse é um caminho conturbado dependendo do quanto somos explorados. Um bom começo é localizar nosso nome, endereço, cidade, estado, região, país, continente e por fim buscar compreender como todas essas definições formadoras da nossa personalidade se relacionam com o mundo.
Esse processo é um método que se baseia na forma em que Karl Marx pensou a escrita de sua célebre obra “O Capital”. Trata-se de uma análise precisa e científica de tudo que foi tangível ao criador da Teoria da Classe Trabalhadora. Como Karl Marx foi abastado, isso lhe permitiu conhecer com um pouco mais de propriedade o funcionamento do mundo e do capitalismo.
Para abstrair um pouco mais, é necessário perceber que esses dados marcam a nossa forma de enxergar o que nos cerca. O nosso nome revela qual a intenção dos nossos pais ao nos nomear; nosso endereço revela qual a paisagem que avistamos sempre que saímos de nossas casas; a cidade revela qual a ideologia que nos rege; o estado mostra como essa ideologia reverbera em outras localidades; a região apresenta como esses pequenos “feudos” se separam entre si, enquanto que o país une essa amálgama toda.
Amálgama é a mistura de todos os conceitos que essas definições fazem com uma nação. A partir desse caminho ainda resta um último passo, o qual é entender como toda essa fusão perfeita se relaciona com as demais fusões, que são os demais continentes que também carregam consigo toda essa maneira de entender o complexo globo terrestre. Feito esse caminho se começa a entender o conceito da palavra “bolha”.Sim, os seres humanos vivem em bolhas. “Bolha” na terminologia teórica de Bakhtin é a “Realidade Social Imediata”. Eis um conceito chave para a compreensão da Teoria Bakhtiniana.
Obviamente Bakhtin foi um grande teórico e para entender qual o propósito de todos os seus escritos é necessária uma análise profunda de sua obra. Mikhail escreveu sobre literatura, linguística e psicologia sempre partindo da máxima de Marx: “Todo homem é um ser social”.
Mas o que significa isso? Significa dizer justamente que nossa personalidade é formada a partir da imitação e análise de outros seres. A criança imita seus pais e depois quando amadurece reflete sobre suas próprias formas de reproduzir suas conjecturas por meio do corpo, e gradativamente vai construindo sua personalidade. Isso ocorre desde os conceitos mais abstratos que o cérebro armazena até o jeito de se mover. É como se fossemos bonecos da nossa realidade social imediata.
Isso permite viajar um pouco mais em outros conceitos linguísticos, literários e psicológicos que a obra de Bakhtin contempla. São os mais importantes deles: gêneros do discurso, a forma como a criação de uma obra literária se dá e também uma profunda crítica à teoria Freudiana. Nesses conceitos Bakhtin é mestre e isso é verificável em sua obra, mesmo que o cânone insista em dizer que Bakhtin foi apenas um linguista. O concreto é que a proposta mais aceita desse estudioso se encontra no campo das Letras.
Pensando nesse linguista espetacular podemos entender tudo o que Bakhtin quis dizer no conteúdo de sua obra. A primeira informação importante na obra Bakhtiniana é a da importância da linguagem e de como ela molda uma parte do funcionamento do nosso cérebro. Esse papel fundamental da linguagem na nossa formação ocorre desde o primeiro contato com as palavras que ouvimos ao nascer.
Por um motivo biológico essa primeira referência é a figura materna, pois é de onde o bebê se alimenta. Exposto tudo isso, pode-se entender um segundo conceito importante dessa teoria: o da “Interação Verbal”. Sim, pois as palavras, como dito antes em relação ao método de compreensão do mundo, são espelhos da forma como enxergamos a interpretação dos nossos entes queridos sobre o significado dessas, além de ser a nossa própria interpretação dos mesmos conceitos. Esse processo denomina-se “Refração”.
Toda essa imitação inconsciente e automática se torna ainda mais complexa à medida que a criança amplia seus horizontes no número incontável de seres com os quais conversa durante sua formação e no decorrer de sua vida. Seria talvez correto dizer que não existe uma personalidade fixa para nenhuma pessoa, pois todo esse processo apresentado ocorre toda vez que um indivíduo se expressa por meio da linguagem com outro ser. Este é um quarto conceito fundamental de Bakhtin: “Dialogia”.
Dialogia no sentido etnológico da palavra significa “ Estudo de duas coisas”, ou seja, o estudo de si e do outro. É isso que fazemos ao falar, estudamos a nós e aos outros, e essa análise se expressa no significado que damos às narrativas que ouvimos, ou seja, a interpretação. Quando Bakhtin faz uma crítica ferrenha sobre a acriticidade à teoria Freudiana está dizendo exatamente isso, que não é o mundo interior que forma o nosso pensamento, mas sim o exterior, então não podemos aceitar tudo de uma teoria que afirma que o pensamento coletivo é inferior ao pensamento individual.
Isso porque primeiramente não existe pensamento individual, como já dito, e porque entender toda essa via nos faz concluir que sim há individualidade na personalidade dos seres, mas essa é formada a partir da da apreensão das personalidades que nos são apresentadas, e pode-se dizer que para definirmos a nossa própria personalidade, o processo é o da imitação das ideias pelas quais temos mais afinidade.
Esta é uma análise sociológica da linguagem, pois se não o fosse não seria marxista. E se Bakhtin já se mostra grande na condensação de um capítulo de uma de suas célebres obras, “Marxismo e Filosofia da Linguagem”, não é possível dizer o que se pode construir a partir de tudo isso. Fica o convite para que conheçamos e divulguemos um pouco mais de Bakhtin.