Papel da vacinação na transição epidemiológica
Por: Rita V.
28 de Janeiro de 2022

Papel da vacinação na transição epidemiológica

Vacinar ou não?

Medicina Imunologia Curso superior Saúde Coletiva imunização Epidemiologia

Governo já enviou doses da vacina contra a Covid-19 para imunizar 100% dos  idosos previstos na primeira etapa — Português (Brasil)

Hoje o que mais se comenta é sobre a utilidade ou não das vacinas e para melhor compreender a importância desse avanço científico é preciso que compreender o que acontecia na Idade Média. 

Naquele período, as comunidades eram assoladas por pragas e doenças infecciosas que dizimaram populações inteiras, os conceitos de higiene e de que haviam microrganismos microscópicos poderiam causar doenças estavam muito longe do entendimento das pessoas. A convivência com ratos, sujeira e ambientes contaminados foram as fontes de inúmeras epidemias, mas esses fatores eram normalizados naquela época. 

Como as doenças não eram entendidas e conhecidas, as causas eram ligadas à miasmas ou forças ocultas e o tratamento dessas doenças era feito através dos chamados benzimentos, plantas e muitas vezes pela morte e incineração do infectado. Quem dominava a produção de extratos vegetais ou outras substancias era considerado como tendo dons ou pactos com forças sobrenaturais e na Inquisição católica foram queimados em praça pública acusados de bruxaria ou feitiçaria.

Mais tarde, medicos, químicos e observadores notaram que muitas doenças e óbitos poderiam ser evitados com medidas simples de higiene como, por exemplo, lavar as mãos. O médico húngaro Ignaz Semmelweis observou que a morte de parturientes era maior nas clínicas onde os médicos também faziam as necrópsias. Notou que esses médicos e enfermeiras não faziam a higienização das mãos de forma adequada e infectavam as parturientes durante o parto e a simples implementação obrigatória da lavagem das mãos reduziu consideravelmente os números de óbitos nessas clínicas. Hoje, na pandemia, pudemos confirmar a importancia da lavagem e higienização das mãos com álcool gel 70% como importante redutor da transmissão do vírus na comunidade. 

Com a utilização do primeiro microscópio por Robert Hooke e Anton Van Leeuwenhoek para a observação de seres microscópicos teve início a era de grandes descobertas na microbiologia e puderam ser observados os seres e que aos poucos foram relacionados com a ocorrência das doenças. Além disso, ao se correlacionar a presença desses microrganismos às patologias, puderam ser iniciados os estudos sobre a história natural das doenças e assim melhor comprender os caminhos que levavam às infecções. 

No entanto, ainda permaneciam obscuros os fatos que levavam a algumas pessoas, mesmo estando em áreas com um número expressivo de casos positivos, não fossem acometidas dessas patologias e não adoececem. 

A observação desse fato, induziu aos conceitos iniciais de imunidade e resistência. No século XVII, o médico Edward Jenner observou que ordenhadores que faziam o seu trabalho em vacas doentes (varíola bovina) não tinham a doença humana e intuiu que se essa secreção fosse inoculada em outras pessoas pudesse levar à proteção contra a varíola. Assim foi criada a primeira vacina e a varíola foi a primeira doença erradicada através desse método.

A partir desse momento, outras vacinas foram desenvolvidas, outras técnicas de produção dos imunizantes foram aprimoradas e com o tempo a mortalidade de pessoas cometidas por sarampo, rubéola, poliomielite foram reduzidas e substituidas por outras doenças denominadas de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e esse período é caracterizado como Transição epidemiológica. Além da imunização humana, a vacinação veterinária trouxe maior segurança para o consumo de produtos animais e aumentou a produtividade e lucratividade.

A partir da década de 70 com a implementação de campanhas de vacinação em massa os números de doentes, óbitos e pacientes com sequelas das doenças foram reduzidos exponencialmente, mas essas campanhas devem ser periódicas para mobillizar o maior número de pessoas imunizadas induzindo assim à imunidade coletiva, para que pessoas que não possam ser vacinadas (imunossuprimidos ou com alguma comorbidade, por exemplo) possam ser protegidas pela barreira de proteção comunitária.

As campanhas passadas modificaram o panorama de doenças prevalentes nas comunidades e transformaram o antigo padrão de doenças transmissíveis (DT) em um padrão de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como hipertensão, doenças cardiovasculares, doenças renais, obesidade, cancer, que estão muito mais ligadas ao padrão de vida do que à infecções por microrganismos.

Alguns países não apresentam um padrão definido e a transição epidemiológica permanece incompleta, nesse caso convivem com doenças transmissíveis e não transmissíveis  o que sobrecarrega, sobremaneira, o sistema de saúde.

Infelizmente, muitos dos avanços conseguidos com as campanhas de vacinação coletiva estão substancialmente se perdendo por conta da disseminação de notícias falsas que incitam o medo e o pavor pelas vacinas e presenciamos o recrudescimento de doenças até então controladas. A recusa pela vacinação induz ao aumento de casos, aumenta a disseminação das doenças que é um fator de maior modificação dos microrganismos e criação de mais variantes tal qual ocorreu com a COVID-19.

A pergunta que mais se faz hoje em dia é: devo me vacinar e vacinar meus filhos? A resposta precisa e única é: sempre. A vacina pode em alguns casos e em alguns indivíduos produzir reação vacinal mais proeminente e exacerbada, mas isso não reduz a importancia e a efetividade da mesma e somente em algumas situações muito específicas ela deverá ser contraindicada. 

A vacina é um dos maiores avanços conseguidos pela medicina e que modificou o quadro epidemiológico mundial controlando inúmeras doenças e reduzindo óbitos e a possibilidade de sequelas, ela também proporciona a proteção necessária para que a doença não seja grave reduzindo a pressão nos sistema de saúde e evitando que a doença se dissemine na comunidade. 

Portanto, na atualidade para que consigamos manter o número de doenças transmissíveis sob controle precisamos, antes de mais nada, informar, desmistificar e desmentir as notícias falsas disseminadas pelos meios digitais e sobretudo incentivarmos e reconhecermos os benefícios da vacinação para a sociedade e na transição epidemiológica mundial.

 

 

 

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Rita V.
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Imunologia - Medicina Toxicologia Bioquímica Médica
Doutorado: Doutorado em Ciências-Imunologia (Universidade de São Paulo (USP))
Leciono para os cursos de biologia, farmácia-bioquímica, medicina, nutrição, biomedicina, odontologia e outros cursos da área da saúde.
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