Candida auris: a ameaça continua crescendo
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Por: Celso N.
13 de Junho de 2023

Candida auris: a ameaça continua crescendo

Infecções de Candida auris, conhecida como um superfungo, continua se disseminando pelo país

Biologia Vestibular ENEM Geral fungos

A Candida auris é um fungo, do tipo levedura. Ou seja, ela não forma cogumelos ou aquele pozinho que vemos no pão. Ela forma colônias e são seres unicelulares. Esse microrganismo não infectava humanos, até 2009. Nesse ano, no Japão, foi registrado um fungo presente no ouvido de um paciente (daí o nome "auris", vem de auricular, orelha). Esse fungo espantou os cientistas, pois ele nunca tinha sido registrado em humanos e já apresentava resistência inata a medicamentos. Desde então o fungo é considerado emergente na escala de ameaça à saúde global, e a OMS o considera uma micose entre as 19 mais perigosas.

Esse fungo pode se esconder nos ouvidos, narinas, axilas e virilhas, sem causar nenhum sintoma, quando se tratando de pessoas saudável, com sistema imunológico sadio. Já em relação a pessoas com o sistema imunológico comprometido (imunodeficientes), pessoas que estão em uso de antibióticos, que passaram por cirurgia ou estão passando por algum procedimento invasivo (catéter, entubação, acesso venoso, dentre outros), principalmente estando internados ou em ambiente hospitalar. Essa pessoas possuem uma maior chance de contrairem a infecção da Candida auris, e então ter o fungo se espalhando por seu corpo, através do sistema circulatório, causando o que seria uma candidíase sistêmica. Além disso, existem fatores de risco, que aumentam a chance de infecção em caso de contato com o fungo, como: diabetes, uso de múltiplos antibióticos, falência renal, uso de cateter venoso central e, no caso específico de Covid-19, o uso excessivo de corticosteroides (que tem efeito imunossupressor em neutrófilos e macrófagos células do sistema de defesa do corpo humano).

Nesses casos, onde o fungo se espalha através do sangue, os risco são muito grandes. A Candida auris uma vez na corrente sanguínea pode infectar o sistema respiratório, o sistema nervoso central e órgãos internos, assim como a pele. Como o fungo apresenta uma resistência natural a medicamentos (algumas cepas podem ser resistentes as 3 principais classes de antifúngicos), fica muito difícil de tratar, e o fungo pode causar sintomas graves, como febre, dores e calafrios, fadiga, confusão mental, ansiedade, taquicardia, hipotensão, até que o indivíduo vai a óbito. Até 90% dos isolados de C. auris são resistentes ao fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas. Além disso, a espécie tem uma tolerância a temperaturas elevadas de 37°C a 42°C (os fungos mais comuns preferem temperaturas menores, o que explica a preferência por nossa pele). A Candida auris pode ficar alojada (escondida) no paciente de 3 a 6 meses.

O CDC (Centers for Disease Control and Prevention), órgão sanitário dos Estados Unidos (equivalente a nossa ANVISA) aponta que quase metade dos pacientes que contraem Candida auris morre em 90 dias. A taxa de óbito pode chegar a 60%. No mundo, mais de 5.000 casos foram identificados em 47 países, entre eles Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Israel, Chile, Canadá, Itália, Holanda, Venezuela, Paquistão, Quênia, Kuwait, México, Reino Unido, Brasil e Espanha. Só nos EUA, em 2022, foram registrados 5.754 casos, um aumento gigantesco quando compardos com os aproximadamente 1300 casos em 2020. Até 2016, o fungo havia sido detectado em apenas 4 Estados americanos, já em 2020 o registro já tinha sido feito em 19 estados.  

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil não havia relato de nenhum caso de infecção por Candida auris até janeiro de 2020, quando foi registrado uma otomicose (infecção no ouvido) em um paciente em Salvador - Bahia, dando início ao 1º Surto (dezembro de 2020 15 casos e 2 mortos). O segundo surto, também na Bahia, foi de um caso em 2021. Após a Bahia, Pernambuco registrou seu primeiro caso, e desde então Recife é o palco do 3º surto, o maior de todos no Brasil, com mais de 50 casos confirmados desde novembro de 2021.

Agora, podemos dizer que foi iniciado o 4º surto, acontecendo na cidade de Campinas - SP. Foi o primeiro caso do superfungo no estado, com a presença de Candida auris em um paciente neonatal (bebê prematuro) do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). O relato aconteceu no dia 18/05/2023, e foi confirmado no dia 07/06/2023. Todos os hospitais, tanto da Bahia, quanto Pernambuco e São Paulo adotaram as metodologias de segurança necessárias para que seja evitada a disseminação do fungo.

Uma das hipóteses que está sendo estudada é a adaptação do fungo, que vivia na natureza, possivelmente em aves. Com o aumento das temperaturas médias globais, o fungo teve que se adaptar às maiores temperaturas, e isso pode ter causado uma seleção natural de diferentes populações do fungo, provocando uma evolução em direção à capacidade de infectar humanos. No entanto, mais estudos são necessários para testar a hipótese, e estes já estão sendo realizados por diferentes equipes ao redor do mundo.

Celso N.
Celso N.
Caruaru / PE
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Doutorado: Genética (Universidade Federal de Pernambucano)
Biologia - microbiologa, Biologia - imunidade, Fisiologia
Professor de biologia (médio e fundamental) e saúde (superior) com 15 anos de experiência. Doutor em genética, mestre em biologia molecular e celular.

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