Articulista detalha a receita de sucesso da funkeira Anitta.
Lançada em 2012, a carioca de 24 anos administra a própria carreira, é dona de números e de uma reputação digna de uma popstar internacional.
É a única brasileira no Social 50 da Billboard americana, um ranking que mede a popularidade de artistas nas redes sociais. Ela aparece em 15º lugar, na frente de Shakira (16º), Taylor Swift (23º), Beyoncé (30º) e Lady Gaga (36º).
No Youtube, seus vídeos oficiais somados aos enviados pelos fãs registram 2,5 bilhões de views (o mesmo que Justin Timberlake). No Spotify, é a quarta mulher mais ouvida desde que o aplicativo foi lançado no Brasil – a primeira é Rihanna.
Mas, qual a estratégia por trás de tudo isso? Eu arriscaria dizer versatilidade, co-branding, swarme sinceridade.
1) Anitta veio do funk, mas é uma artista totalmente VERSÁTIL. Canta sertanejo, pop, reggaeton e eletrônico. Em festivais, em boates e trios elétricos. Tem uma versão de shows para adultos e outra para crianças.
Com um cachê 80% menor que Weslley Safadão, Jorge & Matheus e Ivete Sangalo, sua estratégia de shows é pautada em volume e com isso, realiza uma média de 20 apresentações por mês, ampliando o número de admiradores.
A utilização de coreografias, letras simples e com excesso de repetições (tal como pode se observar em "Bang", "Essa mina é louca" e "Paradinha") também são ingredientes explosivos. Repetir ajuda a memorizar, enquanto as coreografias se transformam em uma fábrica de tutoriais (só de "Bang" são mais de 21.600 vídeos no Youtube em todo o mundo, sem contar as inúmeras aula de danças em academias).
2) CO-BRANDING é a união de duas marcas fortes para aumentar o valor percebido. E essa associação se torna ainda mais poderosa quando falamos de marcas que estão exponencialmente no topo.
Foram sete singles em menos de um ano, com ninguém menos que J Balvin, Maluma, Nego do Borel, Weslley Safadão, Simone & Simaria, Major Lazer, Pabllo Vittar e Iggy Azalea.
Somado a isso, a direção artística de Giovanni Bianco eleva a qualidade dos seus clipes e, consequentemente, das suas músicas. Diretor criativo da Vogue Itália, já assinou projetos para Madonna, Miu Miu, Dsquared2 e Steven Klein.
Dessa forma, Anitta não só valoriza o próprio funk, como passa a fazer parte de outros ritmos e linguagens mais aspiracionais, capaz de conversar com formadores de opinião do mercado fonográfico, da moda e do design; do mainstream ao público infantil (vide a estética lúdica de Bang e Essa mina é louca).
3) A cada novo single, Anitta provoca um verdadeiro SWARM. Utiliza uma estratégia cross channel, explorando todos os canais ao mesmo tempo, dando um tiro grande (e certeiro) de uma só vez.
Vamos analisar o caso de Paradinha, que foi lançada no dia 31 de maio e alcançou sete milhões de views em menos de 24 horas.
Começamos no dia 19 de maio, quando Anitta lança Switch com a rapperIggy Azelea. Em 20 de maio, o clipe vaza antes da estreia (estratégia ou não?) e, no dia 27, a brasileira se apresenta no programa de Jimmy Fallon, o mais importante talk show dos Estados Unidos.
Vale ressaltar que durante o mês de maio, Anitta ainda se manteve no top 10 do Spotify com dois hits, além de conseguir uma grande exposição midiática. Foi capa de três revistas de grande circulação nacional e deu entrevista em dois talk shows, um deles o programa Lady Night (em um dos episódios mais assistidos da temporada). Isso sem contar seu programa semanal, também no Multishow, Música Boa Ao Vivo.
Pegando carona em toda essa exposição, Anitta (estrategicamente) lança Paradinha, seu primeiro passo para a carreira internacional. A escolha do espanhol foi estratégica como forma de entrada no mercado latino (foco). Tudo muito bem pensado, planejado e com a assessoria de William Morris Endeavor - empresa responsável por cuidar das carreiras de Rihanna, Drake e Ben Affleck.
Além disso, Anitta já não era um nome "estranho" para os latinos, devido às parcerias com J Balvin, Maluma e a amizade com Lele Pons, digital influencer venezuelana que possui mais de 17 milhões de seguidores no Instagram e quase três milhões de inscritos no seu canal do Youtube.
No dia do lançamento de Paradinha, Anitta promoveu três coletivas de imprensa, nas sedes brasileiras do Google, do Facebook e do Spotify. Além de transmissões ao vivo nas redes sociais, utilizou gamefication recompensando o buzz criado pelos fãs com teasers do novo single.
A cantora também contou com a parceria de influenciadores que não só divulgaram, como também fizeram paródias com o seu novo hit. Destaque para Lele Pons, Hugo Gloss e Stefano Gabbanna.
Também participou dos principais programas de entretenimento do México (Tu Night e Funcíon) e foi a única brasileira a apresentar uma categoria no MTV Millennial Awards.
O resultado? Até o momento, Paradinha registrou quase 40 milhões de viewsno Youtube e 346 mil execuções diárias no Spotify, desbancando Despacito – que se manteve no primeiro lugar das paradas brasileiras por semanas.
E para completar, no dia seguinte ao lançamento de Paradinha, Anitta apresenta mais um single com Major Lazer (músicos eletrônicos que já fizeram parcerias com Justin Bieber e Ed Sheeran) e Pabllo Vittar (cantora e drag queen, com mais de 21 milhões do clipe "Todo dia" no Youtube), conquistando o 3º lugar nas músicas mais ouvidas do Brasil pelo Spotify.
4) Por fim, o quarto elemento que fortalece Anitta como marca é sua SINCERIDADE. Anitta fala. Anitta faz.
É um camaleão, mudando de visual e mostrando que cada um é responsável pela própria beleza. Levanta causas, como o empoderamento feminino, em suas roupas, apresentações e suas letras. Exalta a diversidade, valorizando gays e modelos plus size em suas apresentações. Expõe suas opiniões de forma natural e direta nos assuntos mais polêmicos: o excesso de plásticas, a liberdade sexual e o vício em comer são alguns exemplos.
Com isso, cria identificação com diversos grupos, aumenta a empatia em torno da sua pessoa e, consequentemente, o número de admiradores.