AS TRANSFORMAÇÕES NA ESTRUTURAL URBANA E SOCIAL DE SÃO PAULO
Por: Diego Z.
06 de Março de 2017

AS TRANSFORMAÇÕES NA ESTRUTURAL URBANA E SOCIAL DE SÃO PAULO

Arquitetura Problemas

São Paulo se configura como uma metrópole de essencial importância para o Brasil em seu liame econômico nos diversos mercados de capital em colaboração com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. No limiar da década de 50, a criação de polos econômicos aflorou a promoção do desenvolvimento regional objetivando a melhoria financeira do Brasil acelerando o processo de urbanização e as modificações dos meios usuais de trabalho. O êxodo rural modificou a configuração da metrópole, incluindo neste novo cenário, trabalhadores advindos de sistemas agrícolas, portanto manuais, envoltos no sistema fabril, criado para acelerar o processo de industrialização brasileira que se deu de forma tardia, no início da década de 30.

O investimento dado através do setor secundário pelo governo criou condições de ascensão econômica ao Brasil, modificando a concentração urbana fomentando a chamada macrocefalia urbana. Neste ponto, entendemos a normalidade da criação do espaço urbano quando analisamos Custodio, quando diz:

“A urbanização é um processo social complexo caracterizado pela intensificação das relações sociais e pela necessidade de infraestruturas, física e social para garantir a produção, a circulação, o controle e decisão, e o consumo da vida urbana. As atividades projetadas cristalizam-se como linhas, pontos e áreas no meio físico-natural, que é, assim, transformado por elas e para elas de modo tão intenso quanto mais intenso for o processo [...]. Materializa-se na forma cidade, que é caracterizada pela aglomeração e adensamento de edificações e população não agrícola sobre uma base física restrita, historicamente possível quando ocorreu o sedentarismo humano, ou seja, o domínio sobre uma parcela do meio físico-natural, a produção de um excedente agrícola no campo, uma complexa divisão do trabalho com as classes sociais respectivas e a instituição de um poder urbano.”. (CUSTÓDIO, 2012, p. 43)[1].

            O setor industrial possui uma forte influência para São Paulo, porém, nesses últimos anos, por causa do pouco investimento estatal, as empresas que em São Paulo desenvolviam suas atividades, foram obrigadas a mudarem para outras regiões a procura da proximidade em relação a matéria prima e preços menores para financiamento de suas laborações. Por este motivo, as transformações urbanas e na atividade humana sofreram alterações novamente pois, anteriormente havia uma necessidade de mão de obra para abastecer o setor secundário em seus diversos seguimentos e, após a mudança, exige-se uma maior especialização que culmina no desemprego e a aceleração dos subempregos.

As divisões sucessivas do trabalho ensejam uma determinada disposição dos objetos geográficos, dando-lhes a cada momento um valor novo. As novas divisões do trabalho vão, sucessivamente, redistribuindo funções de toda ordem sobre o território, mudando as combinações que caracterizam cada lugar e exigindo um novo arranjo espacial (SANTOS, 1994, p. 125-127)[2].

Neste sentido, o espaço urbano de São Paulo vai se transfazendo em desordem à medida que ocupa uma vital importância econômica mesmo frente a queda em dez anos de 7,7%, produzindo assim em 2011 31,3% do PIB nacional[3], conforme noticiado pelo IBGE.  Desordem esta causada pela excessiva aglomeração na capital por migrantes de outros estados brasileiros que visão uma melhoria da qualidade de vida e de indivíduos que advém de outros países como o Haiti que por causa de desastres naturais e da falta de condições de sustento se sentem atraídos pelo Brasil e auxiliam na modificação do nosso espaço urbano.

A migração internacional é, sobretudo, um mecanismo construtor de redes. Uma vez iniciada pelo recrutamento de trabalhadores ou outros fenômenos ativadores, o movimento cria uma rede de laços sociais a longa distância. O crescimento de tais laços sociais faz com que a decisão de transladar-se seja cada vez menos custosa, já que reduz a incerteza e os perigos da viagem para os imigrantes mais recentes. (PORTES, 2001, p.10, tradução COUTINHO, 2011[4]).

Neste fator, a cidade de São Paulo presencia vez após vez uma modificação social em seu espaço, recebendo culturas e formatos étnicos característicos, fortificando a miscigenação entre os seus habitantes. Mas, surge uma questão vital: onde esses novos habitantes irão morar? Os espaços são divididos em meio a divisão social e para estes menos privilegiados restam os morros e escarpas do urbano paulista, as chamadas favelas, termo usado para designar as casas que se pareciam aos favos de abelha na época colonial. Sendo assim, para Costa (1865)[5] “há uma parte de nossa população pobre, que, fugindo do centro da cidade (velha) onde as casas são mais caras, vai habitar os arrabaldes ou mesmo as montanhas situadas no coração da cidade.”.

Subentendendo as transformações no espaço urbano paulista, testemunhamos o processo efêmero arquitetônico em que a cidade de São Paulo foi submetida nessas últimas décadas estando sempre atrelado ao processo de desenvolvimento econômico na sua conjuntura nacional. Desde sua formação em 25 de janeiro de 1554, em que a vila de Piratininga se tornou a cidade de São Paulo (homenagem ao apostolo Paulo, da bíblia referindo-se ao trabalho dos jesuítas católicos que fundaram esta região através de uma escola que hoje conhecemos como o Pateo do Colégio), nota-se mudanças de objetivos urbanísticos elencados aos interesses da burguesia em seu papel construtor da região. Por aqui, já passaram reis em sua jornada por poder, os bandeirantes em busca de riquezas (grupo que se aventuram em busca de ouro e escravos indígenas, ultrapassando o Tratado de Tordesilhas, assinado anos antes em 07 de junho de 1494 entre o Reino de Portugal e a recém-formada Coroa da Espanha para a divisão das terras fora da Europa partindo, de modo simbólico, o Brasil em Leste e Oeste, ficando a costa Leste para os portugueses, incluindo a região Sudeste. Assim que os Bandeirantes invadiam as novas terras “desconhecidas” aos portugueses, novos territórios iam sendo anexados ao Brasil até que, em 13 de janeiro de 1750, este Tratado entrou em colapso e um outro foi estabelecido – Tratado de Madrid.). Citando os objetivos dos Bandeirantes, Vieira diz:

Os bandeirantes realizavam ataques às missões jesuíticas, que culminavam com a sua destruição ou transferência. Nestas investidas, indígenas eram aprisionados para serem utilizados como mão-de-obra, visto que durante o período da União Ibérica, devido à invasão do nordeste brasileiro pelos holandeses, o comércio de escravos africanos desarticulou-se, gerando falta de mão-de-obra. (VIEIRA, 2000, p.19)[6]

Em 1815 a cidade de São Paula passa a ser considerada uma metrópole e apenas 12 anos após, instala-se a primeira Faculdade de Direito no Largo de São Francisco.  Todo este processo histórico faz com que a grande metrópole se modifique quanto sua estrutura. Entenda analisando o organograma abaixo:

Podemos perceber que o arquitetônico de São Paulo está atrelado ao seu desenvolvimento. Neste tocante, podemos então mencionar os problemas que este desenvolvimento trouxe para os habitantes desta grande metrópole: o desemprego. O sonho nordestino, em meados dos anos de 50, era oportunizar o momento do crescimento industrial a melhoria de vida e, por este motivo muitos deles vieram a São Paulo. Porém, quando as industrias saíram da capital paulista, muitos deles ficaram e, na busca de novas oportunidades, o subemprego aumentou. Atualmente temos muitos que sobrevivem pelo comercio ilegal dentro dos trens e ônibus. Neste sentido, criam-se a informalidade dos meios de trabalho que, segundo Cacciamali (2000, p. 163)[7] refere-se “à análise de um processo de mudanças estruturais em andamento na sociedade e na economia que incide na redefinição das relações de produção, das formas de inserção dos trabalhadores na produção, dos processos de trabalho e de instituições”. E de acordo com a legislação do município de São Paulo:

Considera-se vendedor ou prestador de serviços nas vias e logradouros públicos, reconhecido como ambulante, a pessoa física, civilmente capaz, que exerça atividade lícita por conta própria ou mediante relação de emprego, desde que devidamente autorizado pelo Poder Público competente (SÃO PAULO, MUNICÍPIO, 1991).[8]

Também, no tocante dos meios de transporte, houve a necessidade de uma reformulação. O urbano ficou dividido em duas partes: dormitórios e trabalho. Os bairros dormitórios são aqueles que servem para os trabalhadores repousarem (cerca de 8 horas por dia de trabalho), pois, ao levantar de um novo dia, seus habitantes precisam sair para se dirigirem ao espaço de trabalho. Nesse eles passam a maior parte de seu tempo, cerca de 8 horas por dia, 5 a 6 dias por semana. Mas, não podemos esquecer do tempo gasto em média no translado do bairro dormitório para o espaço de trabalho. Se considerarmos um trabalhador que mora no extremo das zonas paulista e trabalha em áreas de concentração como a avenida Paulista, Brás, Pinheiros, Morumbi e outras temos uma média de 3 a 4 horas dentro do transporte.

 Portanto, os meios de transportes precisam fazer parte do planejamento político para o urbano de São Paulo, pois quanto menos tempo se leva ao trabalho e na sua volta para os bairros dormitórios, mais tempo o descanso se acentua melhorando a qualidade de vida dos paulistas diminuindo o gasto com a saúde do trabalhador. Podemos dizer que o modelo que temos atualmente não é capaz de satisfazer os anseios de crescimento de São Paulo, mesmo que se tenha muitas linhas e ônibus circulando numa malha infinita de pontos e paradas.

 

 

 

[1] CUSTODIO, V. Dos surtos urbanísticos do final do século XIX ao Plano de Avenidas. Revista Geosul (UFSC), Florianópolis, v. 38, p. 1-19, 2004. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/13433/12330. Acesso em: 11 agosto de 2016.

[2] SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade. São Paulo: Hucitec /Educ, 1994.

[3]Alexandro Martello. SP continua na liderança do PIB industrial, mas perde participação. G1 – Economia. Publicado em 06/11/2014. Brasilia.

[4]PORTES, A. Inmigración y metrópolis: Reflecciones acerca de la historia urbana. Migraciones Internacionales, Mexico, v.1, n.1, p.111-134, 2001 tradução COUTINHO, Beatriz. Imigração laboral e o setor têxtil-vestuário de São Paulo: notas sobre a presença boliviana nas confecções de costura. Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, Araraquara, v. 4, n. 1, jul/dez. 2011.

[5] COSTA, A. Corrêa de Souza (1865). Qual a Alimentação que Usa a Classe Pobre do Rio de Janeiro e Sua Influencia sobre a Mesma Classe, Rio de Janeiro, Typ. Perseverança.

[6] VIEIRA, Carina Santana. As relações cotidianas na zona fronteiriça: o caso da colônia do Sacramento. (monografia) Rio de Janeiro: UFRJ/ IFCS, 2002

[7] CACCIAMALI, M. C. Setor informal urbano e formas de participação na produção. São Paulo: IPEUSP, 1983.

[8] SÃO PAULO (Município). Lei n. 11.039, de 23 de agosto de 1991. Disciplina o exercício do comércio ou prestação de serviços ambulantes na vias e logradouros públicos do Município de São Paulo.

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