Por que a Amazônia é tão importante para o Mundo?
Por: Felipe A.
08 de Outubro de 2019

Por que a Amazônia é tão importante para o Mundo?

O que está por trás do debate?

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Imagem aérea do desmatamento na Floresta Amazônica, em 22 de setembro de 2017 / CARLA DE SOUZA / AFP

Este é o primeiro de uma série de três textos em que abordo a Amazônia de diferentes perspectivas. A ideia aqui é debater e pensar a importância da Amazônia enquanto discurso e objeto político, e não entrar em questões específicas de biologia, ecossistema e meio ambiente. Meu objetivo aqui é pensar a Amazônia como um lugar político, como um discurso, como objeto de disputa numa perspectiva “macro”, que envolve os Estados Nacionais. Tudo começa com o fatídico dia em que São Paulo ficou escura por conta das cinzas de queimadas e se desdobrou em mobilização em redes sociais, faíscas entre Bolsonaro e Macron e revela muito sobre o que representa o meio ambiente para o mundo hoje. Mas para entender o que isso significa é precisa falar daquilo que é base para toda essa discussão: Globalização.

A globalização é definida pelo sociólogo Anthony Giddens, como “a intensificação de relações sociais mundiais que ligam localidades distantes de modo que acontecimentos locais são influenciados por eventos ocorridos a muitas milhas de distância e vice-versa” (As consequências da modernidade, Ed. da Unesp, 1991). Diversas formas de globalização já ocorreram na história, o período colonial é um exemplo, entretanto, o que acontece hoje é de uma escala muito maior. Nunca estivemos tão conectados como agora, e não estou apenas falando de internet e noticiais, a economia está mais dependente do que nunca, assim como a cultura, a moda, a indústria cultural, a música, e por ai vai. A crise de 2008 é um exemplo de interdependência econômica pois, uma crise imobiliária e financeira nos EUA foi capaz de balançar a economia de todo o mundo e tem seus efeitos até hoje, onze anos depois (para saber mais sobre os efeitos da crise ainda hoje, leia esta matéria).

Mapa criado a partir dos dados do FMI, em Dez de 2008, mostrando a abrangência da crise

Acontece que, para além da interdependência, a globalização atinge uma das bases da política moderna: o Estado Soberano Democrático. Como não quero deixar este texto muito grande, vou falar rapidamente sobre esta questão. O que basta entender aqui é que o Estado como forma de governo moderno, tem como base a soberania em seu território e está diretamente ligada a manutenção de poder do soberano, seja um estado monárquico seja um estado democrático. E acontece que a globalização gera algumas questões que são globais e não está na alçada de nenhum Estado Nacional resolver. Talvez a questão mais global de todas, é o meio ambiente, seu uso e sua manutenção. Isso porque as questões ambientais não respeitam fronteiras: não basta que um país tenha sua floresta preservada se o país vizinho é o maior emissor de poluentes. Certamente o meio ambiente do primeiro país será afetado pelas ações do segundo país.

É ai que chegamos na questão da Amazônia. O que acontece no Brasil afeta o ecossistema como um todo e, portanto, é uma questão global. Mas como eu disse mais acima, o objetivo aqui não é pensar sobre o quanto as queimadas são relevantes, o quanto aumentaram ou não, me interessa aqui pensar o uso que se faz disso. No caso, o presidente francês, Emanuel Macron, se utilizou do fato para criticar Bolsonaro e o Brasil, servindo como motivo para ameaças a outros acordos políticos e econômicos. Também entraram no jogo Alemanha e Noruega, principais investidores do Fundo Amazônia, dinheiro captado para prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e preservação da floresta (Saiba mais sobre o Fundo Amazônia nesta matéria do Nexo Jornal). Mais do que a benevolência em relação ao meio ambiente e o futuro do mundo, está em jogo disputas políticas internacionais, acordos e relações.

Os dois presidentes durante encontro do G20 em Osaka. Jun, 2019. JACQUES WITT (AFP)

Bolsonaro por outro lado tem construído um governo ideológico em relação ao meio ambiente. Tanto seu Ministro de Relações Internacionais, Ernesto Araújo, como o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acreditam que as questões relacionadas ao meio ambiente e, principalmente, o Aquecimento Global, são falsas. Tal posicionamento está diretamente ligado aos think tanks estadunidenses, considerados responsáveis pela saída do país do Acordo de Paris (leia mais aqui). Salles visita neste dia 19 de setembro o CEI, Instituto Empresarial Competitivo, que ostenta em seu site oficial posições contrárias ao aquecimento global e ao perigo dos canudos de plástico para tartarugas marinhas.

“Mas por que ele faz isso?” A resposta mais simples seria: Para defender a indústria agropecuária brasileira, os famosos ruralistas, parte importante da economia do país e também constituidora de uma elite política e social, e que constitui apoio ao presidente. Poderia ser, se não houvesse parte dessa indústria que prescinde de controles ambientais para continuar vendendo ao exterior. Diferente do que muitos imaginam, os ruralistas não são uma classe assim tão unida e ainda mais sob o governo Bolsonaro, muitas questões os dividem. Para fins didáticos, podemos entender que o setor da agroindústria pode ser dividido em um setor mais industrial, formado pelos produtores de soja, cana, papel e celulose, e outro setor mais conservador, encabeçado pela UDR, a União Democrática Ruralista (se quiser saber mais, recomendo está matéria). De grosso modo, podemos dizer que o setor mais conservador apoia mas as ações do atual presidente do que o outro setor. O que está em jogo, portanto, vai além tem a ver com o nosso debate: a Globalização.

O efeito da existência da Globalização, no campo econômico, é financeirização do mundo e o capital sem nacionalidade. Entretanto, isto se torna nefasto aos países que tentam se proteger de indústria internacionais com preços mais baratos. O que fica em jogo é que os produtos não são competitivos, o que pode gerar um enfraquecimento da economia, taxas de desemprego. Por exemplo, se a China, com leis trabalhistas mínimas, produz uma mercadoria que é vendida no Brasil mais barata do que a nacional, a indústria nacional fica afetada. Em países do primeiro mundo a questão é outra, são as pessoas que buscam circulação do mesmo modo que o capital e as mercadorias, e temos as crises migratórias. Ou ainda, o Brexit, a saída do Reino Unido da União Européia, que, apesar de votada, se mostra cada vez mais difícil de se realizar. O que Bolsonaro está fazendo, portanto, é uma entre tantas outras resposta às controvérsias da Globalização. Suas ações parecem tortas e muitas vezes opostas, mas é porque a própria situação contemporânea também é.

Theresa May, Primeira Ministra do Reino Unido, em seu ultimo discurso antes de abandonar o cargo sem realizar o Brexit. 24, Jul, 2019

Quero deixar claro que não estou defendendo o posicionamento do presidente, mas estou mostrando que a questão não é tão simples como parece. E, diferente do que muitos pensam, suas ações não são apenas idiotices, mas fazem parte de uma guinada ideológica que acontece pelo mundo todo, com movimentos de ultradireita que questionam a ciência, o modelo de vida ocidental e democracia liberal, colocando todas esses fatos, aparentemente tão consolidados no mundo, em xeque.

Assim, o que está em jogo quando se fala em Amazônia, é menos a floresta em si e mais as grandes questões da política internacional contemporânea. Se muitos postaram nas redes sociais hashtags em prol da floresta, pouco sabem que apenas fazem parte de um jogo político de pressões entre diferentes atores internacionais. Ou seja, a Amazônia é apenas um objeto de todas essas relações. O que muitos ambientalistas defendem é que, em algum momento, o que nós chamamos de Natureza, se tornará sujeito e se tornará cada vez mais ativa e menos submissa.

Espero que com isso, você possa olhar a questão ambiental com mais profundidade. Certamente não respondi por completo a pergunta titulo deste artigo, entretanto acredito que fiz uma exposição para que você possa partir para pesquisas e estudos mais aprofundados sobre o tema. Comente ai embaixo se gostou ou não deste texto, se discorda ou concorda com algo e se quer que eu fale sobre algum outro tema. Compartilhe nas suas redes sociais para gerar cada vez mais debates construtivos.

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Felipe A.
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Graduação: Ciências Sociais - Bacharelado e Licenciatura (Universidade de São Paulo (USP))
Sociologia e Atualidades para todos os níveis com professor formado pela USP
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