Redes Wireless – A banalização dos profissionais especialist
em 23 de Agosto de 2016
A morosidade da implementação do IPV6 demonstra que a Tecnologia da Informação ainda é vista somente como despesa por muitas empresas e organizações.
Desde 1984, a internet utiliza o padrão ou protocolo de endereçamento IPV4. Fazendo uma analogia aos não conhecedores, IPV4 é o formato do endereço lógico que seu computador possui em uma determinada rede. Em 1984 a Apple lançava seu primeiro Macintosh, Michael Jackson transforma-se no Rei do Pop, o Brasil vivia o movimento das “Diretas Já” liderado pelo eterno Ulysses Guimarães além de outros fatos marcantes que demonstram quão antigo é o padrão IPV4.
O endereço IPV4 possui um tamanho lógico de 32 bits, separados em 4 grupos de 8 bits cada. Fazendo contas simples, o IPV4 gera 2^32 endereços, ou seja, pouco mais de 4,2 bilhões de endereços possíveis. Pode-se dizer que é um número considerável? Talvez a alguns anos atrás sim, mas nos dias atuais não! Considerando que o planeta possui mais de 7 bilhões de pessoas e muitas possuem mais de 3 dispositivos eletrônicos passíveis de possuir um endereço já não é o suficiente. Para frear o esgotamento dos endereços IPV4, foi adotado o NAT (Network Address Translation) que esconde os IP’s em redes locais, possibilitando a repetição dos mesmos. Porém esta técnica não é suficiente para resolver todos os problemas causados pelo esgotamento do IPV4, além de anular iniciativas de inclusão digital no mundo.
Então, em 1993, a Internet Engineering Task Force (IETF®), uma comunidade internacional com o objetivo de melhorar a arquitetura da internet, iniciou o estudo do IPV6. O IPV6 possui um formato com tamanho de 128 bits, ou seja, 2^128 possíveis endereços. Fazendo contas agora não muito simples, o número de endereços possíveis com o IPV6, para cada ser humano na Terra é maior do que o número de estrelas no universo conhecido (49 nonilhões de endereços possíveis para cada ser humano). Bastante coisa não?
O fato é que não somente em números traduzimos a melhora com o IPV6. Haverá mais segurança, maior velocidade e principalmente mais possibilidades de enfim, tornar o mundo mais digital, onde qualquer coisa pode possuir um endereço válido na internet podendo desta forma comunicar-se diretamente com qualquer outra coisa. Um exemplo simples, uma caixa de leite em sua geladeira lhe avisará diretamente via internet que está vencida.
E porquê, em pleno século 21, ano de 2016 ainda não temos IPV6 em nossas vidas? Porque as organizações ainda não implementaram IPV6 em suas infraestruturas? Porque os provedores de internet ainda não distribuem IPV6? São muitas perguntas que convergem para a mesma resposta: A tecnologia da informação ainda é vista como gasto e não investimento por muitas organizações!
É como explicar algo técnico a alguém não técnico. Esforça-se ao máximo, faz-se analogias, traduz-se em números, comprova-se a importância e os líderes empresariais parecem querer não entender propositalmente a necessidade de investir nesta implementação. E enquanto isso a urgência da substituição do IPV4 torna-se cada vez mais urgente.
Os principais motivos da não implementação, são:
“Em time que está ganhando não se mexe” – Velha e boa frase para justificar a acomodação.
“Não podemos parar o negócio em algo não justificável” – Primeiro que não é uma justificativa, mas sim uma necessidade que se tornará uma obrigação. Caso não se “pare o negócio” por bem se parará por mal.
“Não temos verba para este investimento” – Fato é que para uma implementação de IPV6 em uma organização haverá necessidade de investimento financeiro. Mas quanto? Antes de saber algum valor ou mesmo o retorno financeiro que pode ser obtido com o IPV6 já se coloca o NÃO na mesa de reunião.
Pode-se citar vários outros “motivos” para a morosidade da implementação do IPV6, mas parece bem claro que tudo se resume em uma questão de não querer entender a real necessidade com argumentações controversas e retrógadas. O que prova que ainda temos líderes empresariais que não valorizam o setor de TI.
Em pesquisa recente, o Google mostra que desde 2009, quando o IPV6 começou a ser oficialmente implementado, apenas cerca de 13% dos usuários no mundo acessam o Google via IPV6, número concentrado nos países mais desenvolvidos no mundo.