A Beleza e os Estilos da Caligrafia Árabe
Por: Erike L.
07 de Abril de 2020

A Beleza e os Estilos da Caligrafia Árabe

Árabe Caligrafia Árabe

Estudo e ensino uma das línguas que considero mais bonitas, tanto em riqueza de vocábulos quanto na escrita: o árabe. Idioma pertencente ao ramo das línguas semíticas (mais especificamente da família semítica ocidental), ela é uma língua dinâmica e atual, falada (de acordo com Ethnologue) como língua nativa por cerca de 221 milhões de pessoas. Após a expansão do Islam, apartir do séc. VII d.C, passou a ser a língua religiosa de 250 milhões de mulçumanos ao redor do mundo. Um dos motivos para este status dado ao árabe foi sua utilização na escrita do Qurãn (ou Alcorão)1, livro sagrado do Islam.

 

Os árabes que aderiram ao Islam se restringiram de representar seres humanos ou animais em desenhos ou esculturas, temendo que isso pudesse ser tomado por idolatria ou representações da realidade que poderiam ser postas no lugar da adoração a Deus. Por isso, eles desenvolveram uma complexa (e exuberante) arte caligráfica, que seria usada como adorno e decoração nas mesquitas2 ao redor do mundo.

 
 
 
 
 
 
 
(Fig. 1: Frases em árabe adornando medalhões suspensos no interior da mesquita de Santa Sofia, em Istambul, Turquia)
 
 
 
 

Como resultado de mais de 14 séculos de desenvolvimento, a caligrafia árabe se tornou uma arte que exalta, de uma só vez, o apreço árabe pela literatura, pelo expressão do pensar (através da escrita) e pela fineza e delicadeza dos traços, que ganham vida, expressando aquilo que está escrito sob a forma de belos desenhos e formas, mesmo diante do olhos do ignorante da língua árabe.

 

Costumeiramente, os desenhos ou frases estilizados, incrustados nas muros nas cidades e vilarejos do Oriente Médio, são versículos ou ditos do Alcorão, confissões de fé (como o Basmallah ou a Shahadah) ou máximas árabes. Algumas destas pinturas em mesquitas são compostas por textos inteiros, cujas palavras são entrelaçadas de formada complexa ou altamente simétrica, cuja beleza pode ser equiparada, por exemplo, com os afrescos existentes na Capela Sistina, no Vaticano (guardando as diferenças entre as artes no Ocidente e no Oriente, claro!).

 

Apesar de não entender muito de caligrafia árabe, sou um profundo admirador dessa arte carregada de beleza e que expressa, sob a forma de letras, riscos e linhas, feitos de uma cultura milenar. Por isso, decidi postar este pequeno comentário sobre a caligrafia árabe.3

 

Os calígrafos árabes dividiram em grupos os estilos de escrita utilizados para o delineamento desta arte das letras.

O primeiro é o estilo cúfico. É o mais antigos dos estilos de escrita árabe. Ele leva este nome por causa da cidade de onde ele foi difundido, Kufa, no Iraque, cuja fundação remonta à época de Maomé, no século VII d.C.

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(Fig. 2: Página do Qurãn do século XI d.C em escrita cúfica)
 
 
 
 

O Thuluth (“terceiro”) é o estilo que foi mais utilizado em monumentos, mesquitas e edificações em todo o mundo árabe. Desenvolvido principalmente a partir do século XI d.C, não se sabe ao certo porque ele leva este nome. Supõe-se que advenha do fato que a proporção das letras, quando comparadas com o estilo anterior, cúfico, seja três vezes maior.

Saudi Arabia Flag
 
 
 
 
 
 
(Fig. 3: Bandeira da Arábia Saudita: A Shahadah escrita em estilo Thuluth)
 
 
 
 

O estilo que é uma evolução direta do anterior e que teve o uso irrestrito em diversas cópias do Qurãn foi o Naskh. Seu nome, a propósito, significa justamente isso: cópia. Isso porque sua escrita é a escrita do Thuluth suavizada para a escrita à mão, para que fossem feitas as cópias do livro sagrado do Islam.

 
 
 
 
 
 
 
(Fig, 4: Página da primeira sura do Qurãn, Al-fatiha, em escrita Naskh)
 
 
 
 

Por fim, o estilo denominado Nasta’liq (ou Taliq) foi o que mais gerou frutos em seu uso fora do mundo árabe. Desenvolvido por volta do séc. X na Turquia, este estilo foi incorporado, e levemente modificado, por diversas línguas que passaram, depois da expansão do Império Islâmico, a utilizar o alfabeto árabe. Entre estas línguas, estão o urdu e o farsi. Ele é caracterizado por traços rápidos e leves, que acompanham os movimentos da mão quando escrito.

Ficheiro:Nasta'liq script 2.jpg – Wikipédia, a enciclopédia livre

 
 
 
 
 
 
 
(Fig. 5: Texto escrito em Nasta’liq)

 

 

Veja abaixo alguns exemplos de caligrafia árabe sob a forma de desenhos e formas, exuberantemente desenhadas, que falam por si só:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 







Notas:
 
 
 
 
1) Lit. “recitação”, é o nome do livro sagrado da religião islâmica, sendo considerado a última revelação dada por Deus (Allah em língua árabe) à humanidade por intermédio de Maomé (Muhammad), no início do século VII d.C.
 
2) Em árabe, masjid, lit.: “local de adoração”: nome dado ao local de reunião comunitário para preces na religião islâmica.
 
3) Tomei como base as informações encontradas no site http://www.arabiccalligraphy.com/ac/ (acessado em 01/08/09 às 21:00h).
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Erike L.
São Paulo / SP
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Doutorado: Letras Clássicas (Grego) (Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG))
Leciono hebraico, aramaico e grego bíblicos! Leia, estude e compreenda a bíblia em suas línguas originais! Leciono também outras línguas antigas.
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