Nise: O coração da loucura

 O filme Nise: O coração da loucura já começa nos mostrando a dificuldade que Nise enfrentaria para ser ouvida na época.  A primeira cena é ela tendo que esmurrar a porta do hospital psiquiátrico para que abram a porta, e logo após é mostrado uma reunião de médicos contando novos experimentos e métodos usados na psiquiatria. 

        Os métodos utilizados na época, como por exemplo a lobotomia e a indução de convulsões eram cruéis e Nise se mostra abismada em como os pacientes do hospital são tratados. 

        Logo após essa cena, Nise conta ao diretor do hospital que não conseguiria realizar esses métodos esperados, pois não acha que o caminho para a cura psicológica seria através de um picador ou agressões, e ele diz então, que ela será encarregada de uma ala que está largada a um tempo e não parece ter importância. 

       É aí então que começa o trabalho de Nise na ala de terapia ocupacional, mas, antes de poder atender os pacientes, ela precisa limpar toda a sala e retirar os entulhos que lá estavam. A ala de terapia ocupacional, antes da chegada da doutora, era comandada por enfermeiros, - e esse fato já gerava a impressão de que não era algo importante -  Ivone e Lima, que de começo já estranhava toda a maneira que Nise agia. 

      No início, ela deixa os pacientes livres na sala, sem propor nenhuma atividade, apenas deixando eles fazerem o que quiser e tratando eles de maneira humana, coisa que não acontecia naquele local. Após um tempo, com a ajuda de outras pessoas, Almir e Marta, Nise consegue fazer da ala ocupacional um atelier de arte, e os clientes conseguiam fazer pinturas, esculturas e outras formas de arte. 

        Com o tempo, os pacientes que antes eram violentos, confusos e não conseguiam se comunicar, conseguem, através da arte, mostrar um pouco de seu mundo, vontades e experiências vividas. As obras ali criadas são incríveis, tanto de complexidade quanto de qualidade artística, tanto que no filme até um crítico de arte se mostra surpreso em como os clientes, enfermos e sem acesso a esse tipo de conteúdo cultural, conseguiram reproduzir técnicas tão difíceis.

       No filme, também, mostra a parte em que Nise manda as obras feitas no atelier para Jung, junto com uma carta agradecendo ao mestre pela ajuda que ela tem encontrado em seus livros e logo após, ele responde a carta, a parabenizando pelo incrível trabalho.

        Nise: o coração da loucura é um filme incrível, com atores reconhecidos e que mostra de forma leve, como foi a trajetória difícil de Nise para humanizar a psiquiatria, que estava tomando caminhos tão violentos. Para conseguir tratar de tantos pacientes, a doutora usou de um pincel, em tempos em que cortadores de gelo foram cogitados como tratamento. Além das dificuldades que Nise passou por ser mulher, ela também enfrentou obstáculos por ter um discurso que na época da ditadura era considerado de esquerda. Mesmo assim, com tantos empecilhos, ela consegue montar uma ala de terapia ocupacional que serviu de refúgio para os pacientes, e conseguiu mostrar para a psiquiatria uma alternativa mais humanista para o tratamento psicológico.