O Erro Central dos Vestibulandos e Concurseiros
em 02 de Janeiro de 2023
Frequentemente recebo de diversos alunos a seguinte questão: qual é a diferença entre moral e ética? E sabe o que é mais interessante? Para nós, filósofos, essa é uma questão muito pouco discutida, embora para o público em geral seja fonte de muita curiosidade e interesse.
O fato é que, em toda a história da Filosofia, ambos os termos foram empregados, no mais das vezes, como sinônimos. Isso mesmo: não há qualquer diferença substancial entre ambas as ideias, desde Aristóteles até os dias atuais, como para a filósofa contemporânea Alice Crary. A única diferença clara entre as palavras é, de fato, uma diferença de origem linguística: enquanto ética é uma palavra de nascente grega, cujo sentido original era modos de ser ou caráter, moral tem raiz latina, referindo-se a costumes.
Entretanto! Nos últimos séculos as palavras começaram a, de fato, buscar campos semânticos próprios e distintos entre si. É por essa razão que, frequentemente, observamos dicionários e até mesmo pesquisadores de outras áreas que não a Filosofia definindo moral enquanto o conjunto de regras e hábitos morais nutridos por uma sociedade específica, num momento histórico específico, enquanto que a ética seria a reflexão filosoficamente guiada sobre costumes morais. A grande questão aqui é: qual a vantagem de utilizar esse par conceitual (ética-moral)?
Aparentemente, para o filósofo, nenhuma! Pois é evidente que o seu método de investigação é crítico, ‘questionador’ e filosófico. Por conta dessas e outras razões é que, no século passado, uma distinção conceitual muito mais poderosa e eficiente foi criada, a saber, a distinção entre ética normativa e metaética.
Então, recapitulando: um dos muitos objetos da Filosofia é a ética, ou moral, pois trata-se do mesmo assunto, o mesmo objeto de pesquisa. Este objeto de pesquisa, por sua vez, pode ser dividido em dois grandes campos: da ética normativa e da metaética. Como ficará rapidamente claro, essa distinção é bastante útil, principalmente, pois estrutura, organiza as muitas e distintas questões envolvidas na filosofia moral.
Comecemos com ética normativa. As questões fundamentais dessa sub-disciplina são: o que devo fazer, o que é o bem, qual caráter devemos nutrir etc. Eis a razão do título da sub-seção: a tarefa do filósofo moral, em ética normativa, é construir teorias que nos mostrem qual norma é a mais adequada.
Já a metaética trata de outro conjunto de questões mais abstratas. Em resumo, a metaética é o estudo dos elementos mais fundamentais e basilares da moralidade. Para o ‘metaético’, pouco importa conhecer quais são os deveres que devemos seguir, porque essa é uma investigação mais concreta. Para ele, é muito mais interessante e necessário compreender, antes, se existe moralidade, por exemplo. E o que isso significa? Significa que, independente da norma particular prescrita pela mesma, a moral possui um estatuto a ser descoberto. Tal estatuto ou característica fundamental, por exemplo, é se ela é algo inventado pelos humanos ou algo conhecido por eles. No caso de invenção, a ética, em si, existe apenas enquanto artefato, algo contingente e até mesmo arbitrário, pois é produto da natureza humana. No caso de descoberta, então talvez estejamos diante de algo que realmente possui uma autoridade sobre nós, pois dessa forma a ética seria objetiva.
Acredito que tenha ficado claro que através dessa distinção a filosofia foi capaz de delinear com mais clareza os diferentes tipos de questões e investigações presentes na ética. Vale lembrar, também, que a caracterização que fiz aqui é bastante resumida, mas é o bastante para a gente ter uma ideia do sentido dos termos.
Espero que tenham gostado! Qualquer coisa é só chamar!
Muito esclarecedor. Obrigada !