Le Petit Prince
em 26 de Agosto de 2015
O Verlan é uma maneira de se expressar em língua francesa caracterizada pela inversão da posição das sílabas ou das letras da palavra. O nome vem de l’envers (pronunciado lanver), que significa “o inverso”. O Verlan, à grosso modo, é um conjunto de gírias, ou um método de criação de novas gírias.
A forma verlanizada é utilizada geralmente por jovens, em sua maioria franceses, e se comparada com outros fenômenos mundo afora, seria como a introdução da gíria no vocabulário formal, uma espécie de movimento criado para contestar a formalidade ou rigidez da língua, além de ser utilizado também como uma maneira de criar uma identidade única, que implica em não reproduzir o padrão, como – no caso do Brasil – uma série de movimentos linguísticos que nascem nas favelas ou periferia das grandes cidades e, posteriormente, são incorporados pela massa, impulsionados principalmente pelo cinema e pela TV.
Alguns exemplos de verlan:
bizarre – zarbi (estranho)
cigarette – garetteci ou garo (cigarro)
énervé – vénère (nervoso)
famille – mifa, mif’ (familia)
femme – meuf (mulher, ou na forma de gíria “mina”)
fête – teuf (festa)
fou – ouf (doido)
lourd – relou (Lourd quer dizer pesado, mas pode ser usado como uma gíria para chato)
louche – chelou (estranho)
mec – keum (mec jà é uma gíria para cara. A forma verlanizada mantém o mesmo significado)
merci – cimer (obrigado)
moche – cheum (feio)
pourri – ripou (podre, usado também como uma característica pejorativa. Ex.: C’est um mec pourri)
truc – keutru (coisa)
zyva – vas-y (expressão que quer dizer « và », ou « vai là »)
Sem ser conhecida pelo nome VERLAN, as formas mais antigas de deslocamento das letras dentro de uma palavra (métathèse) em francês surgem na Idade Média e começaram a ser utilizadas pelo povo à partir do século XVI, mas o uso do VERLAN se desenvolveu particularmente aà partir da II Guerra Mundial. Inicialmente utilizado como linguagem codificada entre os operários e imigrantes na periferia parisiense, ele se disseminou posteriormente para outras classes da população. Consta que em 2004, um certo VERLAN (constituído essencialmente de um vocabulário) acabou por ser mais ou menos compreendido e utilizado por todas as camadas da sociedade, tornando-se, de fato, um linguagem em curso de democratização, afastando-se imagem inicialmente marginal. Mesmo assim, existem algumas regiões onde um VERLAN mais "puro/duro" é utilizado cotidianamente. Uma linguagem bastante particular e certamente imcompreensível para os não iniciados e que preeche a função primordial de uma gíria: não ser compreendida pelos leigos. O desenvolvimento de novas formas de comunicação impulsionadas pela tecnologia tornou prático o uso do VERLAN, especialmente em função do caráter dinâmico da forma verlanizada, bem mais rápida para digitar em comparação aos seus equivalentes na língua francesa oficial. Isso transformou os representantes das classes média e alta na França em grandes "consumidores" dessas novas ferramentas personalizadas de comunicação, que passaram a melhor compreender e utilizar o VERLAN.