Costões rochosos
em 08 de Março de 2018
Mutismo Seletivo
Por que será que há crianças que apresentam um silêncio seletivo em determinados contextos, na escola, ou com determinadas pessoas? Será esta uma forma de comunicação? Serão elas incapazes de verbalizar o que sentem? Ela não gosta de mim, pois nunca fala comigo? Meu sonho é vê-la falando? Será que o gato comeu a língua dela? Por que a ausência de fala apenas surge em determinados ambientes? Serão apenas teimosas e estão a reprimir a sua violência contra a situação em que estão ou contra uma situação que viveram? Estarão, pelo contrário, a “gritar” por ajuda ainda que imersas num silêncio desesperador (Ribeiro, 2013)? Pois bem, essas perguntas e tantas outras surgem na cabeça dos adultos e até de crianças que convivem com uma criança com mutismo seletivo.
O mutismo seletivo caracteriza-se por uma falha da criança em falar quando seria esperado que ela se comunicasse. Geralmente a recusa não ocorre em toda exposição social, mas com relação a algumas situações ou pessoas (Levitan et. al., 2011).
O primeiro caso de mutismo seletivo relatado na literatura foi descrito em 1877, por Kussmaul, médico alemão que se deparou com pacientes que não falavam em algumas situações, apesar de terem habilidade linguística para tal. Foi Morris Tramer, em 1934, que utilizou pela primeira vez o termo mutismo seletivo para descrever um caso clínico (Peixoto, 2006).
O Mutismo Seletivo é uma condição em que crianças, adolescentes e mesmo alguns adultos sentem dificuldade ou mesmo incapacidade em falar em ambientes específicos, apesar de possuírem competências vocabulares e acadêmicas e de o fazerem em outras circunstâncias (Ribeiro, 2013).
Santos (2005) considera que esta manifestação é tão complexa que pode assumir diferentes padrões. Pode haver crianças que não falem especificamente com adultos, crianças que só falem com uma outra criança, crianças que se limitem a murmurar com determinadas pessoas e em determinados contextos, entre outras variáveis.
Para diagnosticar uma criança com mutismo seletivo são necessários vários profissionais envolvidos. Os psicólogos, psiquiatras, neurologistas, professores e familiares são alguns dos atores que devem ser envolvidos no processo de diagnóstico. A escola, na maioria das vezes, torna-se o ponta pé inicial para os indicativos de necessidade de diagnóstico daquela criança com sintomas de mutismo seletivo.
Os critérios para diagnóstico segundo o DSM-IV (Manual de Diagnósticos e Estatíscas) para o mutismo seletivo são: 1- Fracasso persistente em falar em situações sociais específicas (nas quais existe a expectativa de falar, como por exemplo na escola), apesar de ser capaz de falar em outras situações. 2- Perturbação que interfere na realização educacional ou ocupacional, ou na comunicação social. 3- Duração mínima de um mês (não limitada ao primeiro mês na escola). 4- Fracasso para falar que não se deve a um desconhecimento ou desconforto com o idioma exigido pela situação social. 5- Perturbação que não é bem explicada por um transtorno da comunicação, nem ocorre exclusivamente durante o curso de um transtorno global do desenvolvimento, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico (Peixoto, 2006).
Para inclusão de pacientes com mutismo seletivo, os estudos utilizam os critérios do DSM-IV, avaliados por professores e pais, com duração de pelo menos um mês e interferência no desempenho social e escolar da criança. Uma boa avaliação para mutismo seletivo é feita através de entrevistas com pessoas do convívio da criança, como professores, babá e familiares (Levitan et. al., 2011).
Para o tratamento dessas crianças com mutismo seletivo muitas intervenções têm sido propostas, incluindo estratégias comportamentais, terapia individual de diferentes formas, terapias familiares, terapias do discurso, tratamento com fármacos, entre outras. Destaca-se entre elas a terapia cognitivo comportamental (TCC) que trabalha a mudança de comportamento em ambientes e situações controladas com foco nos sentimentos e no cognitivo, e a aplicação de atividades lúdicas, estas sendo de “fácil” realização pelas escolas.
Diante do exposto, este artigo visa sensibilizar as pessoas sobre a importância de se conhecer o mutismo seletivo para que as mesmas possam buscar ferramentas que venham a somar nas estratégias de ação para com os alunos diagnosticados com mutismo, um transtorno de ansiedade.
REFERÊNCIAS
LEVITAN, M. N.; CHAGAS, M. H. N.; CRIPPA, J. A. S.; MANFRO, G. G.; HETEM, L. A. B.; ANDRADA, N. C.; SALUM, G. A.; ISOLAN, L.; FERRARI, M.C.F; NARDI, A. E. Diretrizes da Associação Médica Brasileira para o tratamento do transtorno de ansiedade social. Revista Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, 33, 3, 292-302, set. 2011.
PEIXOTO, A. C. A. Mutismo Seletivo: prevalência, características associadas e tratamento cognitivo comportamental.Rio de Janeiro, 2006. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=43178> Acesso em: 22 jul. 2017.
RIBEIRO, C. M. S. O mutismo seletivo e a ludoterapia / atividade lúdica. Lisboa, Portugal. 2013. Disponível em: <https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/4013/1/C%C3%A9liaRibeiro.pdf> Acesso em: 22 jul. 2017.
SANTOS, F. Mutismo seletivo: um silêncio perturbante. Médico de Família 86. 2005. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/283150792/Mutism-o>
Acesso em: 26 set. 2017.