SER ADOLESCENTE
em 24 de Janeiro de 2020
RESUMO:
O grafitti é uma expressão gráfica e plástica caracteristicamente contemporânea e urbana e hoje ocupa espaços que estão além de suas origens periféricas. Conquista ambientes educacionais diversificados e diferenciados como o Projeto Profissionalizarte que objetiva acompanhar o cumprimento das medidas sócio-educativas de jovens que se encontram em conflito com a lei a fim de resgatar a sua cidadania. Este relato tem a proposta de evidenciar a metodologia de Betty Edwards, que parte do pressuposto de que qualquer ser humano tem a capacidade de desenvolver seu potencial criativo, aplicada na oficina de grafitti, experiência sócio-cultural desenvolvida no Projeto Profissionalizarte.
Palavra-Chave: Grafitti; Criatividade; Medida sócio-educativa.
A gênese de um arte-educador autodidata
Sou um sociólogo formado pela UENF (Universidade Estadual Norte Fluminense Prof. Darcy Ribeiro) e trabalho há mais de quinze anos com arte-educação em escolas estaduais e particulares. Posso dizer que a minha escola foi a Animação Cultural “darcyniana” vivenciada com esplendor nos anos 80 e 90 (século XX) do Governo Brizola no Estado do Rio de Janeiro dentro do Projeto CIEP´S (Centros Integrados de Educação Pública). Para Miglievich, os animadores culturais são “‘intelectuais do povo’, aptos à articulação da instituição ‘escola’ a seu entorno, conhecedores da comunidade e dos saberes locais, ‘pesquisadores natos’ e, sobretudo, ‘comunicadores natos’ entre mundos (culturas) diferentes. Entendendo a linguagem artística como a mais democrática delas por seu largo alcance – uma vez que não está necessariamente subordinada aos saberes formalizados - entendia-se que os animadores culturais, no domínio das artes plásticas, da música, da dança, do teatro, dentre outros, seriam ‘a ponte viva que leva a comunidade dentro da escola – e vice-versa’ (Ribeiro, 1986:49).”
No inicio da minha carreira, fazer arte na escola significava algo divertido com as crianças, conceito ainda deturpado para mim como para muitos indivíduos que tenham passado pelo antigo ensino fundamental nos anos 70 do século passado. A adoção de uma arcaica mentalidade criadora ainda me dominava. Acreditava que para ser artista ou para fazer arte eu tinha que ter talento. E quem não os tivesse? Será que os indivíduos já nascem com a arte dentro delas?
As atividades eram feitas com o intuito de despertar o “jeitinho” artístico do aluno. Mas, alguma coisa me dizia que todos poderiam ter o mesmo potencial criativo mesmo não nascendo artista. Recordei-me que na década de 80, nas aulas de educação artística do ensino fundamental I no antigo IEPAM (Instituto de Educação Prof. Aldo Muylaert), os ingênuos professores criavam sem saber, um clima de “corporações de ofício”, num processo artesanal bem interessante. Comecei a refletir sobre o aspecto dos indivíduos terem ou não “talento” para arte. Daí, imbuído dessas reflexões, fui colocando em prática a crença de que tanto crianças quanto jovens poderiam se apropriar deste saber oculto.
Aos poucos fui descobrindo pó meio dos livros e das minhas pesquisas empíricas que aquela arte interior era a criatividade, uma potência humana, muito cogitada nos dias atuais de imediatismo concorrencial. Porém a criatividade está além desse mesquinho processo de idiotizar os seres humanos a pensarem de forma unicamente material. Afinal, somos resultado de um processo muito mais amplo de construção. A nossa identidade tem “mente, corpo e alma”. A arte habita os planos da materialidade e da imaterialidade.
Com os anos de experiência, fui construindo o meu portfólio pessoal, um processo. Nada “cai do céu”. Se sou hoje um artista, com trinta e sete anos, foi porque investi para que isso acontecesse, seja consciente ou inconscientemente. Fiz cursos, assisti espetáculos, filmes, li livros diversos, fiz trabalhos sem nenhuma orientação, investiguei, pesquisei, participei de festivais, oficinas....e estou aqui em relato falando um pouco da minha experiência e das minhas indagações relativas à prática arte-educativa.
Criatividade e talento: um diálogo paradoxal
Eureca! Encontrei alguém que coaduna com as minhas idéias! Betty Edwards me foi apresentada pelas minhas pesquisas na internet. Estava procurando em sites de busca algum escritor que argumentasse as minhas reflexões sobre ter talento para fazer alguma coisa. Quando por “inspiração” encontrei seu livro “Desenhando com o artista interior”. Com certeza, como ela mesma descreve em seu primeiro capítulo, passei por quatro das cinco fases do processo de criação (insight, saturação, incubação, iluminação e verificação) e atingi a iluminação. O passo seguinte seria chegar a comprovação da criatividade interior. Assunto que rompe alguns paradigmas universais. Aquele velho discurso de que toda boa resposta às suas indagações vem de Deus ou de algum espírito iluminado, que ouvimos o tempo todo em nossa retrógrada educação, não passa de um senso-comum que ainda persiste nas escolas de educação básica. Edwards nos esclarece que a sensação de iluminação não passa de um resultado do processo citado acima, realidade de combinações de modos de pensamento. O lado direito do cérebro desencadeia respostas subconscientes e inconscientes, enquanto o lado esquerdo do cérebro desencadeia respostas conscientes. Nem sempre um lado escuta o outro, daí a confusão de interpretação quando o lado direito se manifesta. Os artistas não são indivíduos especiais, dotados de uma genialidade singular. São indivíduos sensíveis que já tem em seu bojo intelectual as habilidades básicas de percepção e visuais no mesmo patamar de outros que tem habilidades verbais e analíticas. A criatividade para Edwards é um processo duplo de habilidades que envolve a retirada do conceito de talento, “um inibidor de potencialidades”.
Em contrapartida, como se libertar de uma verdade que ouvimos durante toda a vida, de que cada um tem um dom, um talento? Não se trata aqui de obrigar o indivíduo a aprender tudo que lhe é oferecido, mas lhe dar condição de escolha. Dizer para ele que as suas potencialidades são iguais as minhas, independente de ser negro e pobre, homem ou mulher. Esclarecer que as suas diferenças surgem nos condicionamentos que uma sociedade desigual transmite desde de que ele nasce. Desde cedo somos educados a acreditar que há indivíduos mais inteligentes como se o quociente de inteligência (QI) fosse o suficiente para classificá-los socialmente. “Na maioria dos casos, o que mais pesa para alguém consiga uma boa posição na sociedade não é o QI, mas outras circunstâncias que vão da classe social a que ele pertence...” (GARDNER inpud GOLEMAN). Daniel Goleman em seus estudos sobre a inteligência emocional nos acrescenta que “as aptidões emocionais decisivas, na verdade, podem ser aprendidas e aprimoradas já na tenra idade – se nos dermos ao trabalho de ensiná-las.” (GOLEMAN, 47)
Sei que esta é a realidade, mas ter uma escolha é o que faz a diferença. Uma pessoa pode ser o que eu quiser na vida e não o que querem que ela seja, uma questão de submissão a valores inferiores de cidadania. Se ela viola alguma lei social, é rechaçada como aquele que não tem potencial, não tem mais jeito, tem que sofrer a punição. Quando resolve os problemas tem a sensação de que foi uma questão de sorte, uma graça, uma bênção, ou seja, acredita que algo que está fora dela é que vai resolver os seus problemas. Esmeralda do Carmo Ortiz, em sua autobiografia Porque não dancei, narra a sua trajetória de vida e a sua adicção com as drogas ilícitas e nos deixa claro que se não fosse a sua persistente vontade de mudança não adiantaria o trabalho feito pelos projetos sociais que atendiam os menores de rua. “No fundo tinha uma luz falando que eu ia conseguir. Por mais que eu estivesse na rua, naquela situação, eu ia conseguir mudar. Eu era muito persistente: se eu cismasse que ia ser de um jeito, tinha que ser”, afirmou Esmeralda.
Paradoxalmente o talento, segundo Richard Sennett em O artífice, é inato. Qualquer um nasce com todas as capacidades e habilidades (NUSSBAUM E SEM), contrastando com o conceito da predestinação religiosa, com as teorias eugenistas e com os testes de QI (Stanford-Binet) que tinham a objetividade de testar a inteligência humana a fim de afirmar a suposta inferioridade natural dos indivíduos, “antes o potencial biológico que a formação cultural” (SENNETT, 2009). O protestante João Calvino, por exemplo, chegava a acreditar que Deus predestinava certas almas à salvação, enquanto outras à danação. O indivíduo precisa mesmo é ser estimulado e treinado para liberar as suas habilidades inatas.
Outra maneira de entender a metodologia de desenhar com o lado direito do cérebro (Betty Edwards) é estabelecer um diálogo com as três habilidades essenciais constituintes da base da perícia artesanal elencadas por Bennett: capacidades de localizar, questionar e abrir. Para ele “o cérebro precisa processar paralelamente informações visuais, auditivas, táteis e de linguagem simbólica” (BENNETT, 2009). A localização, resultada da estimulação sensória, é designada como atenção focal, importante para o processamento paralelo do cérebro ativar diferentes circuitos neurais; O questionamento que tem o objetivo de investigar o ponto de localização e o “Abrir” que significa estar aberto à possibilidade de fazer as coisas de maneira diferente. Abre-se para um outro olhar, uma mudança de hábitos, uma nova forma de perceber a vida em entorno, enfatizando o possível aprendizado das habilidades perceptivas propostas por Edwards.
Grafitti: uma experiência arte-educativa
O homem na sua Antigüidade sempre sentiu necessidade de deixar ritualisticamente as suas marcas, vestígios de sua história e cultura por onde passava. As pinturas rupestres são testemunhas vivas deste comportamento mágico. Assim, diversas civilizações humanas que procuravam se expressar pelo grafismo, serviram de gênese para o surgimento do grafitti (expressão italiana) urbano. Vale salientar que ele surgiu como rebeldia e contestação dos jovens dos movimentos estudantis parisiense de 1968 e dos guetos do Harlem (E.U.A), contrariando a lei dos poderosos e provando a capacidade criativa do nosso imaginário e a nossa expressividade espontânea.
Hoje, podemos dizer que o homem mesmo dotado de uma inteligência avançada, não sabe deixar marcas ou vestígios por onde passa de forma “saudável” como faziam as remotas civilizações. As carteiras escolares e os prédios públicos “pichados” são alguns dos exemplos do ato de depredação humana, destruindo, às vezes, aquilo que lhe pertence. O prazer costuma ser vazio e a fuga da realidade certa. Sabemos pelos depoimentos de ex-pichadores, que a imagem pichada vira uma violência visual, um vício, uma droga. “Não sabemos bem o porquê de entrarmos nesta vida louca. Se foi para obter fama ou mesmo para expressar nossa rebeldia” diz um ex-pichador no livro “Carlos e Astro: Uma vida, Dois Mundos” motivado pelo Programa Picasso Não Pichava da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Governo do Distrito Federal.
Quanto mais se picha mais se quer pichar. Um desejo incontrolável. Será que a solução seria a conscientização e a educação deste comportamento?
O grafitti entrou na minha vida dentro desse contexto investigatório. Lendo um pequeno livro, “Grafite, Pichação e Cia” de Célia Maria Antonácci Ramos (1994), descobri que era possível aprender e ensinar ao mesmo tempo. Que as experimentações seriam bem vindas e poderiam servir de elemento motivador para os jovens que fizessem parte das oficinas de criação que viria acontecer em ambientes educacionais.
Vale dizer que, em Campos dos Goytacazes, o grafitti entrou pela porta de trás da nossa história cultural, ou seja, foi um movimento periférico que veio de fora, não nasceu em suas periferias horizontalizadas. O grafitti em Campos se caracteriza como um movimento “estrangeiro”, “importado”, fruto da expansão demográfica, transformação social sentida no cotidiano urbano mas ainda com pouca visibilidade teórica. Significa dizer que sutilmente que Campos está ganhando ares de uma cidade “grande”, está se apropriando de valores culturais metropolitanos como o grafitti que tem provocado uma estética diferenciada nos muros da cidade.
Em resumo, o grafitti, sendo linguagem arte-educativa, pode ser um “instrumento transformador da sociedade”, uma voz da periferia, uma “arma social” de denúncia, de reivindicação e de protesto.
Oficina Grafitti 463
Neste ínterim, o CIEP João Borges Barreto em Ururaí foi o primeiro espaço social a utilizar uma oficina de grafitti (Oficina Grafitti 463 da Animação Cultural) da qual eu era responsável.
A existência da oficina correspondia a uma proposta anunciada pelo Projeto “Escola sem Pichação” da Coordenadoria Estadual de Educação – Pólo Norte Fluminense I no ano de 2002 que incentivava os animadores culturais a discutir a violência visual, a depredação humana e a potencialidade desequilibrada através da arte infantil e juvenil.
A Oficina Grafitti 463 tinha como objetivo conhecer e utilizar o Grafitti como possibilidade de expressão gráfica através de oficinas de artes plásticas, espetáculos, performances, exposições e eventos culturais, bem como recurso pedagógico importante para a formação da cidadania dos alunos, podendo despertar na comunidade periférica inserida, a busca de uma identidade cultural urbana e uma aplicação do aprendizado numa possível geração de renda, aplicado às necessidades do mercado local.
Ao mostrar aos alunos que a pichação existe como expressão, o grafitti – linguagem plástica e urbana, que reflete a contemporaneidade dos tempos – torna-se também uma maneira “saudável” e artística de expressão. Na Oficina Grafitti 463 foram trabalhados dois tipos de grafite: livre e de máscara permeados por pinturas espontâneas e primitivas (Naïf) ainda utilizando leitura visual, pesquisa pictórica, releitura plástica, técnica alternativa, retratação histórica e cotidiana.
No ano de 2004, o tema da Oficina Grafitti 463 foi o Profeta Gentileza – andarilho que pregou a gentileza como solução para os problemas capitalistas e deixou escrito nos pilares dos viadutos do Rio de Janeiro um “livro urbano” que tinha um autêntico grafismo revelado no formato de uma escritura sagrada, singular a qualquer outro já criado por conta de seu aspecto ético-moral.
A Oficina Grafitti 463, no ano citado, dentro da dinâmica do grafitti de máscara de Alex Vallauri, estudou a monumental obra do Profeta Gentileza, onde os resultados foram expressados em quadros e painéis coletivos e individuais mostrados através de exposição “O Grafitti Gentileza” feita em pilastras e paredes das instituições de ensino fundamental e universidades através de criações e recriações plástico-visuais, em placas políticas reaproveitadas que tiveram o intuito de enfatizar a sua “divina grafia”. Para uma melhor compreensão fizemos um breve estudo do livro “Tempo de Gentileza” do Prof° Leonardo Guelman, dando-nos condições de entender e observar que o grafismo de suas letras também poderia ser considerado grafitti. Daí o nome Grafitti Gentileza.
Em resumo, o objetivo da exposição “O Grafitti Gentileza” foi divulgar a experiência arte-educativa da Oficina Grafitti 463, bem como possibilitar o intercâmbio sócio-cultural com outras instituições escolares e não escolares, deixando implícita a essência de que “Gentileza gera gentileza” ..
Oficina Grafitti Cidadania
Atualmente estou desenvolvendo a Oficina Grafitti Cidadania em um espaço que oferece oportunidades de crescimento para jovens em conflito com a lei. Refiro-me ao Projeto Profissionaliz-arte que funciona em parceria com a FAMAC (Federação das Associações de Moradores de Campos dos Goytacazes), com a VOTORANTIM e com o Fundo Municipal da Infância e Juventude, que tem como principal objetivo, a proposta de acompanhar o desenvolvimento de medidas sócio-educativas aplicadas pelo Juizado de Infância e Juventude e do Conselho Municipal da Infância e Juventude de Campos dos Goytacazes. Espaço que vai além do ensino escolar, que tem a oportunidade de colocar para este jovem em conflito com a lei, a habilidade perceptiva que ele pode desenvolver, colocando-o num processo de reintegração social e profissionalização. Uma proposta ousada de colocá-los frente aos seus espelhos. Uma maneira de despertá-los para vida em cidadania.
A Oficina Grafitti Cidadania tem caráter profissionalizante e é dividido em diversas etapas de trabalho:
Grafismo e tipos – Desinibição, sensibilização e reconhecimento gráfico através do estudo de tipos;
Grafitti Abstrato – Introdução, discussão e criação feito à partir da dinâmica riscos e rabiscos, onde se utilizou a metodologia de desenho interior de Betty Edwards;
Grafitti Figurativo – Criações feitas à partir do contato com obras contemporâneas das artes visuais e com ilustrações que expressem o universo social de jovens que estão em situação de risco, partícipes da oficina (método quadros1), concomitante com produções de trabalhos, exposições, vivências e palestras que venha surgir no decorrer do processo.
Todas as etapas citadas têm a intenção de mostrar aos integrantes da Oficina Grafitti Cidadania que a expressão “pichação” existe, mas que existe também uma maneira mais saudável e artística de se expressar. Serão trabalhados diversas técnicas de grafite: livre, hip hop e de máscara, sendo proposto e confeccionado pelos próprios integrantes, sob a orientação dos educadores, agentes do Projeto Profissionalizarte. Sendo desenvolvida através da espontaneidade, da leitura visual, da pesquisa pictórica, dos experimentos, das releituras plásticas e da contextualização histórica e cotidiana.
Os temas discutidos nos encontros, quando houver, serão determinados mediante o universo social, identificados pelos próprios jovens através de uma breve pesquisa.
A exposição “Riscos e rabiscos e cidadania” que faz parte da terceira etapa da Oficina Grafitti Cidadania, será desenvolvida de forma itinerante em diversas instituições sócio-educacionais, associações de moradores e ambientes culturais e de recuperação através de criações abstratas plástico-visuais, em painéis de papel moldurados com espontaneidade e vontade de viver.
A simples presença dos resultados alcançados pelos jovens atendidos pelo Projeto Profissionalizarte/FAMAC poderá proporcionar uma grande discussão sobre as medidas sócio-educativas frente a uma cultura de punição, disseminando a consciência cidadã como exercício de responsabilidade e compromisso social, possibilitando intercâmbios com a sociedade civil através de palestras, debates ou mesa-redonda.
Os aspectos comunitários da Oficina Grafitti Cidadania poderão surgir durante e depois da exposição, mediante convite para intervenções nos espaços que por ventura estejam “sujos”, criando uma identidade visual para este e contribuindo para a ecologia visual. O objetivo de se obter renda se comporta nesta fase. As criações dos oficinandos podem se transformar em produtos para o consumo como: consertos de quadros de bicicleta, cartões, camisas dentre outras possibilidades.
Riscos e Rabiscos: uma vivência possível
Esta dinâmica se baseia nos princípios do método de Betty Edwards e na perspectiva motivacional de Richard Sennett, o importante é se expressar e se encantar com arte que surge surpreendentemente com a aplicação de cores variadas. Consiste em fazer numa folha 10 tipos de variados traços (horizontais, verticais, diagonais, circulares e ondulares) e direções, rompendo com o óbvio e com a ordenação, segue a busca pela composição involuntária. Após o traçado, cabe ao artífice visual, parafraseando Sennett, ocupar os espaços que surgem com cores que lhe venha ao gosto e harmoniosidade. Daí, a obra surge de forma espontânea, sendo contextualizada com obras do abstracionismo geométrico (Mondrian).
Se observarmos as fotos em anexo, chegaremos a conclusão que não se trata de talento dado por Deus, nem de nenhuma geniosidade oculta, verificamos a presença das potencialidades “artísticas” que todos nós podemos ter através das motivações que nos são feitas, através do desenvolvimento da auto-estima e da criatividade num contexto de realidade reinventada. Se não fossem aqueles “ingênuos” professores do passado, eu, provavelmente, não estaria ousadamente me conhecendo através da minha expressão/arte. Não teria encontrado com a Betty e nem com o Richard. Agora cientificamente, eu tenho com quem dialogar. Agora, eu posso provar cientificamente que o que eu penso tem sentido, que eu não estou sozinho neste debate que contraria uma educação e uma cultura repressora que ainda se baseia na tradição de princípios judaicos-cristãos como pecado, sacrifício e sofrimento.
:Bibliografia:
CERQUEIRA, Thales Tácido Pontes Luz de Pádua. Manual do Estatuto da Criança e do Adolescente: (teoria e prática). São Paulo: Premier Máxima, 2005.
CAVALCANTE, Rudolf Rotchild Costa. Culturas Infantis: um estudo das vivências de um menino do município de Campos dos Goytacazes. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciências Sociais) - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Orientador: Wania Amélia Belchior Mesquita.
EDWARDS, Betty. Desenhando com o artista interior. São Paulo: Claridade, 2002.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
MIGLIEVICH RIBEIRO, Adelia Maria ; BALBI, J. ; CAVALCANTE, R. R. C. ; AMARAL, Shirlena Campos de Souza ; BARBOSA, J. G. ; PESSANHA, R. R. ; ANDRADE, L. . A ANIMAÇÃO CULTURAL E A EDUCAÇÃO PARA A AUTONOMIA: trabalhando identidade e reconhecimento nas escolas públicas estaduais e municipais em Campos dos Goytacazes - RJ. In: VI Workshop de Extensão da UENF, 2008, Campos dos Goytacazes. VI Workshop de Extensão da UENF, 2008.
ORTIZ, Esmeralda do Carmo. Esmeralda, por que não dancei/Coordenação do projeto Gilberto Dimenstein. São Paulo: Editora SENAC, 2000.
RAMOS, Célia Maria Antonacci. Grafite, pichação e Cia. São Paulo: Annablume, 1984.
SENNETT, Richard. O artífice. Rio de janeiro: Record, 2009.
1 Método criado pelo Instituto Fonte no escopo da avaliação do Programa Pró-Menino: Jovens em Conflito com a Lei, desenvolvido pela Fundação Telefônica. Tem como objetivo criar um espaço de diálogo entre educadores e adolescentes em situação de risco social.
Rudolf Rotchild - Professor particular do Profes