É possível memórias serem transmitidas geneticamente?

Olá Arthur, como vai?

Arthur, a memória a qual você se refere é resultado da formação de uma rede complexa de sinapses (conexões entre neurônios) e que é constantemente reativada para que seja consolidadas. Ou seja, quanto mais você evoca a memória, mais fortalecida as conexões neurais se tornam. Do contrário, quanto menos, menos fortalecida, a ponto de serem desfeitas e darem espaço para a formação de outras.

A memória é realmente um processo complexo e que envolve diversos fatores, dentre eles estão incluídos as emoções, em especial o prazer e o medo. Situações de medo elevado fazem com que a memória seja consolidada quase que instantaneamente, bem como aquelas de imenso prazer. Portanto, a memória é uma experiência cognitiva, sensorial, social e individual. O que eu percebo não é o que você percebe. O que eu sinto, não é o que você sente. O que eu experimento não é o que você experimenta. Muitas pessoas que passam pela mesma situação (um assalto a banco, por exemplo), levam essa experiência de diferentes formas, ou seja, memorizam esse momento de diferentes formas de acordo com o seu repertório (cognitivo, social, sensorial, espiritual).

Além disso, nós dividimos nossas células em dois grupos: somáticas e germinativas. As células somáticas são todas as células do nosso corpo que não são as células das gônadas (testículos e ovários). Enquanto células somáticas, os neurônios são responsáveis pela formação de memória. Por outro lado, como células germinativas, as células testiculares e ovarianas são responsáveis pela reprodução.

Veja, a ciência é uma arte mutável. Dizemos que ela é feita de verdades absolutas transitórias, ou seja, tudo o que conhecemos e afirmamos hoje é comprovado, mas que pode sofrer alterações amanhã com novas comprovações. Digo isso para responder que, até o conhecimento de hoje, afirmamos que a memória não é transmissão parental. A resposta para sua pergunta "o que é transmitido de pais para filhos" é o que baseia isso.

Nós somos o resultado da conversa entre o meio ambiente e o nosso DNA. Somos verdadeiras carapaças que servem para o armazenar e o transmitir pelas gerações. O DNA é um sequência de 4 caracteres (adenina, citosina, guanina e timina) que se organizam de forma a ditar TODO o funcionamento do nosso organismo biológico. Essa sequência é tão longa que cada célula nossa, dentro do seu núcleo, apresenta cerca de 2 metros de DNA. A sua organização é feita pela formação de estruturas chamadas cromossomos, sendo eles em número de 46 (23 pares formados por 23 cromossomos maternos e 23 cromossomos paternos). O que os pais passam para os filhos é justamente um pedaço dessa informação.

Nesse processo de "passagem" ocorre pela fusão de 1 espermatozoide com 1 óvulo, em que cada 1 deles contém metade dos cromossomos de cada pai, ou seja, o espermatozoide tem 23 cromossomos e o óvulo tem 23, totalizando um indivíduo com 46.

Portanto, não tem como ocorrer a passagem de memórias (como aquelas a que você se refere). Primeiro porque as memórias são redes de conexão entre várias e várias e várias células neuronais, que são células somáticas - o que ocorre em células somáticas não é transmitida para os filhos. Segundo porque a passagem de conteúdo de pais para filhos resulta na formação de uma só célula (1 espermatozoide encontra 1 óvulo e forma 1 zigoto).

Um pouco de conhecimento muito mais aprofundado e novo: nós não mudamos nossa sequência genética durante nossa vida! Quando isso ocorre, tendemos a gerar mutações ruins que, geralmente, são expressas na forma de cânceres. No entanto, existe um controle da expressão genética chamada "epigenética". É como se o nosso corpo dissesse: "eu não posso mudar a sequência de DNA, mas eu posso determinar o que vai ser expresso ou não colocando umas bandeiras, umas etiquetas nele". Existe estudos que mostram que alguns comportamentos e exposições estão relacionados com essas etiquetas e, em alguns casos, é visto a passagem de algumas dessas etiquetas para o filho. Ou seja, apesar de não ser uma memória como a qual você se refere, pode ser que exista uma passagem de "memória comportamental", como se fosse uma "memória celular". De qualquer modo, esse é um campo novo na ciência, chamado epigenética, e bem profundo para ser debatido levianamente.

Espero que eu tenha conseguido te ajudar a entender um pouco sobre herança de genética. Se gostou, por favor favorite minha resposta.

Não sei a sua idade e em que nível de educação você já está, mas seria um prazer poder te ensinar o básico sobre genética, evolução e reprodução humana, bem como outros assuntos da área biológica ou médica.

Entre em contato e marque uma hora comigo.

Abraços e bons estudos.

Olá Arthur!
Tudo bem com você?

Penso que seja possível sim, talvez não seja paranóia sua.
O que parece ficcão científica na verdade é um fato estudado a bastante tempo.
Porém a memória não é da maneira que você está imaginando ou gostaria que fosse.
Imagine esta memória seja uma forma química despertada em seu corpo.
Não necessariamente em forma de lembrança no seu cérebro.
Você pode associar esta memória química a algo real cognitivo.
Ou seja, o cérebro busca fazer associações ao que já conhece.
Tem uma matéria muito interessante na revista Galileu.
Dá uma lidinha, certamente vai te aliviar qualquer paranoia.

Espero que tenha contribuído.
Não esqueça de marcar esta resposta.
Grande abraço!