No estudo da reflexão ética de Michel Foucault é possível fazer uma correlação com o tema da obra “Holocausto Brasileiro”, da jornalista Daniela Arbex. Por que é possível fazer essa relação? Situe à reflexão de Foucault em relação a esse caso estudado pela jornalista. Estabeleça as conexões.
Rodrigo, é possível essa correlação sim. O primeiro ponto, é compreender a ideia de microfísica do poder. Para Foucault, o poder deve ser entendido de uma perspectiva "micro", porque não é exercido apenas pelo Estado ou pelas grandes instituições. Na verdade, ele está presente nos menores espaços, isto é, em todas as relações humanas. Além disso, o poder possui uma perspectiva "física", porque interfere diretamente nos corpos.
Em sua obra A História da Loucura, publicada em 1961, Foucault se propõe a investigar como o fenômeno da loucura se deu ao longo da história. Segundo ele, a ideia de loucura passou por três fases distintas. Na primeira, entre o Renascimento e o período medieval, a loucura era entendida como uma experiência trágica. Desse modo, os loucos são explusos da cidade e afastados do convívio social. Na segunda fase, por volta do século XVIII, a loucura é entendida como uma experiência moral, uma espécie de desrazão. Aqui os loucos são vistos como imorais, que devem ser punidos. Nessa fase, eles são encarcerados em hospitais gerais, junto com marginais, criminosos e de todos aqueles que perturbam a ordem social .
Por fim, a terceira fase, conhecida como experiência científica, começa no século XIX e se estende até os nossos dias. Aqui, a loucura se torna objeto do discurso médico e passa a ser compreendida como uma doença mental, que deve ser tratada por meio de terapias e medicamentos. Com isso, podemos concluir que a loucura é um discurso político, um exercício de poder, que visa adestrar os corpos, divindo-os em "loucos" e "sãos". Note que esse é justamente o tema do livro e do documentário “Holocausto Brasileiro”, da jornalista Daniela Arbex.