Foto de Augusto C.
Augusto há 7 meses
Enviada pelo
Site

Por que em Kant e Schopenhauer a coisa-em-si não pode possui

Por que em Kant e Schopenhauer a coisa-em-si não pode possuir as formas dos fenômenos (tempo, espaço e causalidade)? Já tenho compreensão que estas são exclusivamente princípios dos fenômenos, geradas pela mente, incompatíveis com a coisa-em-si, o que quero saber é o porquê de a coisa-em-si não poder ter qualquer vestígio destes, uma razão para isso ou um exemplo. Desde já agradeço.
Filosofia
3 respostas
Minerva IA
Inteligência Artificial do Profes
Respondeu há 7 meses

A questão da coisa-em-si em Kant e Schopenhauer é complexa, mas fundamental para entender suas filosofias. Vamos examinar brevemente como cada um trata o assunto:

  1. Kant: Para Immanuel Kant, as categorias do entendimento humano — como espaço, tempo e causalidade — são formas a priori, estruturas que nossa mente utiliza para organizar a experiência sensorial. Esses elementos não são atributos das coisas em si mesmas, mas sim das coisas como as percebemos (os fenômenos). A coisa-em-si (Ding an sich) é, por definição, aquilo que existe independentemente de nossa percepção e, portanto, além de nossa capacidade de conhecimento direto.

Kant argumenta que não podemos atribuir as formas dos fenômenos à coisa-em-si justamente porque elas são as condições sob as quais nós experienciamos o mundo, e não características do mundo em si mesmo. Se a coisa-em-si tivesse essas formas, significaria que nosso conhecimento fenomenal acessa diretamente a coisa-em-si, o que contradiz a própria distinção kantiana entre fenômeno e númeno.

  1. Schopenhauer: Arthur Schopenhauer, que foi fortemente influenciado por Kant, também adota a distinção entre fenômeno e coisa-em-si. Para ele, a coisa-em-si é a vontade, uma força irracional básica que subjaz toda a realidade. Schopenhauer concorda com Kant que o tempo, o espaço e a causalidade são formas da nossa percepção, não aspectos da realidade última. Enquanto seres humanos, somos incapazes de perceber a coisa-em-si diretamente porque nossas mentes estão estruturadas de tal forma que apenas captam o mundo fenomenal, regido por essas categorias.

A razão central pela qual a coisa-em-si não pode ter vestígios das formas dos fenômenos (tempo, espaço e causalidade), em ambos os filósofos, é que essas formas são inerentes à nossa maneira de perceber e compreender o mundo, não características das próprias coisas que existem independentemente de nós. A coisa-em-si, por essência, está além dessas formas e, portanto, inacessível ao conhecimento empírico-humano. Em suma, a coisa-em-si não pode possuir as formas dos fenômenos porque seria uma contradição lógica no sistema filosófico de Kant: estamos tratando de domínios diferentes da realidade — o que conhecemos e como conhecemos (fenômenos) versus o que é (coisa-em-si).

Já tem uma conta? Entrar
Ao me cadastrar, confirmo que li e concordo com os Termos de Uso .
Tutoria com IA
Converse com a Minerva IA e aprenda, tire dúvidas e resolva exercícios
Professor Claudionor R.
Identidade verificada
  • CPF verificado
  • E-mail verificado
Respondeu há 6 meses
Contatar Claudionor

Em Kant, a "coisa-em-si" (“noumeno”) não pode possuir as formas dos fenômenos (tempo, espaço e causalidade) porque essas são estruturas da nossa percepção. Kant argumenta que nossas mentes estruturam a experiência em torno dessas formas para fazer sentido do mundo. A "coisa-em-si" existe além de nossa capacidade de percepção e, portanto, não está sujeita a essas formas estruturais da mente.

Schopenhauer, por sua vez, baseia-se em Kant mas vai um passo além, afirmando que a "coisa-em-si" é a Vontade, uma força cega e irracional que está além do alcance do entendimento humano. Ele também sustenta que tempo, espaço e causalidade são apenas representações fenomênicas, e não poderiam se aplicar à Vontade.

Em suma, a razão pela qual a "coisa-em-si" não pode ter qualquer vestígio dessas formas é que elas são inerentemente limitadas ao mundo da experiência sensorial, enquanto a "coisa-em-si" está além desse mundo.

Uma analogia pode servir de exemplo: pense na "coisa-em-si" como a essência de um objeto que existe independentemente de nossa percepção! Agora, imagine que você usa óculos com lentes que filtram tudo em tons de azul! Para você, tudo no mundo aparece em azul. Mas isso não significa que o mundo em si é azul, apenas que você o percebe assim devido às suas lentes.

No caso do tempo, espaço e causalidade, esses são como nossos "óculos" mentais. Eles estruturam nossa experiência do mundo, mas não o definem em sua essência. Portanto, a "coisa-em-si" não possui tempo, espaço ou causalidade, pois essas são apenas formas como nossa mente processa a realidade, não atributos da realidade em si.

Um professor já respondeu

Envie você também uma dúvida grátis
Ver resposta
Professor Thales O.
Respondeu há 6 meses
Contatar Thales
A ideia de que a coisa-em-si em Kant e Schopenhauer não pode conter as formas dos fenômenos (tempo, espaço e causalidade) se baseia no princípio de que essas formas são construções da nossa mente. Em outras palavras, as estruturas de tempo, espaço e causalidade fazem parte do modo como organizamos as experiências sensíveis, mas não fazem parte da realidade em si, independente de qualquer observador. Para Kant, o tempo e o espaço são formas da sensibilidade humana, ou seja, modos pelos quais organizamos aquilo que percebemos, e a causalidade é um dos conceitos que aplicamos aos dados dos sentidos para construir nossa experiência de mundo. Como esses elementos são a priori, não estão nas coisas por si mesmas, mas apenas na forma como as conhecemos. A "coisa-em-si" está além dessas categorias e, por isso, não pode ser temporal, espacial ou sujeita a causalidade, porque estas são características impostas por nossa faculdade de conhecer, e não pela própria realidade objetiva. Em Schopenhauer, a diferença entre fenômeno e coisa-em-si permanece. Ele define a coisa-em-si como "vontade", uma força irracional e impulsiva que é o fundamento de tudo. Para Schopenhauer, o mundo como representação (o mundo dos fenômenos) é guiado pelo princípio de razão suficiente, que estabelece uma estrutura de causalidade e temporalidade. Mas, ao nível da coisa-em-si, não há causalidade nem tempo, pois estes pertencem ao domínio da representação e da percepção humana. Um exemplo para ilustrar isso seria o de um computador que só pode exibir informações em duas dimensões, com pixels que criam imagens planas. Se alguém desse mundo bidimensional quisesse saber como é um objeto em três dimensões, ele não teria acesso a essa realidade sem que a imagem fosse "traduzida" em pixels de duas dimensões, e essa tradução jamais seria a própria coisa tridimensional. O que se vê é apenas uma representação "adaptada", de acordo com as limitações do sistema. Para Kant e Schopenhauer, nossa mente age da mesma forma com o tempo, o espaço e a causalidade: a realidade “em si” precisa ser traduzida em termos compreensíveis para nós, que são diferentes da natureza da coisa-em-si. Essa diferença explica por que os filósofos consideram a coisa-em-si incognoscível: tentar pensar na coisa-em-si como temporal, espacial ou sujeita à causalidade é forçar a nossa estrutura cognitiva sobre algo que não pertence a essa estrutura.

Um professor já respondeu

Envie você também uma dúvida grátis
Ver resposta
Minerva IA
do Profes
Respostas na hora
100% no WhatsApp
Envie suas dúvidas pelo App. Baixe agora
Prefere professores para aulas particulares ou resolução de atividades?
Aulas particulares
Encontre um professor para combinar e agendar aulas particulares Buscar professor
Tarefas
Envie sua atividade, anexe os arquivos e receba ofertas dos professores Enviar tarefa