Vivemos um momento complexo e ambíguo na história do Brasil e do mundo: ao mesmo tempo que temos avançado em pautas importantes, como por exemplo o uso público reconhecido do nome social para pessoas transexuais, a face fascista ressurge com discursos de ódio.
Tendo a entender que a transfobia, homofobia, o racismo que estavam escondidos nas sutilezas das opressões cotidianas cederam lugar para o fascismo aberto e livre, e o que estamos vendo é uma face do Brasil que até aqui não precisava se mostrar. E se o fascista saiu do armário, é justamente por que os avanços, ainda que insuficientes, das pautas identitárias, tomou proporções universais.
Para o curto prazo temo pelo pior, podemos em muito pouco tempo regredir décadas, e viver momentos de muita dor e muito ódio propagado, mas podemos também neste momento enfim lidar com coragem, de frente, com esse ódio que não pode mais se esconder. O momento atual é aquele em que somos, enquanto nação, convidados a se deparar com nós mesmos, não há mascaras que se sustentem: nem no âmbito individual, entre as pessoas que nos são próximas, nem no que diz respeito as coletividades, as instituições dos mais variados contextos. Todos são convidados a sair do muro e a optar entre o fascismo ou a reconstrução de uma nova forma de democracia.
Quanto ao longo prazo, de uma forma ou de outra entendo que o movimento de afirmação das mulheres, negros e GLBTT é irreversível, pode ser no máximo atrasado por esse ódio retrógrado.