Das historinhas e da História
Por: Victor T.
05 de Junho de 2015

Das historinhas e da História

Artes Plásticas

Talvez você nunca tenha imaginado, mas muitas das histórias de ficção que a gente conhece foram baseadas em fatos e pessoas que realmente existiram.

 

#1: ALICE
 
 
 
Lewis Carroll, o autor de "Alice no País das Maravilhas", era professor de matemática na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Gago, tímido e retraído entre os adultos, Lewis só ficava à vontade no meio das crianças, a quem gostava de entreter contando histórias e brincando com jogos e passatempos que ele mesmo inventava. 
 
Um dia, Lewis fez amizade com um dos decanos de Oxford, que era pai de três filhas. Como costumava fazer com seus irmãos, Lewis divertia as meninas contando historinhas inventadas na hora. Certa vez, durante um passeio de barco, inventou uma história fantástica em que a personagem principal era Alice Lidell, sua preferida entre as três irmãs. O ano era 1862, e Alice pediu que Lewis escrevesse sua história em um livro. Ele mesmo escreveu e fez ilustrações para uma edição única de "As Aventuras de Alice debaixo da terra", a qual deu de presente de Natal à menina, no fim daquele ano.
 
A "Alice da vida real" fantasiada de mendiga. A foto é do próprio Lewis Carroll.

 

O livrinho tornou-se a leitura mais disputada entre a família de Alice, e três anos depois Lewis Carroll decidiu ampliá-lo e publicá-lo com o título que conhecemos: "Alice no País das Maravilhas". Dois anos depois do primeiro lançamento, Lewis escreveu sua continuação, "Através do Espelho e o que Alice encontrou lá". Sua obra foi um sucesso estrondoso, e uma das primeiras histórias tendo como tema o mundo dos sonhos, onde tudo é possível e os acontecimentos são imprevisíveis.
 
#2: ZORRO
 
 
"Zorro" era o apelido ("zorro" quer dizer "raposa" em espanhol) de Don Diego de la Vega, um personagem criado em 1919. Seu autor, Johnston McCulley, baseou-se num ícone real da história mexicana, o fora-da-lei Joaquín Murrieta
 
Murrieta viveu no México na primeira metade do século XIX, no auge da chamada "febre do ouro". Na esperança de ficar rico, ele estabeleceu-se no território da Califórnia, e lá foi duramente discriminado, como acontecia com todos os mineradores de origem latina. Como não conseguia ganhar a vida legalmente, envolveu-se no crime, tornando-se líder de um bando chamado "Os Cinco Joaquins". A eles são atribuídos mais de cem mil dólares em roubo, além de roubos de cavalos e assassinatos. 
 
O nosso Zorro da vida real era conhecido como "El Robin Hood de El Dorado": Com o que conseguia roubando, ele ajudava famílias latinas pobres da região onde seu bando operava. Em 1853, o bando foi capturado e Joaquin Murrieta foi supostamente decapitado. No filme "A Máscara do Zorro" é feita uma referência a ele, quando o personagem de mesmo nome também tem a cabeça cortada.
 
#3: BRANCA DE NEVE
 
 
Segundo o pesquisador Eckhard Sander, a Branca de Neve foi baseada numa figura da nobreza bavariana (hoje alemã) que viveu no século XVI, a condessa Margarete von Waldeck.
 
No ano de 1549, a condessa Margarete havia completado 16 anos e foi mandada por sua família para viver com a corte em Bruxelas -- na época, posse da realeza espanhola. Lá, ela atraiu a atenção do príncipe Felipe, que mais tarde viria a ser Felipe II, rei da Espanha (e também de Portugal durante a União Ibérica). Os dois se tornaram amantes, e Margarete começou a ser perseguida por sua própria madrasta, que a odiava, e pelo pai de Felipe, o rei da Espanha (Carlos V), que por motivos políticos condenava a relação dos dois, e não admitiria que ambos se casassem.
 

Condessa Margarete von Waldeck, a Branca de Neve da vida real.

O que aconteceu depois é que agentes espanhóis teriam encontrado uma maneira de dar um fim ao romance indesejado dos pombinhos envenenando Margarete, que veio a morrer aos 21 anos. Tá bom? Mas as similaridades não param por aí: Em Bad Wildungen, a região onde ela cresceu, seu irmão era dono de minas de cobre. Lá trabalhavam crianças, que adoentadas pela miséria, carência de alimentos, etc., tinham baixa estatura e eram chamadas mesmo de anões. E a madrasta má, que vivia com o pai de Margarete num castelo em Lohr, na Alemanha, tinha um espelho decorado que ganhara de presente de casamento. Já sabe como chamavam o espelho? Sim, "espelho falante". Até hoje ele está exposto no Spessart Museum, em Lohr.
 
#4: KENSHIN (SAMURAI X)
 
 
Kenshin é o protagonista da série "Samurai X", que em português também foi chamada "Kenshin, o Andarilho - Crônicas de um espadachim da Era Meiji". Durante 250 anos o Japão permaneceu isolado do resto do mundo por ordem dos Xoguns, os líderes militares do país. Em 1868, esse período de isolamento, que ficou conhecido como "xogunato" ou "Período Edo", terminou dando início ao período Meiji; e o Japão, que era até então um país feudal e conservava tradições milenares, modernizou-se rapidamente e se afirmou como uma potência mundial desde então.
 
A passagem do período Edo para o Meiji foi turbulenta, dividindo o Japão em várias facções determinadas a alcançar o poder político. Durante esse período de disputa, que é chamado "Bakumatsu", muitos samurais e homens treinados para o combate eram contratados para trabalharem como assassinos. Kenshin foi um desses assassinos, que depois do Bakumatsu, arrependeu-se de todas as mortes que provocou e viveu 10 anos como um andarilho, carregando sua espada de lâmina invertida, determinado a nunca mais matar ninguém. 
 
 
Todos esses episódios retratados em Samurai X fazem parte da história real do Japão, assim como o protagonista, que foi inspirado em Kawakami Gensai, um habilidoso samurai que atuou como assassino durante o Bakumatsu. Ele era conhecido por ter uma aparência delicada, sendo até mesmo confundido com uma mulher. No entanto, era considerado um matador frio e muito perigoso. Ele desenvolveu um estilo único de luta, que consistia em dobrar a perna direita, esticando a esquerda até ficar quase paralela ao chão, e em seguida sacar a espada, retalhando o adversário. Diferente do personagem ficcional, Kawakami não se arrependeu e nem virou andarilho -- em vez disso, foi capturado e morto nos primeiros anos da Era Meiji.
 
#5: POCAHONTAS
 
 
Pocahontas (que significa "mimada" ou "metida") era o apelido de uma índia norte-americana da tribo Powhatan, que viveu entre 1595 e 1617, e se chamava Matoaka. O pai de Matoaka era o líder da tribo, que ocupava quase toda a região da Virgínia, onde os ingleses estabeleceram a colônia de Jamestown, dando início à colonização dos Estados Unidos.
 
Quando Matoaka tinha 10 ou 11 anos, um dos colonos ingleses, um homem de meia-idade chamado John Smith, foi capturado pelos Powhatans e seria morto; Então a índia interviu, dizendo que se John Smith fosse morto, os colonos arrasariam os nativos. Na história real, Smith e Pocahontas jamais se apaixonaram. 
 
A estátua de Matoaka (Pocahontas) em Kent, Inglaterra, onde ela morreu.
 
No entanto, circunstâncias trágicas levariam Matoaka a se casar com um dos ingleses tempos depois. Em 1612 ela foi capturada por colonos e mantida prisioneira em Jamestown. Lá, chamou a atenção de John Rolfe, com quem se casou em 1614, após ser libertada. Para se casar, ela se converteu ao cristianismo e adotou o nome de Rebecca. Nessa época já falava inglês, e com um ano de casados, Rolfe e Pocahontas tiveram um filho. 
 
Em 1615, foram para a Inglaterra junto com 11 membros da tribo Powhatan, e chegando lá, John Smith, aquele que havia sido salvo pela índia anos antes, enviou uma carta à corte inglesa pedindo que Matoaka fosse tratada como membro da nobreza. Durante dois anos, ela viveu como uma celebridade na Inglaterra, atraindo a atenção de todos. Em 1617, ela e o marido decidiram voltar à Virgínia, mas já depois da partida, Pocahontas contraiu uma doença (varíola ou tuberculose), o navio teve que retornar e ela faleceu em Kent, na Inglaterra, aos 22 anos.
 
#6: SHREK
 
 
O Shrek é o único personagem dessa lista que nunca existiu (a menos que alguém já tenha visto um ogro andando por aí). Mas ainda assim, ele foi inspirado numa pessoa bem real, um lutador francês chamado Maurice Tillet.
 
Tillet nasceu na Rússia, mas radicou-se na França. Era um homem extremamente inteligente -- falava 14 línguas, era poeta e ator. Mas aos 17 anos, ele começou a sofrer os sintomas da acromegalia, uma síndrome que leva à produção de hormônio do crescimento na fase adulta, quando o corpo não deveria crescer mais. Em pouco tempo, o corpo e o rosto de Maurice Tillet ficaram deformados, e ele partiu para os Estados Unidos, buscando uma nova identidade. 
 
 
Na América, Tillet investiu na carreira de lutador, e por sua aparência incomum, atraía um grande público para suas apresentações na década de 40. Chegou a conquistar o título de campeão dos pesos-pesados em sua modalidade, inspirando uma série de imitadores em sua época, e anos depois, o simpático Shrek. 
 
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