Às vezes tomamos consciência de certa situação e damos ela como certeira. A situação em si pode não mudar, mas (ainda bem) a gente muda. Quando a gente muda a situação deixa de ser o que era para virar algo novo. Também posso colocar nessas palavras: tentamos fazer algo de certo, descobrimos que estava errado e reinventamos nosso modo de fazê-lo.
É o que Hegel chamaria de processo dialético: tese, antítese e síntese. O problema é que as pessoas tendem a estancar esse processo quando descobrem que estavam erradas, como se nunca fossem achar a solução para aquela situação, interrompendo a evolução da própria consciência.
Entretanto, quando damos algo como inverdade, inútil ou incerto, não estamos tratando de um movimento puramente negativo. Isto se trata de, ao ver no resultado sempre o puro nada, abstrair e ver que “esse nada é determinadamente o nada daquilo que resulta”. Aquilo que você tira do processo de falha é justamente o mais importante, mais importante que a falha em si. E aí você pode recomeçar.
Hegel diz que a nossa consciência sofre de uma violência que vem dela mesma nesse processo. E, nessa angústia, ante a verdade, podemos recuar e tentar salvar o que estamos quase perdendo. Isto requer trabalho, mas o próprio desassossego daquilo que achávamos que era verdade ou certo atormenta a inércia. Mas, para isso, é preciso não temer a verdade.
O autor confiava tanto nesse processo dialético que tinha uma visão otimista sobre a sociedade. Uma sociedade que, através do processo de conhecer a própria consciência, chegaria a razão absoluta. Eu já não confio tanto nas pessoas assim, mas eu posso estar errada. E, se assim for, espero disso tirar alguma coisa…
“A consciência natural vai mostrar-se como sendo apenas conceito do saber, ou saber não real. Mas enquanto se toma imediatamente por saber real, esse caminho tem, para ela, significação negativa: o que é a realização do conceito vale para ela antes como perda de si mesma, já que no caminho perde sua verdade. Por isso esse caminho pode ser considerado o caminho da dúvida ou, com mais propriedade, caminho de desespero; pois nele não ocorre o que se costuma entender por dúvida: um vacilar nessa ou naquela pretensa verdade, seguido de um conveniente desvanecer-de-novo da dúvida e um regresso àquela verdade, de forma que, no fim, a Coisa seja tomada como era antes.” Hegel