Uma definição de Filosofia (3): exercício de aporia.
Por: André Q.
07 de Junho de 2017

Uma definição de Filosofia (3): exercício de aporia.

Filosofia Problemas

A definição da atividade filosófica é um dos maiores desafios da Filosofia. Fato que surpreende, pensa o leitor, quando uma ciência mal é capaz de definir-se. Entretanto, a incerteza, o “coxear” de Merleau-Ponty, é paradoxalmente a grande força da sua caminhada. Devemos admitir: o não nomeado, aquilo que escapa da rede dos conceitos exige o esforço contínuo para desvelar as próprias razões da existência. Ainda mais; este trabalho revelará as marcas características daquele saber. A Filosofia, indefinível, não será, em novo paradoxo, remetida à margem, ao trágico e ao ingênuo e ao oposto da seriedade.

Marginal será a Filosofia, posto que não vive no centro. Tal caráter vital é tão necessário quanto o será o distanciamento requerido da centralidade: distante, é possível examinar e captar sentidos. No centro, esmagada pelo fluxo violento, ilusório e caótico das coisas, à Filosofia tudo seria acessível, mas nada seria apreendido.

A Filosofia é trágica. Ela carrega sobre si, junto com o pesar da vida, o peso acusativo “do seu contrário”, assinala o filósofo. A sua tragicidade reveste-se, tal qual aquela dos gregos, de uma luta contínua, um enfrentamento que encontra a esperança de amparo apenas na elaboração das sínteses e conclusões. Mas as premissas e os silogismos não têm, todavia, este ânimo extraído da indagação vital, do enfrentamento dos problemas, não raros, tragicamente insolúveis. Uma das tragédias do pensamento é a dissociação entre a frieza do raciocínio e a força imperativa dos fatos que arrastam...

Ingênua será a Filosofia, enfim. E entendamos por essa ingenuidade aquilo que é antípoda da previsão, da séria burocracia e da ordem peremptória. Ao imobilismo, ao extático que afirma a seriedade e o sacro finalismo, a ordem filosófica contradiz pela espontaneidade das indagações e pelo incômodo das questões que é capaz de suscitar. Como o filósofo pré-socrático de Nietzsche, o compasso do seu gênio remete ao gesto que salta sobre o conceito e recusa o procedimento hierático da sabedoria dos sacerdotes e dos reis.  

Como pode a Filosofia renunciar a sua tarefa e vocação? Ela se o fizesse, iria ressentir-se do convívio do centro, da ordem do gabinete e do absoluto previsível. Assim ordenada, ela não perderia a razão da sabedoria? Por outro lado, não seria salutar que o Homem pudesse ouvir, refletir e atentar àquele saber vital, que, da margem, pode observá-lo friamente, ou, impetuosa, produzir da margem para o centro, a obra de uma destruição?  

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André Q.
Taboão da Serra / SP
André Q.
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Doutorado: Filosofia (Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP))
Sou professor de História, Filosofia, Sociologia
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