O Fantástico mundo dos playboys-doutores de Facebook
Por: Ricardo C.
14 de Setembro de 2014

O Fantástico mundo dos playboys-doutores de Facebook

Economia Estatística

Texto retirado do meu blog do facebook https://www.facebook.com/sobreeconomiapoliticaesociedade

O Facebook é um lugar fantástico, uma sociedade paralela que beira à perfeição. Aqui, só tem gente bonita (as fotos dos perfis não nos deixam mentir!). Ricos? Quase todos são, basta ver as imagens dos camarões e das lagostas que descansam em paz nos pratos de alguns usuários, que têm a paciência de fotografá-los antes de digeri-los, em nome da reputação virtual. 

Nesta Rede Social, quase todos são astros do funk ostentação. Se a renda per capita e o gini de renda do Brasil refletisse esta realidade, estaríamos melhor posicionados em riqueza - e distribuição - do que a Noruega e Luxemburgo, juntos.
Quantos pós-doutores em Ciência Política, Economia, Sociologia e Filosofia você vê, por dia, em sua timeline? Lembra daquele menino que você conheceu ano passado, e que mal sabia falar, como será que ele ficou tão sábio de repente, a ponto de postar tantas coisas interessantes? O Google -uma espécie de Freud do século XXI - explica!

Infelizmente, a maioria dos grandes gênios virtuais é analfabeto informacional, não consegue distinguir informação de conhecimento, tão pouco formular um raciocínio sem recorrer ao senso comum para justificar suas ideias. 
Não obstante, teóricos da Wikipedia são razoavelmente persuasivos, muito por que é mais fácil - e mais rápido - absorver um raciocínio pronto a desenvolver o seu próprio. Como nós somos, acima de tudo, prestadores de serviços, ensinaremos os inteligentíssimos leitores desta página a identificar, desconstruir e, principalmente, a não se tornar um playboy-doutor de Facebook.

Neste sentido, a identificação é a etapa mais trabalhosa. Primeiro de tudo, estes sujeitos certamente são os que fazem check-in até no banheiro da casa da mãe. Se vão ao shopping, fazem check-in. Se vão ao parque, fazem check-in. Só não fazem check-in no puteiro (desculpem o termo!) ou no motel, no caso de não estarem acompanhados da pessoa que detém o direito de exclusividade do contrato de relacionamento (assunto já discutido aqui no texto “Contratos, relacionamentos e poligamia”). 

Fazer check-in em todos os lugares é uma forte sinalização de que a pessoa só quer aparecer e, provavelmente, em uma discussão ou debate, utilizará de argumentos esdrúxulos, com base em fontes obscuras e questionáveis, que nao dão suporte de fato à argumentação do dito cujo. Ele vai fazer isso pra aparecer, com o objetivo de ser visto como um cara que, além de culto (que foi ao “Cinermak” 45 vezes no último ano) e rico (que comeu aquela “lagosta” da “Vivenda do Camarão” da Radial Leste), é inteligentíssimo, pois conseguiu defender a ideia de uma inflação (des)controlada com base no preço dos limões.

Sempre que você ver uma postagem “bacana”, que faz uma análise precisa da “rebinboca da parafuseta”, daquele sujeito que você sabe que nunca pisou em uma biblioteca na vida, faça uma busca no Google (o provável instrumento de pesquisa do próprio cidadão) e procure as fontes que ele usou (serão, provavelmente os primeiros resultados), e os argumentos falaciosos nos quais ele se baseou, e constate que isto foi feito provavelmente sem dar a menor bola para a qualidade do argumento em si.

Mas, na verdade, o aspecto mais difícil não e a identificação, mas a desconstrução do argumento do cara. Primeiro você vai precisar de conhecimento de fato sobre o assunto que ele vem postando (tai um bom motivo pra continuar lendo o que a gente posta aqui!), já que em um debate de playboys-doutores de Facebook não tem como se tirar nada de positivo.

Ademais, uma dica: busque sempre o conhecimento, e não apenas informação. Conhecimento você não adquire de uma simples leitura, mas do raciocínio e da reflexão sobre a leitura de textos escritos por pessoas que se dedicam ao tema (os verdadeiros doutores).

Depois que você tiver algum conhecimento, utilize algum método de desconstrução do argumento, de preferência lógico (as proposições dele levam a contradições) ou socrático (a constante repetição da pergunta leva a contradições). Uma hora, aparecerá um argumento do tipo “pelo teorema das evidencias informais, podemos concluir que…”, e é ai que você pega o “malandro”! Quando confrontado com uma contradição, ele provavelmente não continuará o debate, e você majestosamente desconstruiu a argumentação de um playboy-doutor de Facebook.

Para não se tornar um playboy-doutor de Facebook, tome cuidado com seus argumentos. Não e porque o fulaninho que posta toda semana na Veja ou na Carta Capital defendeu uma ideia que ela será necessariamente verdadeira. Ademais, não é porque uma ideia é consenso entre os blogs que têm uma preferência política que se trata de um fato. Ela é consequência de uma racionalização das observações de pessoas tão passiveis de erro quanto uma criança, quanto nós, e sempre existirão furos e incompletudes no pensamento. Não existem verdades absolutas, o que existem são formas de se observar o mundo e o quanto o mundo reflete estas formas de pensar.

Existem instrumentos para se chegar a uma versão mais realista, de forma bastante segura (e a estatística se destaca como o principal instrumento neste sentido), mas eles podem nos dar apenas respostas parciais sobre aquilo que imaginamos que seja - ou, ainda, podem não nos dar respostas de fato. O importante é sempre lembrar que, se o nosso conhecimento, como humanidade, é tão limitado, imagina uma bilionésima parte dele! Pense nisso antes de postar besteiras nas Redes Sociais. Já existem muitos idiotas com certezas no mundo, seja apenas um inteligente com duvidas!

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Ricardo C.
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