Versão de Fala Amendoeira, de Carlos Drummond de Andrade
em 30 de Junho de 2016
Embora muito se tenha falado da tradução como ferramenta ultrapassada no ensino da Línguas estrangeiras, muitos professores e pesquisadores reconhecem a utilidade dessa ferramenta na aquisição de uma nova língua, principalmente para adultos.
Logicamente, esse recurso não pode e não deve ser usado de forma sistemática e, para além da tradução pontual de palavras, ele pode ser introduzido no programa esporadicamente, em forma de textos que despertem um interesse específico do aluno (arte, literatura, culinária, política, etc.) e/ou temas da atualidade.
Benefícios do uso da tradução como ferramentas para o ensino-aprendizagem de LEs:
- Ao buscar equivalências, o aluno utiliza o tempo disponível de forma eficiente. Por exemplo, quando houver algum problema para saber o significado de palavras de sentido abstrato como preposições e conjunções, o uso da tradução resolve rapidamente o problema;
- o uso da tradução permite ao aluno fazer contato entre o conhecido e o desconhecido, possibilitando, assim, um confronto cultural mais profundo entre as duas línguas, o que lhe possibilita um maior domínio da cultura de chegada.
- a tradução é muito útil também para que os alunos desvelem os limites e as características do código linguístico materno, proporcionando, dessa forma, a aprendizagem das regras de desinências e a estrutura de um texto e a sua utilização aprofundando seus conhecimentos nas estruturas lexicais e gramaticais de forma autônoma, independente. Como resultado, aprendem a associá-las para formar frases;
- pela tradução, o aluno também aprende o mecanismo de funcionamento e, dessa forma, é conscientizado e ajudado a compreender que o que funciona numa língua não necessariamente funciona numa outra. Assim a tradução faz com que os alunos percebam que as línguas utilizam meios diversos para expressar a mesma informação (WIDDOWSON apud ROMANELLI, 2009);
- a tradução também pode ser eficaz no que diz respeito à descoberta de que a passagem de língua para língua é um problema não somente de etiquetas lexicais e de estruturação morfossintática, mas de passagem, comparação, luta entre duas visões de mundo encravadas nas palavras, na língua. Isso possibilita o desenvolvimento da capacidade de descoberta indutiva de uma LE por parte do aluno; ao traduzir um texto em uma língua neolatina não conhecida, por exemplo, permite, a quem conheça algumas delas, realizá-lo de forma autônoma. Além de separar o processo automático de compreensão daquele controlado do traduzir, tornando possível uma abordagem hermenêutica individual a uma língua não conhecida mais próxima do ponto de vista lógico;
- A tradução também ativa, no cérebro dos alunos, uma rede bilíngue, que permite memorizar cada unidade da LE em direção à unidade equivalente da língua materna (L1), desenvolvendo habilidades processuais para gerenciar unidades de língua viva e nunca somente palavras abstraídas do contexto pragmático;
- Instiga os alunos a encontrarem soluções melhores e a cooperarem entre si para chegarem a um texto final que todos consideram a melhor tradução possível.
- A tradução tem também um papel social, pois coloca o o aluno diante da alteridade cultural não traduzível e, por reflexo, coloca imediatamente em crise sua identidade, fazendo com que o aluno pense no que ele é e o que ele possa vir a ser, contribuindo, dessa forma, para uma mudança intelectual e social.
Bibliografia
ROMANELLI, S. O uso da tradução no ensino-aprendizagem das línguas estrangeiras.
Revista Horizontes de Linguística Aplicada, v. 8, n. 2, p. 200-219, 2009. Disponível em:
<http://www.red.unb.br/index.php/horizontesla /article/view/2942/2546> Acesso em: 08 nov.
2011.
COSTA, W. C. Tradução e ensino de línguas. In BOHN H. I; VANDRESEN, P. Tópicos de Lingüística Aplicada ao ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: UFSC, 1988. p. 282-291.
CASADO, A.; GUERRERO, M. La traducción como estrategia cognitiva em el aprendizaje de segundas lengua. In: El español como lengua extranjera: de la teoría al aula. Actas del III Congreso Nacional de ASELE, Málaga, 1993, p. 393-402.
BALBONI, P. E. A tradução no ensino de línguas: história de uma difamação. In-Traduções,
2011. Disponível em: <http://www.pget.ufsc.br/in-traducoes/>. Acesso em: 09 mar. 2011.
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