Equinócio de Primavera
em 15 de Agosto de 2016
Num mundo competitivo e que a todo instante nos desafia, nos incita a nos adaptarmos sempre a uma nova realidade, onde é preciso ser capaz de tomar decisões, planejar caminhos, buscar oportunidades e percebê-las no momento que se apresentam. No ato de jogar xadrez se convive com toda essa dimensão conflituosa, pois os caminhos que vão ser tomados não dependem apenas dos seus atos como enxadrista e sim do conjunto de ações produzidas no tabuleiro segundo duas visões diferentes e que a vitória sorrirá para aquele que melhor conseguir ler os fatos que se apresentarem e assim tirar melhor proveito, com base no melhor plano empregado, assim o é o plano de governo.
É possível então que a prática enxadrística, de um modo geral e simplificado da realidade, seja um ato político, onde se estabelece num cenário limitado, pois no cenário real, os agentes são diversos e não limitados a apenas duas visões de mundo, assim pode-se em primeira aproximação, dizer que o ato de jogar xadrez é também um ato político, assim sendo, podemos estar desenvolvendo a nossa capacidade de resolver conflitos no exercício de ceder espaços ou poder, de maneira a buscar trocas vantajosas, que se configurem assim, no futuro. Dessa maneira podemos entender que os processos decisórios envolvem lógicas de poder, que precisam ser negociadas e que assim contribuam para a formação de um cidadão, desenvolvendo qualidades que estão latentes numa mente questionadora e inquieta, ávida por novos desafios e capaz de encará-los, tornando pessoas mais autônomas e capazes de gerir ou mesmo de exercitar a liderança, pois serão capazes de tomar decisões coerentes após a avaliação de uma situação conflituosa, nessa dimensão mais uma vez observa-se esta identidade política, pois não é possível superar um conflito sem ceder, este é um exercício político, onde se faz o que é necessário para se chegar a um objetivo maior, conforme Maquiável (1532).
Jogar xadrez pode ser ,em paralelo, um diálogo político onde cada oponente define suas considerações iniciais e todas as ações vão depender dessa ação política, que tem forte apelo social. A política também pode ser entendida como uma ação social onde se busca um bem comum para todos e em algum momento da partida os jogadores se vêem coexistindo de forma harmoniosa, sem contudo em primeira instância, significar um incômodo um para o outro. É este o equilíbrio dinâmico que se busca entre as nações, ou entre as comunidades em maior ou menor escala, a coexistência pacífica para cada qual será intermediado por um conjunto de regras que são descritas por leis que vão regular os direitos e deveres e que só tem sentido numa sociedade onde existam desigualdades segundo More (1516), assim são necessários instrumentos reguladores dos direitos e deveres, a figura da justiça é crucial para intermediar estes jogos de poder, que surgem das diferenças. No universo enxadrístico isso é comum, pois há um conjunto de regras ou leis onde se observa e se limita o espaço vulnerado e que podem ser relacionados às dimensões sociais bem distintas para cada personagem da partida enxadrística, conferindo paralelos incontestáveis com o modelo medieval de sociedade.
Finalizando este é o legado social que pode estar nas entre linhas da prática enxadrística, onde se pode se desenvolver uma aproximação social, uma leitura de mundo e assim compreender as relações de poder e as desigualdades.