O Temeroso OEE
em 25 de Abril de 2019
É difícil controlar saldos de estoques com materiais a granel, é verdade. Quando os itens estocados obedecem a um padrão unitizado, são peças e equipamentos que contam com embalagens bem elaboradas, e que durante seu processo de desenvolvimento levaram em consideração a paletização, o tipo de armazém - vertical ou horizontal - e as dimensões com as quais cada local de armazenagem foi arquitetado, tudo fica relativamente mais simples. Temos unidades definidas, que obedecem (pelo menos essa é a regra) as condições de movimentação manual para abastecimento, favorecendo a tal da ergonomia laboral.
Mas quando o material é a granel, tudo parece ser mais complicado, afinal não temos mais o fator que no Lean Six Sigma consideramos como dados discretos, ou seja, que se pode contar com números inteiros. Assim como as galinhas não botam 1,5 ovos, os estoques em peças não contemplam, por exemplo, 1,5 capacitores, ou 2,3 disjuntores. Mas as vacas podem produzir 10 litros e meio de leite por dia, o que classifica esse saldo como medida, portanto, dados contínuos, ou seja, que podem ser medidos apenas com o auxílio de equipamentos apropriados, e não por simples contagem. Os estoques a granel obedecem ao mesmo princípio.
Uma das grandes dificuldades no controle de saldos desta classe de itens é justamente a verificação de pilhas de estoque, montadas com pás carregadeiras, caminhões basculantes ou até mesmo com auxílio de coletores em esteiras que vão alimentando os locais de estoque pela parte superior, alimentados por esteiras que coletam os materiais em pontos de descarga e os transportam até o local de estoque, formando as pilhas piramidais. Como contar um estoque desses!?
A tecnologia vem ao longo dos anos tentando auxiliar os controladores de estoques dessa natureza com equipamentos em Raio X, Laser, etc., os quais fazem uma sondagem e mapeamento da pilha conforme suas características como formação (altura, largura da base, do centro, do topo) estimando assim a quantidade armazenada. Não seria novidade afirmar que fatores como umidade do material nos inúmeros pontos da mesma pilha com certeza alterarão o resultado, pois a densidade do material será diferente, e isso reduzirá a confiabilidade da medição. Portanto, o método está longe de ser 100% eficiente para grande parte dos materiais desse tipo.
Como boa parte desses itens ocupam as classes A e B da curva ABC nas indústrias onde são consumidos, é fundamental que haja um excelente controle de estoques para evitar dissabores no fechamento anual, pois as diferenças impactam diretamente no resultado das empresas. Já que as contagens das pilhas são muito complicadas e sem efetividade garantida, controlar as movimentações de abastecimento dos processos pode ser um grande reforço da acurácia. Mas... como controlar isso?
Em Estatística e Data Mining, quando o número de variáveis contínuas é muito grande e dificulta as análises, podemos simplificar as coisas efetuando o que chamamos de discretização dos dados, ou seja, adotamos para algo que parecia ser impossível de avaliar uma conversão em um formato que se torna muito mais prático e agrupado para concluir as análises e fechar predições. Partindo desse princípio, se ao invés de movimentarmos materiais a granel em pás carregadeiras para alimentação de processos, o fizéssemos com o auxílio de contenedores que teriam sua tara e capacidade pré-estabelecidas, teríamos então a discretização dos dados de movimentação de estoque, ou seja, o leite passaria a ser medido pelo balde, que pode ter capacidade de 2 litros e meio.
No final das contas, o que o controlador deveria registrar é a quantidade de contenedores que seguiram para a produção, e depois a conversão em peso (toneladas) seria feita automaticamente para baixa em um WMS, em algum ERP.
Mas e a movimentação propriamente dita? O ato de completar os contenedores e transportá-los até o ponto de abastecimento, como fica?
Na minha trajetória com Lean Manufacturing, tive a oportunidade de implantar de forma bem sucedida o método de abastecimento com uso de rebocadores e vagões. O mesmo método pode ser utilizado em indústrias que operam com o beneficiamento de matérias-primas a granel, por meio de um equipamento tracionário que suporte o peso estipulado pelo número de vagões contenedores que deverão seguir carregados para a produção em intervalos de tempo pré determinados. Existem várias marcas de rebocadores tracionários com boas ofertas no mercado local, e também outras opções importadas. Cabe avaliar a melhor relação custo x benefício para cada situação.
Sobre os vagões contenedores, os mesmos podem ser fabricados por empresas que operam com ferragens e estruturas modulares em metal. O custo não é alto, e com certeza a redução de perdas em estoque trará um payback bastante rápido e satisfatório.
Indo um pouco além, as baixas em estoque poderão ser efetuadas através de códigos de barras afixados nas laterais dos vagões. Os controladores poderão contar com coletores de dados digitais nos quais o WMS estará instalado, e uma boa infraestrutura os conectará aos servidores do sistema, processando as baixas em tempo real. Isso funciona e garante inclusive boas informações para que os Planejadores de Materiais tenham rodadas de MRP mais frequentes e consigam acompanhar os níveis de estoque, efetuando compras com mais propriedade.
Com toda certeza, no final da implantação, os benefícios se tornarão muito evidentes, quebrando inclusive as famosas resistências, sempre impostas por quem está acostumado a apanhar dos processos, mas não sabe que a vida pode ser bem melhor... e será! Ou a empresa poderá sucumbir, por inanição causada pela concorrência mais inteligente. O mercado está exigindo respostas mais rápidas, redução de custos, inovação e disrupção em processos. É pegar ou... vão te largar!
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