O ensino comunicativo de línguas tem como foco fazer a/o aluna/o se comunicar (parece óbvio, né?). Esse é o objetivo principal. Não se trata de uma metodologia como muitos pensam, mas de uma abordagem, uma visão ou filosofia sobre como as línguas são usadas e sobre suas finalidades. Não adianta, por exemplo, saber muito sobre gramática se isso não vira comunicação oral ou escrita; não adianta saber como funcionam os tempos verbais, se ao fim, não se consegue ler um artigo relevante ou um livro e expressar uma opinião.
Comunicação é nosso objetivo último como seres humanos. Aprendemos primeiro a falar, em seguida a escrever e mais tarde somente a refletir categoricamente sobre a língua. Gramática é muito importante como uma ferramenta que nos ajuda a nos expressar melhor, e a escrever melhor, mas no dia a dia, a gramática (normativa, aquela dos livros que têm o título de "Gramática" na capa) é tão importante quanto o modo como falamos, com quem falamos e quando e onde falamos. Pensando em português brasileiro, por exemplo, quem vai comprar um pãozinho na padaria não diria preferencialmente "Por gentileza, gostaria de comprar cinco pães" (se essa é sua preferência, nada contra!). Muito provavelmente, e com muito mais naturalidade diríamos "me vê cinco pães". Isso só um exemplo de como a comunicação está relacionada à forma, ao envelope, por onde viaja: de quem e para quem viaja e em que cenários.
No ensino de inglês é muito comum alunas/os reclamarem de não saberem falar bem nem ouvir. Isso porque há uma tendência no ensino brasileiro de privilegiar a escrita e a leitura em detrimento das duas outras habilidades (muito mais comuns e urgentes no dia a dia para a maioria das pessoas). O ensino comunicativo vem ocupar essa lacuna com aulas onde a comunicação e a negociação de significados são o ponto central. Nenhuma dessas quatro habilidades, aliás, são negligenciadas, mas tratadas como objetos que têm como centralidade a troca de informação entre seres humanos que querem e precisam se expressar. A gramática vem como o alicerce que sustenta as interações e permite que individuos se entendam, se compreendam. O problema nasce quando a forma não corresponde à mensagem que se quer passar e a compreensão mútua é prejudicada. Chamamos isso de quebra na comunicação.
Para avaliar o desenvolvimento de vocês enquanto "aprendentes", pensem sempre se conseguem se expressar mais e melhor e sobre mais assuntos do que há algumas aulas atrás. O aprendizado de idiomas é muito mais em formato de espiral do que linear. É falando que se aprende. :)
Pedro
Seu artigo é muito interessante e fica claro que você é muito bem preparado e tem muita experiência. E leva a profissão a sério!
Há muito o que discutir sobre o ensino de inglês no Brasil. Considerando a quantidade de escolas e o baixo índice de proficiência no país - algo não 'vai bem'.
Você iniciou uma discussão importante e espero que outros professores leiam e participem.
Parabéns pela iniciativa e boas aulas!
Olá Rosana, tudo bem? Muito obrigado pelo seu comentário.
Sim, eu levo a profissão a sério. Quando eu comecei a dar aulas, a primeira coisa que eu tive que admitir é que a gente precisa de aperfeiçoamento constante e troca com colegas mais experientes. Vital!
Acho interessante também a discussão de como levar o ensino comunicativo para as aulas on-line sem abrir mão do planejamento e dos objetivos. Tenho pensado bastante a respeito.
Um abraço!
Pedro