O medo
Por: Alcides N.
04 de Outubro de 2020

O medo

Um análise Teológica

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        O medo é a emoção que o sujeito (principalmente o ser humano) experimenta quando se encontra frente a uma ameaça, geralmente circunscrita, que atenta contra sua integridade psicofísica e da qual não pode defende-se adequadamente. No entanto, uma distinção entre o medo e angústia precisa ser feita. Normalmente, confunde-se medo com angústia que apesar de possuir a mesma raiz antológica, não são a mesma coisa. A distinção conforme apresenta Tillich (1968), é estabelecida pelo fato que o medo "tem um objeto definido [...] a angústia não tem objeto, ou melhor, para dela falar com uma frase paradoxal, o seu objetivo é a negação de cada objeto".

       Embora pareça bastante simples, a origem do medo ainda é incerta. O consenso geral entre os psicólogos contemporâneos sugere que o medo certamente corresponde a mecanismos inicialmente inatos, dentro de um plano biológico-evolucionista, mas também corresponde a mecanismos apreendidos, seja por condicionamento, seja pela interferência de fatores culturalmente caracterizados em seu meio social.

         Dado as considerações sobre a origem do medo, a pergunta que aguça o entendimento é: qual o objetivo do medo nos seres humanos? O que se sabe, é que o medo do homem se manifesta em situações em que ele experimenta uma ameaça devida à presença de algumas realidades, tais como: a solidão, a escuridão, a sensação do abandono, as perdas, o fracasso, doenças, da morte e dos sofrimentos físicos e psíquicos, dentre outros. Segundo nos propõe Giuseppe (1999), os homens temem, sobretudo, o "sofrimento que é gerado em situações de enfermidades muito graves, que frequentemente provocam desordem e perda do sentido da vida". No entanto, na realidade, "o medo do sofrimento leva o ser humano a considerar mais a fundo um medo "primordial": o medo da morte". Em outros termos, basicamente, podemos melhor compreender de acordo com a definição dada por Giuseppe, onde diz que: "entre o sofrimento e a morte existe um estreito relacionamento, no sentido de que o primeiro quase que inevitavelmente chama o segundo".

        Embora, o medo da morte seja extremamente complexo e danoso à psique humana, na verdade não se trata de está próximo do fim, mas também o temor em forma de medo, de perder alguma coisa extremamente importante. Como bem definiu Giuseppe (1999), "a morte, na verdade representa para o homem o momento mais crítico de sua existência porque rompe todos os seus projetos, o separa de seus afetos e das coisas que para ele significam amor, segurança, paz, carinho e senso de realização".

         Sendo assim, podemos concluir que todos os homens estão sujeitos ao medo. E mesmo aqueles, que praticam algum tipo de fé, não são poupados desse sentimento avassalador que pode ter características próprias ou formas patológicas como as: doenças, problemas psíquicos e outros males da alma. Na verdade, este medo revela uma questão antropológica e que vai muito além da simples compreensão, pois revela a impotência dos indivíduos diante de sua própria existência, que nada podem fazer.

           Não obstante, sobretudo, nenhum homem pode fugir da emoção do medo. Isto porque, o medo é uma constante da existência humana, e mesmo onde se pratica fé em Deus, como fonte absoluta para superar todos os desafios da vida, não se verifica a ausência dessa fraqueza existencial que aflige todos os homens. Mas afinal, qual a reposta bíblica para o problema do medo? Na verdade, na Escritura Sagrada, encontraremos dezenas de casos de homens que tiveram algum tipo de medo em sua caminhada, indistintamente da sua fé em Deus, ministério ou chamado.

          De acordo com as narrativas de (Mateus 26. 37-38) e (Lucas 22.44), o próprio Jesus teve medo do sofrimento e da morte, estabelecendo assim, uma confirmação do que abordamos anteriormente, que consiste no fato, mesmo onde "se prática a fé, não se percebe ausência do medo". Embora os homens procurem encontrar em Deus um subterfúgio para não serem tomados pelas emoções que os assombram, o medo sempre estará presente por se tratar primeiro de mecanismos inatos, e consequentemente por mecanismos apreendidos. Então pra que serve a fé? Na verdade, o papel da fé não é obstruir ou tirar o medo da existência dos indivíduos, mas segundo definiu Giuseppe (1999), "a verdade da fé é outra: ela revela o sentido mais profundo do homem e da sua existência. Pelo que, à sua luz, o medo é antes de tudo explicativo do ser humano: criatura limitada, estruturalmente frágil e impotente".

           Sendo assim, a definição mais adequada no que se refere ao sofrimento e o medo da morte de Jesus Cristo, está na proposta sugerida por Rienecker (1998), que argumenta: "Lucas diz: "ajoelhou-se". Marcos informa: "Caiu no chão". Mateus: "Caiu de rosto em terra". Jesus cai de joelhos e exclama, das profundezas de seu coração, de maneira que soe longe pela noite enluarada: Meu Pai, se é possível, que esta taça passe longe de teu Filho! Prostra-se sobre o rosto, deita-se nos chão e se retorce como um verme, e grita "como grande clamor e lágrimas" (Hebreus 5.7), as mesmas palavras: Aba, Pai, tudo te é possível. Se for possível, livra-me desse cálice (Marcos 14:36).

         Portanto, desconsiderar o medo, seria o mesmo que fugir das leis fundamentais que regem a natureza humana. Jesus levanta da batalha, liberto do medo, como diz a carta aos (Hebreus), ou seja, "completamente dono de si", como resulta no ânimo da pessoa que se entrega numa obediência total. A morte na cruz não perdeu de forma alguma seu tormento. No entanto, afirma-nos Rienecker (1998),"ela não tem mais a mesma impressão que causava expectativa. Ele se rendeu integralmente a ela".

           Por fim, a vitória da Páscoa assinala o destino de todo o medo humano, que de certo modo é vencido pela vitória da vida em Jesus Cristo. Portanto, segundo declara Giuseppe (1999), o cristão pode considerar o medo sempre como uma "experiência penúltima". Que se estabelece pelo anuncio da fé e o põe perante o "ícone pascal" através do qual, ele consegue "força, coragem, sobretudo, esperança na total libertação de todos os medos. Afinal, a meta última relativiza cada experiência de fraqueza humana, para a alegria absoluta do todo consumado".

Referências

CARSON, D. A. Comentário Bíblico. São Paulo: Vida Nova, 2009.

CINÁ, Giuseppe. Dicionário Interdisciplinar da Pastoral da Saúde. São Paulo: Paulus, 1999

.MORELAND, J. P apud CRAIG, Lane, W. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005.

RIENECKER, FRITZ. Evangelho de Mateus. Comentário Esperança. Curitiba-PR: Editora Evangélica Esperança, 1998.

______. FRITZ. Evangelho de João. Comentário Esperança. Curitiba-PR: Editora Evangélica Esperança, 1998.

TILLICH, Paul. Coraggio di Esistere. Ulbaldini: Roma, 1968.

______. Paul. Dinâmica da Fé. 3a ed. São Leopoldo: Sinodal, 1985.

Alcides Borges é formado em Administração de Empresas (2011) pela Faculdade Sumaré, Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2015) e Mestrando em Filosofia na Universidade de São Paulo - USP (2018) ePós-Graduando no curso de Docência no Ensino Superior na Universidade - FMU (2017) e palestrante do Centro Educacional Logos.

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