Método científico: pra que serve mesmo?
Por: Alessandra P.
23 de Abril de 2014

Método científico: pra que serve mesmo?

História da Arte

 Situação 1: Você está chegando em sua casa, carregando muitas sacolas do mercado, mochila, aquele livro pesadíssimo de bioquímica (calculo, botânica, programação... escolha seu favorito) e além disso morrendo de vontade de ir no banheiro, ou seja, fazendo um verdadeiro malabarismo de invejar qualquer artista de sinal de trânsito. Claro que esse é o momento perfeito para o telefone de casa tocar. Você procura rapidamente a chave, mas não consegue achar e se atrapalha enquanto o telefone ainda toca. Larga as coisas no chão e procura desesperadamente pela chave em sua mochila. Fica pensando em quem poderia estar ligando, afinal, você nunca dá o telefone da casa para ninguém. Poderia ser algum familiar com notícias ruins? Havia uma tia um pouco doente, mas se fosse isso, ligariam no celular. Você também mandou alguns currículos meses atrás para algumas empresas. Poderia ser a grande oportunidade de emprego que você tanto procura? E você está perdendo porque não consegue encontrar as chaves? Se bem que hoje em dia tudo acontece por email, né? Não deve ser importante. O telefone para de tocar. Ah, podia ser só telemarketing mesmo. Se for importante, voltarão a ligar. Por fim você encontra a chave de casa, abre a porta, vai ao banheiro e segue seus afazeres. Quando lembra do telefonema, confere o celular e os emails, mas não encontra nenhuma informação relevante. Realmente, devia ser algum telemarketing.

 Situação 2: Você, cozinhando pro seu affair, querendo impressionar, decide fazer aquele prato delicioso que é a sua especialidade. À medida que prepara o prato, vai observando a aparência e provando para ver se precisa acrescentar mais algum ingrediente ou cozinhar mais, até que satisfeito, consegue preparar o melhor miojo que fizera até então, naquela semana, claro.

             O que essas duas situações tem em comum? O que elas têm a ver com o método científico? E por que diabos eu preciso aprender isso? Eu diria que muito, tudo e pra vida. Na verdade, o método científico é um processo natural em nosso comportamento e aprender sobre ele nos ajuda na compreensão do mundo, no desenvolvimento do pensamento e do raciocinio lógico. Se você já se encontrou em alguma das situações acima, com certeza já praticou o método científico. Então, por que não entender um pouquinho mais como funciona e como as descobertas científicas são realizadas?

            Nos exemplos citados anteriormente, utilizamos o método científico sem nem perceber. Uma vez que nos deparamos com uma situação de dúvida podemos, a partir de uma observação simples, criar hipóteses a serem testadas. Quando ouvimos o telefone tocar, rapidamente imaginamos quem poderia ser. Essa é a questão inicial e as hipóteses formuladas foram: a tia doente, a proposta de emprego e o telemarketing. Nesse caso, não havia a ferramenta mais eficaz para comprovar as hipóteses, que seria atender ao telefone. Então, buscaram-se estratégias indiretas, como verificar o email e o celular, que descartaram, momentaneamente, as alternativas do emprego e da tia enferma. Por fim, concluiu-se que seria telemarketing. No segundo exemplo, ao cozinhar (algo bem rotineiro), testamos a todo o momento nossas hipóteses (será que precisa de sal? Será que está cozido?). É tão natural que não é necessário realizar grandes reflexões sobre o assunto. É instintivo e é lógico. Baseado nisso, o método científico se apoia nesses comportamentos tão naturalmente humanos, mas de uma forma mais organizada e sistemática, buscando unificar metodologias de forma que a ciência seja feita igualmente em todo lugar do mundo. Os experimentos devem ser reprodutíveis, tornando os resultados confiáveis e universais, independentemente de onde ou por quem tenham sido feitos. Ou seja, a ciência fala uma língua só. Obviamente, a comunidade científica é organizada, possuindo suas normas e regras (que incluem comitês, publicações específicas, associações unidas pelo interesse em um tema) e, normalmente, alguns assuntos se destacam, agregando mais recursos e pesquisadores. Mesmo assim, ocorrem fraudes e erros, mas a gente conversa sobre isso em outro momento.

            Ok, o método científico é inerente ao ser humano. E como fazemos isso cientificamente? Como funciona o método? Inicialmente, fazemos uma observação. Dentro de uma linha de pesquisa, estudamos o máximo que pudermos a respeito do nosso objeto de análise. Revisão bibliográfica, pubmed, Google, conversas com quem entende do assunto, fale até com o tiozinho da esquina se for o caso, enfim, informe-se! A partir dessa análise e observação, as perguntas serão formadas e em consequência disso, logo surgirão as primeiras hipóteses. Conhecendo melhor o assunto, aumenta a probabilidade de formular hipóteses mais próximas da realidade. O próximo passo é tentar provar as hipóteses. Nem sempre a ferramenta mais adequada estará disponível. Por isso, é necessário usar a criatividade aliada ao conhecimento (principalmente quando os recursos são escassos). Em alguns momentos, são os resultados indiretos que vão indicar se um determinado argumento é válido ou não, cabe ao cientista discutir e interpretar seus resultados. Essa etapa pode durar até o infinito (o rei do experimento!), principalmente quando perdemos o foco e não conseguimos definir qual pergunta queremos responder. É como tentar encontrar um destino em uma cidade que não conhecemos sem GPS, sem mapa e sem pedir informação a ninguém, apenas vagando. Talvez, com sorte, você encontre. Porém, uma vez que você tem sua pergunta, realiza seus experimentos e os analisa, está na hora de refletir se a hipótese construída anteriormente está correlacionada com os resultados obtidos. Novamente, entender do objeto de estudo é fundamental para interpretar os dados obtidos e tomar o caminho correto. É sempre melhor chegar à cidade desconhecida com o GPS ligado, certo? Com os resultados na mão, agora é hora de decidir se a pergunta foi respondida adequadamente, se são necessários novos experimentos, e principalmente (e talvez, o mais divertido para um cientista) quais as novas perguntas a serem respondidas. E assim o processo se inicia novamente. E de novo, e de novo. No modelo de ciência atual, esse processo se repete até que o conjunto de dados obtidos seja suficiente para “contar uma história” e ser publicado em uma revista científica especifica. Esse é o modelo utilizado por nós, cientistas, para contar aos outros cientistas, e ao mundo, o que estamos fazendo. E os outros podem copiar, repetir, fazer de novo alterando alguns detalhes, duvidar, citar ou até debochar da gente. E sim, eles fazem tudo isso. E o método científico é fundamental nesse processo.

            Muitos de nós, ao longo de nossa vida escolar e acadêmica, aprendemos o método científico através de professores que não têm a menor ideia do que de fato ele significa. A dificuldade em estabelecer paralelos entre o conteúdo e o cotidiano do aluno torna o assunto distante da realidade e essa lacuna só tende a aumentar, criando um abismo entre conceitos e realidades. Como resultado, temos a dificuldade em transportar o conhecimento para a realidade e exemplos que seriam tão simples e instintivos, passam despercebidos, tornando a prática científica incompreensível para uma maioria. Por isso, cada vez mais é importante falar e divulgar ciência em meios que não aqueles específicos e principalmente, fazer isso para não cientistas, em linguagem que todos possam entender.

 

 

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Alessandra P.
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Pós Doutorado: Pós-Graduação em Biologia-Genética (Universidade de São Paulo (USP))
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