Resenha - Traficantes do simbólico (Mariza Corrêa)
Por: Bruno F.
07 de Fevereiro de 2019

Resenha - Traficantes do simbólico (Mariza Corrêa)

"Traficantes do simbólico e outros ensaios sobre a história da antropologia"

Antropologia Ensino Superior Superior

Resenha

 

Corrêa, Mariza. Traficantes do simbólico e outros ensaios sobre a história da antropologia. Editora UNICAMP, 2013.

 

Bruno Farias da Silva

 

Este trabalho da professora Mariza Corrêa se enquadra em um grande projeto de história da Antropologia no Brasil. Este livro da professora Mariza caminha pela história da Antropologia no país passando pelas discussões presentes  na fundação da disciplina no país, bem como seus ícones e o meio no qual estavam inseridos até as transições teóricas e a formação de alguns cursos de graduação e pós-graduação, além da influência da situação burocrática da universidade (quanto às cátedras e a transição para o sistema de departamentos).

Sem o intuito de elencar a grande quantidade de informação cronológica apresentada no livro, busco apresentar um breve esboço das questões centrais evocadas pela professora Mariza. Ela desenvolve a temática, orientando seu trabalho em quatro capítulos:

  1.                   “Traficantes do simbólico”;
  2.                   “Traficantes do excêntrico”;
  3.                   “A revolução dos normalistas”;
  4.                   “A antropologia no Brasil (1960 – 1980)”.

Além de depoimentos e entrevistas com importantes personagens da História da Antropologia no Brasil:

  •                     Donald Pierson;
  •                     Emilio Willems;
  •                     Ruth Cardoso;
  •                     Verena Stolcke.

Seu livro tem um caráter ímpar, tendo em vista que trata-se de uma etnografia da própria Antropologia e de seus professores e pesquisadores. Desta forma, nomes e acontecimentos na história vão sendo resignificados, quando revividos para tentar nos explicar os caminhos que a Antropologia trilhou em nosso país.

A autora procura dar significado à história da Antropologia no Brasil conforme ela relaciona os sujeitos que fizeram a história. Desta forma, quando ela apresenta alguns dos primeiros programas de pós-graduação no Brasil (destaque para Museu Nacional, UnB, USP e UNICAMP) ela não apresenta apenas os eixos teóricos e temas mais recorrentes, as publicações e trabalhos sendo desenvolvidos, mas apresenta também as personagens envolvidas, suas inquietações, os locais e a relação com outras universidades e outros autores pelo mundo que tiveram sua contribuição para a Antropologia no Brasil, além do contexto político e social do período.

Vale ressaltar que entre as importantes informações fornecidas em seu livro, em certos momentos do texto a autora nos apresenta quadros com a composição do corpo docente de cada uma das quatro principais instituições ligadas à Antropologia, de tal forma que nos permite relacionar o período de estudo/pesquisa, a formação e a “árvore genealógica” das orientações de pesquisadores entre essas instituições.

Ao longo do livro, a professora Mariza mostra a importância das parcerias na academia e entre universidades e centros de pesquisa pelo mundo, ou ainda como afirma Donald Pierson, era necessário despir as ciências sociais de rótulos nacionais. Seu depoimento é bastante informativo quanto às parcerias e alianças formadas com pesquisadores e universidades estrangeiras, além de ser envolvente a forma que ele e sua esposa (Helen Batchelor Pierson) procuram inserir-se na cultura brasileira e aprender o português. Denota a importância que ele dava para o envolvimento do pesquisador com seu objeto de estudo e a necessidade de imersão no Campo.

Em meio à história da transição do sistema de cátedras para o sistema de departamentos, as histórias de Ruth Cardoso e seus conflitos com seu orientador (Egon Schaden) sobre a linha de pesquisa (aculturação), a tentativa frustrada de aprender alemão (juntamente com outras figuras importantes da época e do meio, tal como Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, entre outros) e as questões relacionadas à contratação de auxiliares e substitutos, bem como a substituição do titular de uma cadeira efetiva de professor, servem para ilustrar mais um período na história da Antropologia no Brasil.

Os depoimentos do alemão Emilio Willems e o norte-americano Donald Pierson contribuem para com a obra da professora Mariza com relatos sobre o período em que trabalharam no Brasil e as questões relacionadas à formação de profissionais, dificuldades de trabalho de campo e de financiamento.

No depoimento de Pierson, algumas situações que ele passou em seus trabalhos de Campo (como quando ele foi levado à delegacia para explicar o motivo de tomar notas sobre o movimento de pessoas em frente ao palácio do governo), nos faz pensar sobre o desconhecimento de grande parte da população sobre os trabalhos desenvolvidos nas ciências sociais, bem como sobre certos contextos políticos, tal como parece ocorrer nos relatos de Verena Stolcke em seus trabalhos com o grupo de camponeses.

As ciências sociais têm sua importância sobre o cenário político. Haja visto as perseguições acompanhadas de aposentadorias compulsórias ou de atestados de óbito, infligidas à acadêmicos no período da ditadura militar brasileira. Vale ressaltar o caso de Anísio Spínola Teixeira - importante figura na história da educação brasileira, mas também peça fundamental na história da ciências sociais no Brasil, na criação da CAPES e de convênios nacionais e internacionais para o fomento à pesquisa – e que foi encontrado morto no poço de um elevador no Rio de Janeiro em 1971 (período de ditadura militar) após já ter “confessado” ao colega Darcy Ribeiro a sua preocupação quanto as perseguições políticas.

Essas e outras questões abordadas no livro da professora Mariza Corrêa nos ajudam a compreender a trajetória da Antropologia e os rumos que ela toma atualmente.

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Bruno F.
Jaguariúna / SP
Bruno F.
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Graduação: Geografia (Universidade Estadual Paulista (UNESP))
Professor de geografia formado pela unesp e com 16 anos de experiência em sala de aula.
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