
Níveis no estudo do piano

em 03 de Janeiro de 2023
O estudo das escalas vai além da assimilação de dedilhados e exercitação motora dos dedos, é um ótimo instrumento para trabalhar diferentes articulações, timbres e cores. Costumo trabalhar escalas com todos alunos, independentemente do nível do aluno, sempre achei válido o trabalho de técnica pura no instrumento sendo possível observar os benefícios e progresso que este estudo traz para os alunos: além de aumentar a familiaridade com o instrumento também aumenta a confiança e desenvoltura na hora de tocar.
Peço aos alunos que pratiquem as escalas maiores e menores harmônicas após serem capazes de tocar pentacordes (escalas de cinco dedos) em todas as tonalidades. Claro que ninguém aprende os dedilhados de todas as vinte e quatro logo de primeira, eu costumo introduzir as escalas aos poucos, uma ou duas por aula começando pela escala de Dó maior. É verdade que Chopin afirmava que a escala de Si maior era a escala mais confortável para a mão direita, e apesar do compositor não ter deixado informação quanto a mão esquerda, a escala de Dó maior acaba sendo uma tonalidade mais acessível por ter menos acidentes. Proponho que os alunos iniciantes sejam capazes de executar todas as escalas em 1 oitava com as mãos juntas em movimento paralelo (subindo e descendo juntas), os alunos intermediários sejam capazes de fazer o mesmo em 2 oitavas e os alunos avançados, em 4 oitavas.
Executar as escalas com diferentes dinâmicas, em crescendo e diminuendo, em staccato e em legato, com pedal, sem pedal, com metrônomo e sem metrônomo, enfim, as variações são inúmeras.
Tenho observado que alguns alunos focam muito em exercitar os dedos e confiam basicamente no domínio digital do instrumento, mas “travam” do cotovelo para cima o que acaba criando tensão desnecessária. Isto ocorre principalmente quando o repertório passa a exigir uma sonoridade mais volumosa, com uma escrita mais densa. Por isso, acredito ser importante trabalhar o conceito de peso de braço através da sensação de cada articulação desde o início. Podemos dividir o estudo a partir da sensação nas diferentes articulações, isto é, diferentes pontos do braço: dedos, pulso, cotovelos, ombros e costas.
No geral, precisamos de todas as articulações e movimentos do braço inteiro em maior ou menor grau. A maior parte destas articulações são usadas instintivamente, mas acredito ser valioso racionalizar o uso e entender as sensações físicas de cada articulação, principalmente no momento de estudo. Através da sensação física é possível entender os distintos resultados sonoros obtidos a partir de cada movimento e conseguir combinar com imagens sonoras através da criatividade de cada um.
É importante incentivar a criatividade dos alunos mesmo durante o estudo das escalas, desta maneira eles vão criando a própria identidade sonora e passam a entender que o objetivo não está nos dedos, nem nas teclas, o objetivo é o som. E o estudo é mais que um exercício motor, é um laboratório sonoro. Como exemplo, além das variações de articulação, costumo pedir para que os alunos imaginem a seção de cordas de uma orquestra para determinada escala, a seção de madeiras em outra, um cantor, e assim por diante. Também dá para adicionar caráter às escalas e experimentar tocar a mesma escala de maneira heroica, marcial, brincalhona, séria etc.
Se você leu este post inteiro, obrigado! Por favor, sinta-se livre para comentar ou enviar dúvidas.Eu gostaria de deixar disponível os handouts dos pentacordes e das escalas.
Dica: Eu costumo imprimir em papel colorido, cada folha com uma cor diferente.
Bom estudo!
Texto retirado de https://danielpadovanpiano.wordpress.com/2020/02/22/estudo-das-escalas-para-o-aluno-de-piano-iniciante/