Adeus às escolas
Por: Darcio A.
17 de Outubro de 2022

Adeus às escolas

Do fio de cabelo preso ao conhecimento ao espaço de culto às personalidades

Pedagogia Reforço escolar Dificuldades Ensino Fundamental Acompanhamento Leitura Aulas de reforço Fundamental Dúvida

A instituição escolar, tal como ela foi um dia, essa não existe mais. Desapareceu, saiu de cena sem fazer barulho, sem nenhum aceno ou palavra de despedida. O momento do seu desaparecimento é difícil determinar. Provavelmente teve início há uns trinta anos atrás
Mas, as escolas continuam aí!

As crianças continuam frequentando as escolas, a demanda por escolas só faz crescer. Escolas de tempo integral. Mais matrículas. Escolas mais tecnológicas, mais conectadas.

Os velhos e surrados rogos se repetem incessantemente nesse país de trinta milhões de esfomeados, melhores salários para os professores, mais estruturas e condições de trabalho, pedagogias modernas, pós-modernas, críticas, pós-críticas. Menos rigidez. Escolas que preparam para a vida.
Aqui falamos do desaparecimento da escola como espaço do conhecimento. Essa se foi, não deixou vestígios. Morreu ou foi enterrada ainda vida quando os donos desse país se deram conta que era hora de separar definitivamente a massa popular do conhecimento. O povo brasileiro não precisa de conhecimento, precisa de algumas informações, segundo eles. Esse desaparecimento da escola como espaço do conhecimento foi histórico e por isso mesmo foi silencioso, os eventos traumáticos são silenciosos.
Não somos saudosos, nostálgicos da velha escola e dos seus métodos arcaicos e autoritários, somos ressentidos de que não haja mais nenhum espaço construtor de conhecimento e que o povo brasileiro tateie às cegas num infindável mar revolto de informações que, no fim, só pode nos levar a uma verdadeira amnésia dos fatos. Ou a reviver o mesmo e o igual infinitamente como no filme clássico da sessão da tarde, “O Feitiço do tempo”

A angústia para nos desfazermos da escola autoritária fez com que junto nos livrássemos da escola do conhecimento. Como diz a máxima, jogaram a criança fora junto com a água do banho.

Os prédios escolares estão aí, novos prédios escolares são construídos, nunca se propagandeou tanto e absurdamente a escola. Nunca as crianças tiveram tanto azar de serem lançadas cada vez mais precocemente nas escolas. As crianças pequenas passam pelo infortúnio da alfabetização antes de lançarem ao convívio, às brincadeiras.

As escolas que temos nos dias de hoje, ou já pelo menos trinta anos do desaparecimento da escola do conhecimento, é comparável a uma colônia de férias. Há um lugar para ocupar o tempo das crianças e adolescentes sem grandes pretensões. Para os estudantes pobres é acrescentada da função assistencial-assistencialista, pão, roupa e abrigo, mais a suposta sensação, falsa, de segurança que as escolas prometem entregar. Escolas que em muitos casos estão dominadas pelo crime organizado e subordinado ao estado.

A escola-colônia-de-férias ocupa-se de ocupar o tempo dos estudantes com uma série infindável de atividades, um tanto inúteis, sem fins pedagógicos muito bem definidos e conhecidos. São reproduzidos métodos e mais métodos, estrangeiros e nacionais às cegas, ao sabor da moda, logo são substituídos por outros e como abundam métodos pedagógicos.

Para as crianças e adolescente deve ser um verdadeiro martírio frequentar um espaço que sinaliza para o nada. Impor, exigir, obrigar são verbos proibidos, são sinônimos de autoritarismo. Não se deve impor nada, deve-se despertar o estudante para o aprender. Mas quem consegue isso, quem sabe como despertar algo em alguém? Até agora não apareceu ninguém que saiba. Não é um pedido para que se faça a luz do despertar do conhecimento, ou uma receita mágica para empolgar alunos, pede-se apenas que façam alguma coisa.

Ao condenarmos com bom-senso a antiga escola autoritária e jogá-la na lata do lixo da história, esquecemo-nos de colocar outra coisa no lugar, falando assim em termos de conhecimento. O que brotou desse limbo de discussões pedagógicas, idas e vindas e modas e leis e portarias foi a escola colônia de férias, que pouco ou nada alcança em termos de conhecimentos, ou mesmo, para usar a terminologia dos dias que seguem, em termos de competências e habilidades.

A escola colônia de férias é um emaranhado de atividades destinadas a ocupar o tempo do aluno. O aluno não está implicado em nada. Implicar alguém em algo se tornou autoritário! As famílias são ainda menos implicadas, se bem que a antiga escola também não as implicava nos processos pedagógicos. Os alunos de hoje precisam fazer algo, mas não precisam estar implicados em nada, importante é que o tempo passe, e rápido. É uma ocupação vazia do tempo. Uma perda de tempo.

Desta forma entende-se que a escola antiga, que ainda se mantinha presa por um fim de cabelo ao conhecimento, tentava ser, ainda que de forma autoritária, exercer seu papel como um espaço do conhecimento implodiu. Hoje nós temos o que poderíamos chamar de um espaço de recreação full time. Qual a consequência disso tudo? Qual a consequência de separar totalmente as pessoas dos conhecimentos acadêmicos, pensando em termos da própria sociedade burguesa e suas exigências de desenvolvimento? Será que a crença em absurdas falsas notícias e teorias sem pé nem cabeça não reflete a falta de um repertório mínimo de conhecimento e de estruturas cognitivas que só a escola, como espaço de conhecimento, pode construí?
O terraplanismo está aí para nos dizer!

R$ 90 / h
Darcio A.
São Paulo / SP
Darcio A.
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1ª hora grátis
Mestrado: Mestrado em Geografia Humana (Universidade de São Paulo (USP))
Professor de Geografia e História. Venha aprender hoje e para a vida !
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