O trabalho criativo

O trabalho criativo

O trabalho criativo é uma nova proposta para organizar a atividade humana e como toda novidade gera desconfianças, mas também oxigena as reflexões sobre o mundo do trabalho e da prestação serviços. Essa ideia ganhou força na década de 1990, quando, após a derrocada dos países socialistas o mundo assistiu ao triunfo do capitalismo em sua forma neoliberal e uma onda de expectativas foi criada em torno de um novo patamar de desenvolvimento dentro mundo cada vez mais globalizado. No entanto os anos que seguiram não confirmaram as perspectivas renovadas de pleno emprego; desemprego e subemprego continuaram rondando persistentemente diversas sociedades, especialmente nos chamados países em desenvolvimento.

Desde o advento da Revolução Industrial, que provocou profundas alterações no mundo do trabalho em nível global, vivemos sob o paradigma da sociedade industrial. Enormes contingentes de trabalhadores migraram para atividades industriais, seja pela mecanização do campo, seja pelo aumento das atividades industriais e de serviços. Esse processo teve por consequência a formação das sociedades urbanas e das cidades modernas.

O processo industrial imprimiu uma nova marca ao mundo trabalho: o produto do trabalho humano deixou de ser um espelho do homem, o fruto de sua realização e de sua capacidade emancipatória. Em resumo, o trabalhador teve que abandonar sua subjetividade na execução do trabalho e passou a ser guiado por métodos cada vez mais racionais e repetitivos, isolando o trabalhador da sua criatividade. Esta forma de produção é o signo do trabalho na modernidade, que deparou-se com ondas de crescimento e estabilização ao longos dos séculos XIX e XX, mas que suscitou questionamentos com relação a sua forma ética e surgiram propostas de superação desse modelo homogeneizante.

O sociólogo italiano, Domenico de Masi, tornou-se conhecido por repensar a maneira como deveríamos trabalhar. Em seu livro “O ócio criativo” ele propôs um novo modelo social, chamada por ele de “sociedade pós-industrial”. Na sociedade pós-industrial o trabalho repetitivo seria substituído por uma atividade intelectual criativa. A esse respeito De Mais afirma que:

“Assim sendo, acredito que o foco desta nossa conversa deva ser este tríplice passagem da espécie humana: da atividade física para a intelectual, da atividade intelectual de tipo repetitivo à atividade intelectual criativa, do trabalho labuta nitidamente separado do tempo livre e do estudo ao "ócio criativo'', no qual estudo, trabalho e jogo acabam coincidindo cada vez mais”  

Domenico De Masi; entrevista a Maria Serena Palieri; tradução de Léa Manzi. - Rio de Janeiro: Sexante, 2000. P. 17

Portanto, o trabalho criativo envolve estudo, aperfeiçoamento e boa dose de interações lúdicas. Além disso, o trabalho criativo ocorre na medida em que está associado aos propósitos de vida dos trabalhadores, ou seja, a junção da atividade laboral com a realização de tarefas que tragam bem estar ao trabalhador ou à comunidade. O trabalho criativo traz possibilidades reais de impacto na vida do trabalhador, muito além de prover o seu sustento e pode se expressar em formas cooperativas de trabalho. As primeiras cooperativas surgiram no século XIX na Inglaterra como resposta ao paradigma do trabalho industrial e hoje já aglutinam mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo. O modelo cooperativo pauta-se por valores como auto ajuda, responsabilidade, equidade e solidariedade, valores que podem servir de alicerce para o trabalho criativo.