O que é guerra híbrida? Parte I
Por: Darcio A.
28 de Julho de 2021

O que é guerra híbrida? Parte I

Pequeno esboço para ajudar a entender o espectro político brasileiro atual

Geografia Geopolítica Geografia Geral

Pouco ou quase nada é falado sobre o tema nas chamadas grandes mídias e até mesmo nas mídias alternativas, independentes. Sobre guerra híbrida, é mais fácil acharmos referências em sites militares, com viés militaristas ou naqueles classificados como da teoria da conspiração. Aqui, dedico algumas linhas para uma das ferramentas mais eficazes de condução de políticas nacionais e internacionais, tocadas principalmente por interesses imperialistas com objetivos de desestabilizar até remover do poder governos não simpáticos aos interesses do capital transnacional, do neoliberalismo, governos de áreas de influência de uma superpotência que, porventura estejam flertando com interesses outra superpotência imperialista rival (EUA-Rússia-China) entre outros. 

 

Talvez por ser a chave para entendermos a dinâmica da geopolítica internacional e a condução da brasileira nacional desde, pelos menos 2013, o tema seja escamoteado das mídias. Amaldiçoado! Todas as ferramentas são usadas para que ele não chegue aos ouvidos da opinião pública (alguns autores defendem que no Braisl não existe opinião pública, mas percepção pública, ou como disse certa vez Millôr Fernandes "Opinião pública é aquilo que se publica"). 

Respondendo à questão inicial, guerra híbrida são estratégias de combate que visam a derrotar um inimigo empregando meios convencionais ou não. Normalmente há o emprego de várias modalidades, daí o adjetivo híbrida  Suas raízes remontam a Sun Tzu ("A arte da guerra" - IV aC) quando ele afirmou que a vitória suprema e desejável é aquela na qual o enfrentamento pelas armas é evitado. Transpondo algumas dessas ideias para a realidade contemporânea o jornalista estadunidense, radicado na Rússia, Andrew Korybko, escreveu um manual para a compreensão do tema, entitulado "Guerras Híbridas: Das Revoluções Coloridas Aos Golpes". ali ele discorre sobre estratégias utilizadas pelos EUA e seus braços dedicados à espionagem para fomentar a derrubada de governos indesejáveis. Mas cabe a pergunta se são apenas os EUA que se utilizam dessas técnicas, ou se os EUA foram o berço de uma política amplamente utilizada por outros países hodiernamente.

 

Korybko afirma que tais estratégias foram utilizadas nas chamadas Primaveras Árabes para derrubar governos incômodos para os interesses das potências ocidentais, Muitos deles foram aliados do Ocidente e até mesmo alçados ao poder por essas mesmas potências, mas que por certos motivos - que não caberia explorar aqui neste artigo, - acabaram sendo destituídos. Segundo Korybko a guerra da Síria é fruto de uma guerra híbrida que não obteve sucesso pelos meios não-convencionais, daí então os meios convencionais bélicos foram acionados. Mas uma série de países no norte da África e no Oriente Médio viram seus governos serem varridos por revoltas populares. No entanto, o autor afirma que, longe de terem sido movimentos democráticos, foram movimentos com inicialmente legítimos, mas que passaram a ser instrumentalizados por interesses oriundos do exterior. Depois que os governos foram derrubados os movimentos foram desmantelados e a população ganhou praticamente nada com o processo. Em alguns casos, como Líbia e Síria, a unidade territorial foi fragmentada e o país mergulhou no caos das guerras civis. As redes sociais foram fundamentais nesses processos.

 

Portanto, sob essa perspectiva o processo está distante da visão 'democratizante' que os livros didáticos costumam trazer. As primaveras terminam normalmente em rigorosos invernos e pouca coisa muda, normalmente para pior. 

O antropólogo brasileiro, Piero Leiner, afirma que o Brasil passa por um processo continuado de guerra híbrida desde 2013, quando as jornadas de julho tomaram conta do país, catapultadas pela questão do aumento da passagem na cidade de São Paulo com o movimento Passe Livre liderando os protestos. Gente nas ruas, segundo Leiner era o elemento que faltava para derrubar os governos petistas. Depois de uma dura repressão policial e do aumento dos protestos o que se verificou foi a tomada das ruas por pessoas que mudaram as pautas: da questão do direito ao transporte público, passa-se para a corrupção e por fim para o impeachment. Os movimentos pelo impeachment da presidenta Dilma substituíram e até certo ponto expulsaram as esquerdas das ruas, coroando uma campanha de envenenamento das consciências disparadas desde que o PT chegou ao poder em 2003. 

Os movimentos de impeachment contavam com a simpatia e a conivência das PM's, o Metrô de São Paulo chegou a liberar as catracas e a Globo até mudou os horários de alguns jogos do Brasileirão para não coincidir com as manifestações. Jornalistas e âncoras exaltavam o tom pacífico dos protestos e chegaram a conclamar as pessoas a saírem às ruas. O desfecho bem conhecido foi o golpe para uns, impeachment para outros da presidenta Dilma em 2016, então no seu segundo mandato. 

A questão que Piero Leiner e outros autores e blogueiros que se dedicam ao estudo da geopolítica mundial (Nelson Job (Transaberes), Romulus Maya (Duplo Expresso), Pepe Escobar (Asia Time), Wilson Ferreira (Cinegnose), etc., e o próprio Andrew Korybko ) colocam é a seguinte: porque os governos petistas se tornaram persona non grata. Óbvio que não se tratava de corrupção e de uma questão moral, até porque todos os governos, antes e depois, fizeram as mesmas coisas em maior ou menor grau. O PT mostrou-se sempre de acordo com ditames chamados neoliberais, com a pequena diferença que tentava negociar perdas, ousou ampliar programas assistencias que já existiam, mas que tinham alcance reduzido e nunca apontaram para mudanças estruturais políticas ou econômicas, como eles já ahviam deixado patente na 'Carta aos brasileiros'. Nas palavras do Lula banqueiros e ruralistas nunca lucraram tanto, os movimentos sociais foram totalmente domesticados e trazidos para dentro da institucionalidade, os governos petistas foram os que mais concentraram as mídias, os que mais fecharam rádios e TV's comunitárias. Fez reformas e privatizou estatais em consonância com os interesses da finança transnacional. Entretanto no meio do caminho apareceu um pré-sal e à certa altura Lula resolveu aproximar-se dos BRIC's. Soaram os alarmes do imperialismo, a indeterminação com relação aos rumos do pré-sal (que seria resolvida no ocaso do governo Dilma, quando a presidenta manda-orienta os parlamentares petistas e aliados a votarem na proposta do tucano Serra, que pulveriza a exploração do pré-sal e elimina de vez a possibilidade de monopólio da Petrobrás, deixou o senador petista Lindbergh Farias de queixo caído!) fazendo com que a partir de 2008, os militares brasileiros no Haiti fossem instruídos nas técnicas da guerra híbrida e fosse colocado um plano de desestabilização dos governos petistas que levou ao impeachment.

Com o Passe Livre nas ruas de SP movimentos (tipo Cansei!) que já havam ensaiado uma aventura sem sucesso de desestabilização e impeachment anos anteriores e novos movimentos que surgiram como cogumelos depois da chuva sem uma história pregressa relevante tomaram as ruas ... continua.

 

  

 

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Darcio A.
São Paulo / SP
Darcio A.
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Mestrado: Mestrado em Geografia Humana (Universidade de São Paulo (USP))
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