2° Mito que cerca do ato de escrever: " Escrever é um ato es
Por: Débora O.
21 de Março de 2016

2° Mito que cerca do ato de escrever: " Escrever é um ato es

Redação Escrita Poema

Continuando aquela série que prometi a vocês, vejamos o 2° mito sobre o ato de escrever...


Muitos pensam que as pessoas que redigem bons textos o fazem como quem respira, num piscar de olhos, sem o mínimo esforço. A história não é bem assim... Escrever é um dos exercícios mais complicados que realizamos, pois exige muito da memória e do raciocínio. Segundo Garcez (2001), " a agilidade mental é imprescindível para que todos os aspectos envolvidos na escrita sejam articulados, coordenados, harmonizados de forma que o texto seja bem sucedido." Haja trabalho, não?


Conhecimentos da mais diversas naturezas são acessados quando estamos produzindo um texto. No momento da escrita é fundamental pensar em alguns aspectos: o assunto, o gênero adequado, em que situação ele será produzido, os possíveis leitores, a língua e suas possibilidades de estilos. Trocando em miúdos: escrever definitivamente não combina com preguiça!


Claro que, para quem escreve todos os dias, essa missão se torna mais fácil com o passar do tempo, mas mesmo assim há relatos de pessoas que ainda sentem dificuldades, pois é um trabalho braçal e mental muito rigoroso e por vezes frustrante. Já reparou que você nunca está satisfeito com o que escreveu? É por isso que ficamos babando ao ler um autor literário ( um Machado da vida), pois muitas vezes eles conseguem traduzir em palavras sentimentos e emoções que jamais conseguimos fazer com tanta precisão.Termino aqui a minha sessão de desmistificação de mitos (propositadamente redundante!) com um poema do Drummond, no qual os conflitos apresentados aqui nos são feitos de forma genial como é típico dele:

O Lutador
Carlos Drummond de Andrade

Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.

Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue
Entretanto, luto.

Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.

Luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas
da boa peleja.

Iludo-me às vezes,
pressinto que a entrega
se consumará.
Já vejo palavras
em coro submisso,
esta me ofertando
seu velho calor,
outra sua glória
feita de mistério,
outra seu desdém,
outra seu ciúme,
e um sapiente amor
me ensina a fruir
de cada palavra
a essência captada,
o sutil queixume.
Mas ai! é o instante
de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca,
tudo se evapora.

O ciclo do dia
ora se consuma
e o inútil duelo
jamais se resolve.
O teu rosto belo,
ó palavra, esplende
na curva da noite
que toda me envolve.
Tamanha paixão
e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
a luta prossegue
nas ruas do sono.

Fontes:

GARCEZ, L. H. do Carmo. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

http://bydebby.blogspot.com.br/2009/05/2-mito-escrever-e-um-ato-espontaneo-que.html (blog pessoal)

 

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