O ABORTO PSICOLÓGICO NA VISÃO DA CLÍNICA PSICANALÍTICA DOS P
Por: Elias G.
13 de Setembro de 2015

O ABORTO PSICOLÓGICO NA VISÃO DA CLÍNICA PSICANALÍTICA DOS P

Psicologia Desenvolvimento infantil Saúde Mental Freud Social Problemas

Professor Elias Galveas

Particularmente, gosto muito do termo, bastante comum na área da saúde mental, "MALHA PSICOSSOMÁTICA", e o entendo como uma tentativa de integrar a aparente dualidade CORPO/MENTE em uma única UNIDADE.

A questão "corpo-mente" foi inicialmente abordada por Sigmund Freud, por volta de 1905, mediante o conceito de "PULSÃO" que, por sua vez, pode ser entendida como: um FLUIDO (de natureza imaterial) que (metaforicamente) "LUBRIFICA" e faz FLUIR a energia no interior do aparelho psíquico, e que alimenta, por sua vez, o PSICOSSOMA do indivíduo, fazendo-o funcionar adequadamente ou não (dependendo da predominância da PULSÃO DE VIDA ou de MORTE).

A questão inicial que se coloca é a seguinte: será que existiria algo pior para uma criança recém-nascida do que não ter mamado no peito!? EXISTE sim, creio eu, e costumo chamar de "ABORTO PSICOLÓGICO".

Todos nós sabemos, mesmo que por intuição, que o nascimento psicológico do indivíduo não coincide com o nascimento cronológico. Enquanto o nascimento físico cronológico ocorre de modo claro, concreto, imediato, e objetivo, o nascimento psicológico acontece de maneira gradativa, através de um longo e delicado processo de "separação-individuação" entre o bebê e sua respectiva mãe, que se inicia em torno do segundo mês de vida da criança, e tende a se desenvolver até 36 meses de vida.

Segundo Cristina Silveira:

"(...) a partir do segundo mês, o bebê passa pela fase da onipotência absoluta, em que ele não tem consciência do agente materno como algo fora do seu self (de si mesmo). O bebê se comporta e funciona como se ele a sua mãe fossem um sistema onipotente, não separado. Por isso, nesse período, as mães têm [ou melhor: PRECISARIAM TER!] uma grande afinidade com seus bebês, a intuição é bastante forte e a mãe regride, para dar conta dessa relação estreita e dependente.

Em seguida, o bebê parte para a vivência de sua onipotência alucinatória condicional, tomando uma consciência turva de que a satisfação de suas necessidades não provêm da sua própria pessoa, mas de algum lugar externo a seu self (início da fase simbiótica). Ou seja, começa a reconhecer traços da mãe fora de si mesmo. Nesse momento, o ego rudimentar do bebê tem que ser complementado pelo vínculo emocional. É nessa matriz de dependência psicológica e sociobiológica da mãe é que se dá a diferenciação estrutural que vai levar à organização do indivíduo: o ego em funcionamento visando a sua adaptação ao meio onde está inserido. A partir daí, serão realizadas as experiências contato-perceptivas, incluindo todo o corpo do bebê. O contato olho a olho com a mamãe, na amamentação, na troca de fraldas, no banho origina, organiza ou faz eclodir a resposta social do sorriso. É também na face da mãe que acontece a primeira imagem visual do bebê. A mãe funciona como um ego auxiliar, um organizador simbiótico – a parteira da individuação do nascimento psicológico de seu filho (ou deveria agir como tal!). O amor e afeição da mãe pelo filho o tornam um objeto de continuo interesse e, além desse interesse persistente, essa mãe oferece uma gama sempre renovada, rica e variada, e todo um mundo de experiências vitais. Vitais, porque a criança responde afetivamente a este afeto. Portanto a atitude emocional e a afetiva da mãe servirá para orientar os afetos do bebê e conferir qualidade de vida ao bebê e toda a sua saúde mental futura".

 

Portanto, ao lermos o trecho acima com atenção, podemos concluir que a progenitora ideal é aquela que se coloca continuamente receptiva à própria cria, interagindo continuamente em parceria com a criança, servindo de catalizadora ao seu processo de desenvolvimento, principalmente na fase simbiótica, onde ainda não existe uma diferenciação nítida entre a mãe e o seu bebê (ou melhor: entre progenitor e sua cria).

Dessa forma, a essa altura, já poderíamos concluir, com alguma facilidade, o que seria um "PARTO PSICOLÓGICO", e, por tabela, o que seria um "ABORTO PSICOLÓGICO" (que não mata o sujeito FISICAMENTE, mas de outros modos intangíveis, algumas vezes, análogas à morte física, ou mesmo piores que ela).

Vejo o "PARTO PSICOLÓGICO", conceito muito discutido entre os especialistas da CLÍNICA [PSICANALÍTICA] DOS PRIMÓRDIOS, onde IVANISE FONTES é um ícone importante, como uma falha nesse processo inicial do desenvolvimento infantil, que deveria culminar na saudável e gradativa separação entre PROGENITORA e CRIA, ou, em outras palavras: é a falha na superação da fase simbiótica da díade “MÃE-BEBÊ”.

Considero, portanto, um "ABORTO PSICOLÓGICO" quando esse processo falha TOTALMENTE, inexistindo, em termos psíquicos, uma separação adequada entre o infante e sua mãe, o que acarretará, posteriormente, em inúmeros problemas psicológicos e existenciais no infante, posto que este não conseguiu superar a fase da simbiótica, não conseguindo, dessa forma, separar-se da mãe, a fim de NASCER PSICOLOGICAMENTE.    

Enfim, o "ABORTO PSICOLÓGICO" pode não matar fisicamente o sujeito (que não se constituiu num INDIVÍDUO, e terá dificuldades em se constituir); mas, certamente, deixa na Terra uma enorme legião de "MORTOS-VIVOS" que, posteriormente, precisarão dar "nó-em-gota-de-éter", a fim de aprender a conviver com suas frustrações, vazios existenciais, drogadições (vícios), Síndromes do Pânico, depressões, Vigorexias, Anorexias, Ortorexias, Bulimias, enfim, toda sorte de PSICOSES, distúrbios mentais, emocionais, e da personalidade.

E fechando esse breve artigo em “OMBROS DE GIGANTE”, não poderíamos deixar de citar Didier Anzieu, autor da famosa obra “Eu-Pele”:

“Anzieu (1988) descreve como as sensações cutâneas introduzem o recém-nascido em um universo de grande complexidade, porém ainda difuso, despertando o sistema percepção-consciência que subentende um sentimento global e episódico de existência, possibilitando a criação de um espaço psíquico originário. Este sistema percepção-consciência arcaico pressupõe uma experiência perceptiva pré-reflexiva, sugerindo uma organização funcional ancorada nos processos somáticos; ou seja, uma "consciência corporal". Dialogando com Freud, o autor resgata a antiga noção freudiana de "Ego-corporal", tematizando-a através da elaboração do conceito de um "Eu-pele", e de sua teoria sobre os envelopes psíquicos. Enfatiza que tudo que é da ordem do psíquico se desenvolve em constante referência à experiência somática”.

Aline de Leo & Junia de Vilhena

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