Por Elias Celso Galveas (*)
O termo “Assédio Moral” (no ambiente de trabalho) surgiu em setembro de 1998, quando a psicanalista e vitimóloga francesa, Marie-France Hirigoyen, lançou, na França, um livro intitulado “Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano”. O livro só foi publicado no Brasil no ano 2000.
Além do lançamento do livro de Marie-France Hirigoyen no Brasil, as discussões sobre assédio moral ganharam maior importância em nosso pais também em 2000, a partir da divulgação da tese de mestrado da médica do trabalho, Margarida Barreto, intitulada "Uma Jornada de Humilhações", defendida no departamento de Psicologia Social da Pontifícia Universidade de São Paulo. A dissertação teve como material básico as pesquisas anteriormente desenvolvidas por Marie-France Hirigoyen.
O estudo realizada por Margarida Barreto, entre 1996 e 1998, envolveu mais de 2070 trabalhadores dos setores farmacêutico, cosmético, químico e plástico, abrangendo 97 empresas paulistas. Os resultados surpreenderam: 42% dos entrevistados vivenciavam o problema do assédio moral em seu ambiente de trabalho; e o pior: apenas 0,2% das empresas desenvolviam políticas contra a prática do assédio moral, o que revelou a enorme falta de compromisso das mesmas no tocante à qualidade de vida, à saúde e bem estar de seus colaboradores.
Apesar das diferentes definições culturais, em meio à grande diversidade de organizações, o termo "Assédio Moral“ consagrou-se mundialmente, recebendo diversas outras denominações:
- "Assédio Moral", em Portugal e no Brasil;
- "Mobbing", nos países nórdicos, na Suíça, na Alemanha, na Itália, e nos Estados Unidos;
- "Bullying", na Inglaterra;
- "Harcèlement Moral", na França;
- "Acoso Moral", na Espanha;
- "Harassment" ou "Mobbing", nos Estados Unidos;
- "Ijime", no Japão.
Hirigoyen (2001, p.65) define assédio moral como: “Toda e qualquer conduta abusiva, manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade, ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho”.
Segundo Ferreira Bonilha (2004), estudioso do assunto: "O estímulo à produção mediante à competitividade gera um contexto profissional perfeito para o aparecimento do assédio moral. Num sistema em que as pessoas são instigadas, todo o tempo, a defenderem o que é seu - seu emprego, sua produção, sua promoção, sua premiação - a todo o custo, as demais pessoas que as rodeiam deixam de ser considerados colegas de trabalho e passam a ser encaradas como inimigos em potencial. Daí, nasce o tratamento hostil, que, muitas vezes, desencadeia um processo tão grave como o assédio moral (...)".
As pesquisas sobre assédio moral, antes de serem desenvolvidas na esfera das relações humanas, iniciaram-se no ramo da Biologia com os estudos do etólogo Konrad Lorenz, que analisou a conduta de determinados animais de pequeno porte quando confrontados com invasões de seu território por outros animais. O pesquisador notou um comportamento peculiar do grupo, especialmente quando estava diante de um animal maior: a atitude agressiva desenvolvida pelo grupo todo, que tentava expulsar o invasor solitário com intimidações coletivas. A essa conduta do grupo animal, Lorenz denominou "mobbing".
Na década de 60, o médico sueco Peter-Paul Heinemann analisou, dentro do ambiente escolar, o comportamento de crianças reunidas em grupo. Os resultados de sua pesquisa acabaram sendo muito parecidos com os alcançados nas pesquisas de Lorenz, tendo sido reconhecida a mesma tendência agressiva das crianças, ao demonstrarem, assim como os animais, hostilidade em relação a outra criança que invadisse seu espaço. Essa pesquisa foi pioneira em detectar o assédio moral nas relações humanas, tendo sido seguida por muitas outras, em especial as que tratavam do tema psicologia infantil.
Somente vinte anos mais tarde, na década de 80, a primeira investigação voltada para o assédio moral no ambiente de trabalho ocorreu nos campos da medicina e psicologia do trabalho, feita principalmente por intermédio do médico alemão e psicológo do trabalho, Heinz Leymann, que desenvolveu longas pesquisas na Europa, especialmente na Suécia. As pesquisas realizadas por Leymann procuravam demonstrar as consequências do mobbing na esfera neuropsíquica da pessoa exposta repetidamente a situações humilhantes no trabalho, durante certo tempo, seja por parte dos superiores ou dos colegas. Tal modalidade de violência foi por ele denominada de “psicoterror”.
Segundo Heinz Leymann (2000): "Terror psicológico (ou mobbing) baseia-se em uma comunicação hostil e anti-ética, realizada por um ou inúmeros indivíduos, e dirigida sistematicamente a um indivíduo que, devido aos ataques, fica numa situação vulnerável e sem defesa, permanecendo dessa forma devido à continuidade da prática do mobbing. Esses ataques ocorrem com a frequência de, ao menos, uma vez por semana; e durante um período de tempo relativamente longo (seis meses, pelo menos). Devido à alta frequência e à longa duração dos ataques, os mesmos acabam causando à vítima uma dose significativa de empobrecimento mental, psicossomático e social”.
Quais os prejuízos advindos da prática do "assédio moral" para a organização e para a vida das vítimas?
PARA AS EMPRESAS:
- A criação de um clima organizacional instável, causado pela agressão à dignidade humana.
- Absenteísmo e queda na produtividade dos funcionários assediados e suas equipes de trabalho.
- Prejuízo financeiro devido à alta rotatividade de funcionários, bem como pelo pagamento de ações judiciais para a reparação de danos morais.
- Prejuízo à imagem da empresa, tanto interna quanto externamente.
PARA O INDIVÍDUO:
As principais consequências são físicas e psíquicas:
- Desestabilidade emocional.
- Depressão e baixa auto-estima.
- Ressentimentos, medo e insegurança.
- Distúrbios psicossomáticos.
- Violência doméstica (pois passam a extravasar os problemas nos familiares).
- Desinteresse pelo trabalho.
- Fuga dos problemas nas drogas.
Quais são as principais formas de prevenir o assédio moral nas organizações?
As relações de trabalho têm evoluído no sentido de uma maior valorização dos recursos humanos. Nessa evolução, não cabem mais chefes “trogloditas”, que tratam seus subordinados como seres inferiores, sem o menor respeito. Assim, a prevenção das organizações está na melhor preparação de sua liderança, bem como na definição de uma política clara e bem definida de RH, onde haja verdadeiro respeito pelo “outro”, e existam punições severas, claras e definiadas capazes de inibir atos de assédio moral dentro da organização.
(*) Elias Celso Galveas é Formado em Pedagogia pela Universidade Santa Úrsula, especialista em Psicopedagogia pela Universidade Cândido Mendes, pós-graduado pela UFRJ, em Docência do Ensino Superior. Fundador e coordenador da "Professores Associados" (hoje, "Saber Digital").
Fonte: Mil Palavras
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