Competência profissional x Pilares da Educação
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Por: Ivana B.
26 de Abril de 2019

Competência profissional x Pilares da Educação

Pedagogia ensino profissionalizante Geral

O presente estudo visa apontar questões pertinentes sobre a relação entre o conceito de competência profissional preconizado nas Diretrizes Curriculares Nacionais e os quatro pilares da Educação abordados no texto Educação: um tesouro a descobrir (DELORS et al., 1998). 

O Artigo 2º da Lei Nº 9394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), regula que a educação é dever da família e do Estado. Como também, pelo Artigo 39º, estabelece que a Educação Profissional norteie o educando a “integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.” Então, pode-se ver a influência dos pilares “aprender a conhecer” e a “aprender a fazer”.  O primeiro diz respeito ao meio para compreensão de mundo a fim de progredir na formação nas áreas de ciência e tecnologia. O segundo relaciona-se com o preparo para colocar em prática esses conhecimentos adquiridos numa sociedade competitiva onde o cidadão precisa estar sempre disposto a desenvolver novas habilidades para produzir uma ação diferenciada. Assim, podemos nos remeter ao texto de Godino o qual nos elucida sobre a existência de diversas teorias de aprendizagem e ensino.

 

É conveniente questionar o que é aprender? Ensino de que? Os fenômenos da aprendizagem e do ensino referem-se a conhecimentos particulares e possivelmente a explicação e previsão desses fenômenos depende da especificidade do conhecimento ensinado, assim como de fatores psicopedagógicos, sociais e culturais. GODINO, 2010, p.5

 

Os fatores "saber aprender" e "saber ensinar" podem envolver interações nos levando a transformar consideravelmente a explicação dos fenômenos didáticos. Dessa forma, como Cordão ressalta diversas vezes no texto, é fundamental que: “a escola técnica seja um centro de referência tecnológica na sua área de atuação e na região onde está situada”.

Nesse quesito, percebe-se o caráter etnocientífico que a educação profissional carrega. Os povos criaram instrumentos de reflexão, observação, instrumentos materiais e intelectuais para explicar, entender, conhecer, aprender para saber e fazer como resposta a necessidades de sobrevivência e de transcendência em diferentes ambientes naturais, sociais e culturais ao longo da história. (D’Ambrósio, 2016) Portanto, não podemos desconsiderar o conhecimento daqueles que não possuem educação profissional formal, ou dizer que eles possuem menos cidadania do os outros que possuem. Como, por exemplo, podemos citar o caso dos profetas do Sertão que anunciam as previsões de chuva baseados em conhecimentos empíricos sobre o meio-ambiente. Tecendo uma pequena crítica na descrição do pilar “aprender a ser”, a educação pode contribuir para o desenvolvimento do aluno e não é um direito da educação formatar o ser ou dizer que as pessoas ditas sem educação não tenham autonomia ou não sejam críticas. É desejável que o estudante do ensino técnico fuja do paradigma de não ser ignorante em apenas uma área. Isto é, espera-se que além de conseguir a formação técnica, empenhe-se a buscar conhecimento e capacite-se para inovar nas diversidades da vida. Pois, com o desenvolvimento tecnológico, muitas funções já podem ser desempenhadas por máquinas no lugar de seres humanos.   As competências esperadas ultrapassam a habilitação profissional e técnicas específicas, perpassam por demandas subjetivas como empatia, espírito de coletividade e voluntariado.

Concomitantemente, é imprescindível o quarto pilar, aprender a viver com os outros. Vivemos a época da multimodalidade em relação ao design, interatividade, performance pelo fato de termos acesso fácil a diversos modos de comunicação, repositórios e estarmos online em tempo integral. Isso propicia o surgimento de cenários inovadores para investigação científica. Apesar de guerras e conflitos em diversos países estamos caminhando para a Era do Compartilhamento na qual o acesso à informação e a bens de serviço e consumo é mais importante que a posse dos mesmos. 

A Educação Profissional é resguardada como uma fonte tática de competitividade e progresso em um capítulo da LDB que trata dos níveis e das modalidades de educação e ensino. Isto posto, a organização curricular foca-se no desenvolvimento de competências com o propósito de habilitar os alunos às qualificações e especializações de cada perfil profissional, e também, proporcionar adequadas condições para um melhor proveito nos estudos posteriores de outras práticas profissionais.

Outro ponto relevante é o enfoque qualitativo do ensino. A avaliação deve ser diagnóstica e não punitiva. Os interessados no ensino técnico almejam ter condições para responder de forma eficaz aos desafios profissionais da área escolhida. Dessa forma, a avaliação da aprendizagem necessita diagnosticar as dificuldades de quem aprende.

Os três pilares “aprender a conhece”, “aprender a fazer” e “aprender a conviver” favorecem para que as competências profissionais sejam desenvolvidas para o perfil profissional definido no projeto pedagógico do instituto de ensino. No entanto, talvez por uma tradução unilateral do verbo être, o qual em Francês pode ser empregado como ser ou estar, o pilar “aprender a ser” parece ter um atributo intangível conflitante com a ideia de independência e variabilidade.

Logo, é crucial que a Educação propicie momentos de reflexão para que os discentes possam se tornar conscientes da mutabilidade no sistema econômico atual, da importância na busca de conhecimento e dos princípios éticos de cooperação mútua na convivência com seus semelhantes.

 

Referências bibliográficas

BRASIL. Leis, Decretos. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

CORDÃO, F.A. A LDB e a nova Educação Profissional.

D’AMBRÓSIO, U., Etnomatemática – Elo entre as tradições e a modernidade. 5ª edição, 2016, Autêntica Editora.

DELOR, J. et al. Educação um tesouro a descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 1998.

GODINO, J.D., Perspectiva de la didática de las matemáticas como disciplina tecnocientífica, 2010.

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