Violonistas brasileiros #3 - Catulo da Paixão Cearense
em 12 de Dezembro de 2022
O ensino/aprendizagem do instrumento no Brasil passou por um processo de formalização no que diz respeito a utilização da teoria na transmissão do conhecimento musical, partindo de um momento dominado pela oralidade até sua chegada nos cursos universitários.
Na passagem do século XIX para o XX era comum violões e cavaquinhos acompanharem as melodias executadas pelos solistas de forma intuitiva. Nesse período a transmissão musical foi facilitada pela atuação dos chamados dos “professores informais” que segundo o musicólogo Pedro Aragão, eram músicos com algum conhecimento de teoria musical e familiarizados com as práticas harmônicas adotadas no contexto do choro, principalmente. As gravações comerciais também se tornaram importantes fontes de aprendizado com o início da fase elétrica na década de 1930 e com o surgimento do LP em 1948. Até hoje, cavaquinistas e violonistas buscam os registros fonográficos como suporte para aprender técnicas, levadas e harmonizações que não foram registrados através da partitura. Nesse sentido também ressaltamos que até a década de 1940 as partituras que circulavam no Brasil não dispunham de cifras. Somente a partir desse período encontramos, em alguns cadernos e álbuns, representações através de um sistema de cifragem diferente do atual. Classificavam-se os acordes de acordo com sua função dentro da progressão harmônica (ex.: “1ª do tom”, “2ª do tom”, se referindo à tônica e dominante), sendo prática comum nesse período o aprendizado de instrumentos através dos “tons” e das “posições”, como se referiam os músicos mais antigos.
Um levantamento preliminar sobre os métodos para cavaquinho editados no Brasil durante o século XX nos revela que, em termos gerais, as publicações têm foco no conteúdo harmônico e melódico do instrumento, em detrimento da parte rítmica. O método Andrade apresenta uma tendência que será predominante nas publicações examinadas: o foco didático na transmissão de acordes, através de tablaturas do braço do cavaquinho, e das fórmulas harmônicas mais utilizadas nos acompanhamentos de choro e samba. Outros autores, também identificam essa tendência em métodos como O Lunático: Método prático para cavaquinho (1935), de Ivo Duncan, Tupan - Método prático para cavaquinho (1938), de Aníbal Augusto Sardinha (Garoto) e no Método prático para cavaquinho (1953), de Waldir Azevedo, dentre outros.
No final do século XX começam a surgir métodos que aliam a teoria musical ao ensino do cavaquinho, incluindo breves históricos sobre o instrumento, exercícios de técnica, escalas, leitura melódica, construção de acordes dissonantes e direcionamentos básicos relacionados ao acompanhamento rítmico – que passam a apresentar, invariavelmente, as palhetadas características de cada gênero escritas em notação tradicional. Citamos como exemplo o Primeiro método de cavaquinho por música (2000), de Armando Bento de Araújo (Armandinho), a Escola moderna do cavaquinho (1988), de Henrique Cazes, e o Banco de acordes para cavaquinho (2001) de Paulo Salvador de Carvalho (Ratinho do Cavaco). Nos dois últimos, as palhetadas propostas vem acompanhadas por setas que indicam a direção dos movimentos da mão direita – recurso que apesar de prático e funcional não abrange as sonoridades mais percussivas, alcançadas por articulações em conjunto com a mão esquerda. Dos métodos analisados até o momento, o único que se dedica integralmente a condução rítmica é o Nas batidas do samba: método audiovisual de batidas para cavaquinho (2005), de Wagner Segura e Nestor Habskot. As palhetadas são grafadas em notação tradicional e as articulações sonoras representadas por letras e uma variedade de setas, além de CD com exemplos sonoros.
Pensando nisso, após anos de pesquisa, dialogando com músicos profissionais e professores do instrumento, assim como na minha experiência como professor, desenvolvi uma metodologia de ensino especifica para o ensino/aprendizagem do acompanhamento ritmico do cavaquinho brasileiro. O método concentra suas ações na identificação e execução de articulações sonoras que ocorrem conjuntamente entre a mão esquerda e direita, negligenciadas na maioria das publicações ou com indicações e representações ritmicas pouco práticas. Acredito que essa é uma forma extremamente efetiva para o ensino/aprendizado embasado do acompanhamento ritmico no instrumento, tanto para alunos como para professores que desejam melhorar suas aulas.
Ficou curioso sobre esse método? Agende sua aula comigo e vem aprender mais sobre cavaquinho!