O caso do "lhe" na Língua Portuguesa

Você com certeza já viu (e muito provavelmente já escreveu) a fase “Desejo-lhe tudo de bom” ou “Quero lhe desejar um feliz aniversário”. Só que, apesar de ser muito recorrente, essa sentença, segundo a gramática portuguesa, ESTÁ ERRADA!

Mas por quê?                                                                                            

Antes da explicação, você precisa ter noção de quatro coisas: o que é um pronome; o que é um pronome pessoal; o que é o caso oblíquo; e, por último, o que é um pronome oblíquo tônico. Parece difícil, mas não é, vamos a explicação em quatro passos.

1º Passo: O que é um pronome?

Quando aprendemos a escrever um texto, um ponto muito reforçado pelos professores de redação é a questão da coesão textual, ou seja, o quão conectado e fluido está o texto. E para alcançar tal feito precisamos aprender as conjunções e seus tipos para, assim, usarmos as corretas nas situações corretas. Entretanto, os professores esquecem de reforçar o uso dos pronomes, que são palavras usadas para substituir um substantivo (ou nome) anteriormente citado, evitando, assim, repetições desnecessárias durante o texto. Veja o seguinte exemplo:

“Eu tenho um irmão, Carlos, e uma irmã, Patrícia. Carlos gosta de futebol. Patrícia gosta de vôlei. Carlos joga como goleiro e Patrícia joga de levantadora.”

Se colocarmos os pronomes corretos, o texto passa a ter outra cara. Veja:

“Eu tenho um irmão, Carlos, e uma irmã, Patrícia. Esse gosta de futebol. Esta gosta de vôlei. Ele joga como goleiro e ela de levantadora”

Todas as palavras em negrito são pronomes, palavras usadas para evitar a repetição dos nomes “Carlos” e “Patrícia”.

2º Passo: O que é um pronome pessoal?

Este passo é mais simples. Pronome pessoal é todo e qualquer pronome usado para fazer referência as pessoas do singular (Eu, Tu, Eles/Elas) e do plural (Nós, Vós, Eles/Elas).

3º Passo: O que é um pronome pessoal do caso oblíquo.

Agora as coisas vão começar a complica um pouco, mas sem neuras.

Quando tratamos de pronomes pessoais, dividimo-nos em dois grupos: retos e oblíquos.

Os pronomes pessoais do caso RETO são aqueles usados como sujeitos, portanto, que praticam ou sofrem uma ação (eu, tu, ele, nós, vós, eles).

Ex.: “Eu comi sopa. Ele comeu feijão. Nós comemos coisas diferentes.”

Já os pronomes pessoais do caso OBLÍQUO são aqueles usados como objetos, portanto, que tem uma ação sendo praticada “para com eles”.

Ex.: Eu cantei uma música perfeitamenteà Eu cantei-a perfeitamente (Veja que o pronome “a” não pratica ação, mas a ação se refere a ela. Cantei o quê? Uma música.)

4º Passo: O que é um pronome pessoal do caso oblíquo átono

Dentro dos pronomes oblíquos, temos mais duas divisões: tônicos e átonos

Os pronomes TÔNICOS são aqueles que são acompanhados de preposição.

Ex.: Ele veio a mim

Já os pronomes ÁTONOS são aqueles que não são acompanhados de preposição.

Ex.: Desejei-lhe um bom final de semana.

OK, MAS DEPOIS DESSA EXPLICAÇÃO GIGAAAAANTE, PORQUE ESTÁ ERRADO FALAR “DESEJO-LHE TUDO DE BOM”?

Na verdade, não está. O erro em si não está na construção da frase, mas sim a quem a frase se refere. Eu peguei esse exemplo, pois essas frases vêm em cartas, cartões e mensagens de forma geral, nas quais a comunicação é de um para um. Ou seja, de um “eu” para um “tu”. No caso, não existe um terceiro elemento, o “ele”.

Mas o que você quer dizer com isso?

O “lhe”, segundo a tabela abaixo, é usado apenas para a terceira pessoa (ele), enquanto o “te” é usado para a segunda pessoa (tu). Portanto, ao desejar boas-vindas a alguém, diga “Desejo-te boas-vindas”, senão estará falando para a pessoa que você desejou boas-vindas a um terceiro.