Abu Bakr Muhammad Ibn Bajjah, Filosofo de Saragoça
em 02 de Outubro de 2019
Os Grandes Cientistas e Pensadores do Islã Clássico
Jabir ibn Hayyan (Geber na Europa)
Nascido em uma tribo iemenita assentada na região do Khorassan (nordeste do Irã) no ano de 721, em uma família convertida, no então em formação, islamismo xiita, Jabir ibn Hayyan será uma figura central na alquimia medieval e se tornará uma dos mais importantes precursores da ciência da química (estabelecida definitivamente apenas nos século XVII e XVIII). Ele viveu sua vida adulta quase toda na cidade iraquiana de Kufa, as margens do rio Eufrates, no centro da Mesopotâmia, onde realizou as suas pesquisas e escreveu os seus livros.
Devido à importância da sua obra, seu nome estará envolto em lendas e a eles serão atribuídos livros e trabalhos realizados por outros pesquisadores no Mundo Muçulmano e na Europa nos séculos seguintes. 3000 livros e textos foram a ele atribuídos. As dificuldades na leitura dos seus trabalhos, pois eles eram escritos numa linguagem hermética para os integrantes de sua escola alquímica, também contribui para as confusões em torno de sua obra e vida. Por isso, existem estudiosos modernos que afirmaram que ele nunca existiu e seria uma criação fictícia para englobar um conjunto heterogêneo e vasto de trabalhos científicos muçulmanos entre os séculos VIII e X.
Ibn Hayyan também é uma das figuras que faram o papel de ponte entre os alquimistas do mundo greco-romano, por um lado, e os da Pérsia Sassânida (grande império asiático conquistado pelos árabes no século VII), por outro, com a tradição que se desenvolverá na alquimia medieval. O vocabulário técnico iraniano da sua obra e a referências frequentes a alquimistas persas pré-muçulmanos em seus trabalhos mostram isso.
Entre os trabalhos mais importantes estão: Kitab al-Kimia; Kitab al-Ghamar (Livro da Prata), Kitab al-Ahjar (Livro das Rochas), Kitab al Zuhra (Livro de Vênus), Kital al-ashams (Livro do Ouro), Kitab al-Azi Abagh (Livro do Mercúrio Oriental), Kitab al Asrar (Livro dos Segredos), Kitab al-Hudud (Livro do Testamento).
Ele era também místico e, como xiita, se opôs a dinastia dos Omíadas (661-750) no Império Árabe. Mesmo em seus trabalhos mais científicos há referência a doutrinas e reflexões de comunidades xiitas como os ismaelitas e os carmatas. Seu pai, um farmacêutico da sua tribo nativa, os Azdis, havia participado de um levante contra essa dinastia e acabou sendo preso e executado.
Ibn Hayyam apoiará a dinastia dos Abássidas, que substituirá a dos Omíadas após uma revolução dentro do Império Árabe. A revolta que os coloca no poder contou com a participação da tribo Azd. Com isso, embora professasse provavelmente o xiismo na vertente ismaelita, Ibn Hayyam contará com o apoio da família dos Barmácidas, um grupo de aristocratas persas que forneceu muitos dos grão-vizires (primeiros-ministros) para a dinastia árabe dos Abássidas. Uma parte considerável dos seus livros é dedicada a essa família. Mas, quando sua família, no fim de sua vida, brigar com os Barmácidas, Ibn Hayyam será posto em prisão domiciliar, em Kufa, onde falecerá em 815.
Descobertas e Criações
Ibn Hayyan criou muitos dos procedimentos da pesquisa empírica que será feita pelos alquimistas medievais e depois, será incorporada a ciência da Química. Dessa forma, serão desenvolvidos os procedimentos e os instrumentos dos vários tipos de destilação, de cristalização, de calcinação, de condensação, de redução química, de purificação, de filtração.
Desenvolverá ou aprimorará um conjunto de 21 instrumentos hoje básicos nos laboratórios químicos como a retorta e várias formas novas de alambique.
Em seus textos descreverá o ácido sulfúrico, a água-régia, o nitrato de prata, o ácido cítrico, o ácido acético, o ácido tartárico o ácido hidroclórico e, lhe é atribuída, a descoberta do acido nítrico. Ele também obterá o bismuto e o arsênico e produzirá em laboratório o enxofre e o mercúrio. Fará uma classificação dos sais Essas realizações acabaram por ser a base no qual a química acabaria se erguendo.
Ibn Hayyan defendia a ideia de que a experimentação era uma condição básica para se conhecer a natureza (algo nem sempre muito claro até o século XIII ou mesmo o Renascimento) e ser um mestre na alquimia, afirmava que a aquisição do conhecimento dela era uma capacidade com o qual os seres humanos haviam nascido caso estudassem.
Sua visão da natureza será de tipo aristotélico, aceitando e desenvolvendo a teoria dos quatro elementos (água, fogo, ar e terra) acrescentando os quatro qualidades da humidade, sequidade, frialdade e a quentura. A junção em determinadas proporções dos elementos com as qualidades criavam as substâncias do mundo material. Junto a isso, Ibn Hayyan acrescia uma visão de origem pitagórica, no qual no qual equações matemáticas contribuíam para mostrar a natureza e propriedade dos elementos a partir dos valores numéricos das consoantes presentes em seus nomes.
Sua visão de que a matéria tinha pequenos componentes se misturando e a alterando qualitativamente criou a noção de composto químico e contribuiu bastante para o desenvolvimento da ideia de átomo, originada em gregos como Demócrito, cujos trabalhos eram conhecidos no Império Árabe.
A sua classificação das substâncias em três categorias: “espíritos”, metais e formas intermediárias é a raiz da classificação atual em metais e não-metais. “Espíritos” são produtos mais voláteis como enxofre, sal amoníaco, mercúrio, arsênio, cânfora, ácidos e muitos outros; metais incluem os seis conhecidos de forma plena na Antiguidade (ouro, prata, chumbo, cobre, ferro, estanho) e o ferro chinês (khar-sini); as formas intermediárias eram as substâncias difíceis de moldar e que tinham características intermediárias entre os “espíritos” e os metais como os diversos tipos de pós e as rochas.
Também, a ideia atual de que certa quantidade de ácidos podem ser neutralizadas por determinadas quantidades de bases, começou a ser formulada por Ibn Hayyan.