Muhammad Zakaria ye-Razi-Médico e Alquimista Persa
Por: José J.
03 de Setembro de 2019

Muhammad Zakaria ye-Razi-Médico e Alquimista Persa

Grandes Filósofos e Cientistas do Islã Medieval

História História Geral Ensino Médio

                                                         Muhammad Zakaria ye-Razi –Médico e Alquimista Persa

Razi (c.865 a 925) foi um grande médico e alquimista persa nascido em Rey, na região de Teerã, hoje capital do Irã. Seu nome era Abu Bakr Muhammad Zakarya ye-Razi, apesar de seu nome arabizado, ele era etnicamente um persa, pois muitos dos muçulmanos não-árabes na Idade Média arabizavam ou davam nomes árabes a seus filhos por conta do prestigio dos fundadores árabes de sua fé.

Ele viveu na época da dinastia dos Abássidas (750-934) do Império Árabe, quando esse estado era uma aliança política e étnica entre os árabes e as elites dos países iranianos conquistados no século VII. Era o auge do florescimento econômico árabe e a cultura muçulmana florescia tanto na capital Bagdá, na Mesopotâmia- a atual República do Iraque-, quanto em centros nas províncias ricas do império, assim como em vários estados muçulmanos recém-independentes da época. Razi, foi um desse muitos iranianos que viveram e trabalharam na Mesopotâmia da época a imigrou para essa cidade, foi professor na universidade local, a Bait al-Hikmat (Casa da Sabedoria) e manteve vínculos com a dinastia Abássida e com a nobreza persa emigrada que servia os reis árabes como funcionários e generais. Também dirigiu um importante hospital em Bagdá. Mais para o fim da sua vida também dirigiu outro em sua cidade natal.

Mas também, por não ser árabe, manteve contatos com a dinastia persa dos Samânidas, que surgiu na Ásia Central em 819 e dominaram a região de Teerã, onde Razi nasceu. O segundo mais importante livro que ele escreveu, o Kitab fi Mansuri al Tibb,  é dedicado ao soberano Samânida de Rey Abu Salih al-Mansur.

Sua obra foi escrita principlamente em árabe e era nessa língua que ele dava as suas aulas e atendia muitos dos seus pacientes não-iranianos. O árabe era uma língua erudita e universal no império Árabe e regiões sobre sua influência e nela circulavam a ciência, filosofia e boa parte das obras de cientistas e filósofos gregos da Antiguidade nas terras muçulmanas.

Razi escreveu sobre medicina, química, física, lógica, astronomia, gramática e instrumentos médicos e de pesquisa laboratorial. No total há 184 textos atribuídos a ele entre livros e artigos. Ao longo do século XIII muitas de suas obras foram traduzidas ao latim e sua influência foi enorme nas faculdades de medicina da Península Europeia por diversos séculos.

Entre seus escritos de medicinas podem ser citados: 1) o já comentado Kitab fi Mansuri al-Tibb (Livro de Medicina de Al-Mansur); 2) o Livro sobre a Varíola e o Sarampo, 3) o Kitab al Hawi fi al-Tibb (O Livro da Virtude da Vida), conhecido na Europa com Liber Continens, uma espécie de enciclopédia médica de 22 volumes no qual Razi no qual o saber médico de gregos, romanos, persas pré-muçulmanos e muçulmanos até sua época é apresentado, em grandes extratos, comentados e acrescidos de estudos e observações do autor. Nesse trabalho estão as bases da obstetrícia, cirurgia oftalmológica e ginecologia como são conhecidos hoje.

Razi era um racionalista e acreditava no valor da observação e da experimentação, quer na medicina, quer na alquimia. Ele seguia a corrente racionalista de seu tempo e era um adepto da perspectiva medica de Hipócrates centrada na observação e descrição exata e detalhada o máximo possível das enfermidades. Também era um pesquisador experimentalista e testou tratamentos como o uso de sanguessugas para tratar meningite.

                                                                                        Realizações

Razi foi o primeiro a descrever de forma exata a diferença entre a varíola e o sarampo, um passo importante para se começar a desenvolver tratamentos dessas duas doenças. Os estudos dessas e outras doenças contagiosas fez com que, usando a teoria grega dos humores, ele realizasse uma das primeiras distinções claras entre as doenças contagiosas e as demais. Razi é um dos primeiros a descrever as reações da pupila frente à luz, bem como descreveu e relacionou o nervo óptico a visão.

Descreveu também vários outros nervos na cabeça e é um dos primeiros a mostrar a ligação do nervo da base da língua com o alto da cabeça.

Ele, nos hospitais que dirigiu, estava entre os primeiros a instalar alas separadas para doentes mentais e crianças. Devido ao seu trabalho nesses hospitais, ele mostrou os erros das classificações das febres feitas pelo médico grego Galeno e procurou elabora-la melhor. Também mostrou como grande parte das descrições de doenças urinárias do médico grego estavam erradas. Para melhor realizar o ofício de médico, Razi aperfeiçoou ou criou instrumentos como ampolas, frascos, espátulas. Também compilou vários textos sobre farmácia que ajudaram a sistematizar o conhecimento acumulado até então nessa ciência, além e ter escrito um dos primeiros manuais de medicina conhecidos para os leigos.

O médico persa, no trabalho: A Razão de Abu Zaid Blakhi Sofrer de Renite... Quando Cheira uma Rosa, faz uma das primeiras descrições conhecidas de uma alergia, no caso um homem alérgico ao perfume das rosas que teve renite por conta disso. Ele mostrou ser a febre que a alergia causou uma reação de defesa do organismo do alérgico frente ao perfume da flor. Já no tratado, A Doença das Crianças, escreveu o primeiro livro conhecido sobre medicina infantil.

Razi também tinha uma postura frente ao conhecimento cientifico similar ao dos estudiosos contemporâneos: ele reconhecia as contribuições do passado, mas não via os autores anteriores como estando certo o tempo todo, pois as novas gerações poderiam ter mais e melhores informações, desenvolverem técnicas e métodos melhores no estudo da natureza e do homem. Esta postura seria, séculos mais tarde, incorporada pelos estudiosos europeus leitores dos trabalhos do erudito persa a partir do século XIII contribuindo para os progressos científicos na Europa desde esse século.

                                                                                        Alquimia

Razi também foi alquimista e essa atividade estava relacionada com a sua profissão de médico. Ele produziu o etanol e o usou, pela primeira vez na história, nas atividades hospitalares. Em seus trabalhos alquímicos ele dá inicio ao processo de refutação da antiga teoria dos quatro elementos (água, terra, ar e fogo), vinda do início da filosofia grega e aceita por Aristóteles, como a base de toda a matéria ao desenvolver conceitos novos para classificar as substâncias como “salinidade”, “inflamabilidade”, “sulfurosidade”, “oleosidade” vistos não como características secundárias, mas propriedades básicas de determinados tipos de matéria.

Ele ao produzir etanol e extrair querosene do petróleo desenvolveu uma série de instrumentos ainda em uso ou que serviram para se desenvolver outros melhores para a produção das substancias relatadas acima.

Seus trabalhos mais importantes aqui são: Al-Asrar (O Segredo) e Sirr al-Asrar (O Segredo dos Segredos). Um aspecto importante desses livros é que eles são escrito quase sem linguagem mística e ambiguidades e todas as classificações são baseadas em observações cuidadosas e repetidamente observadas das reações e propriedades das diversas substâncias estudadas.

No Sirr al-Asrar ele divide em três as formas de se adquirir conhecimento na alquimia: 1) Conhecimento de substâncias médicas de origem animal, vegetal ou mineral e o melhor uso delas no tratamento de cada doença; 2) Uso de equipamentos e ferramentas adequados; 3) os sete procedimentos alquímicos: sublimação e condensação do Mercúrio, precipitação do enxofre; calcinação de minerais, de sais, vidro, talco, ceras. Ele mostra métodos para usar líquidos cáusticos para mudar a cor dos metais menores (chumbo, ferro, estanho) e outro para dourar a prata e deixa-la com o aspecto do ouro e a técnica que reverte esse processo.

Razi estabelece uma classificação dos minerais em seis grupos: 1) Espíritos: minerais com reações rápidas; 2) os Setes Corpos: Ferro, Cobre, Ouro, Prata, Estanho, Chumbo e Zinco; 3) as Treze Rochas, ex: malaquita, magnésia, lápis-lazúli, talco, hematita, etc.; 4) os Sete Vitríolos-nome arcaico para os sulfatos; 4) os Setes Boratos: compostos de boro e oxigênio; os Onze Sais como os sais marinhos, cinzas, nafta, óxido de cálcio, etc.: Junto a essa classificação, vem uma classificação do utensílios e aparelhagem dos alquimistas do tempo de Razi em dois grupos: os usados para trabalhar com os metais e os usados para trabalhos com as demais substâncias.

Importante na sua atividade de pesquisador é a sua busca de explicações as mais racionais possíveis para descrever as reações observadas, procurando dispensar ao máximo o uso de procedimentos mágicos, a ideia de poções e o poder sobrenatural dos símbolos, embora ainda aceitasse a ideia de milagres e da existência de procedimentos inexplicáveis na natureza. Por outro lado, se os conceitos que desenvolveu como “inflamabilidade” e “sulfurosidade”, o afastavam da teoria dos quatro elementos, sua visão da ação da matéria era neoplatônica e não mecânica: dessa forma Razi acreditava que cada tipo de matéria possuía uma “essência” ou “forma predominante”.

Mas, sua importância foi enorme e o impacto de sua obra se sentiria por muitos séculos tendo, na Europa, ajudado as estabelecer as bases do Renascimento Científico.

    

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Professor de História com Mestrado na USP. Experiência de ensino desde 2005. Venha conhecer uma disciplina muito necessária para a vida.
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