A ÁGUA DOS RIOS DO PCJ E VULNERABILIDADE SOCIAL
em 16 de Abril de 2020
Introdução
Os últimos trinta anos marcaram profundas mudanças na cidade de São
Paulo no que diz respeito ao papel desempenhado por ela na produção e
organização do território brasileiro. A cidade encara o papel de “cidade
informacional”, dado os fluxos de informações que são produzidos e irradiados para
todo o território nacional. São informações de diversas ordens, tais como a produção
científica e tecnológica, publicidade e marketing, gestão, consultoria, dentre outros
serviços que são categorizados mais recentemente como pertencentes ao setor
quaternário da economia (Bernardes, 2001; Tomelin, 1998).
Segundo Tomelin (1998), esse seria um setor com características dominantes
de criação e decisão, que apela para a ação de produzir ou de se apropriar, de
transformar, de executar e de conceber bens materiais ou não-materiais capazes de
possuir um valor econômico dominante. Nesse sentido, São Paulo surge como um
centro onde a ação e produção quaternária são bastante evidenciadas a partir das
empresas localizadas na cidade e da estrutura informacional ali visualizada.
Esse período é chamado por Santos (1997) como período técnico-científico e
informacional. Segundo o autor, trata-se de um período marcado pela intensa
associação entre ciência e técnica, pela presença das empresas hegemônicas, das
grandes corporações, da intensa internacionalização de capitais e de uma relação
marcante entre Estado e empresas. Neste trabalho, o destaque é para as empresas
de consultoria imobiliária, retratadas através da empresa estadunidense CB Richard
Ellis, e para a produção de novos objetos informacionais – edifícios inteligentes –
concebidos para colocar em ação as necessidades de empresas hegemônicas
instaladas na cidade.
A cidade de São Paulo e as ações da Consultoria CB Richard Ellis
A CB Richard Ellis é uma das mais representativas empresas do setor de
consultoria e marketing imobiliário do mundo, contando com um quadro de mais de
300 escritórios em cerca de 50 países. No Brasil, a empresa instalou seu primeiro
escritório na cidade de São Paulo no final da década de 1970 e hoje mantém um
escritório também no Rio de Janeiro.
Em São Paulo, a estrutura organizacional da CBRE trabalha na produção,
análise e promoção das informações sobre o mercado imobiliário. Os dados
produzidos pela empresa são bastante claros quanto ao papel informacional de suas
ações. A empresa trabalha na produção, tratamento e na difusão de informações
que são posteriormente utilizadas pelos seus clientes a fim de aumentarem a sua
competitividade, atendendo uma demanda de racionalidade das ações empresariais
e espaciais.
Para Bernardes (2001), essas empresas são pré-requisitos para a
implantação de redes globais, pois promovem internacionalmente técnicas de gestão
para acelerar o ritmo de reestruturações espaciais. Elas são elos de solidariedades
organizacionais, ou seja, estratégias políticas e técnicas para resoluções de
questões corporativas através da produção e circulação de informações necessárias
aos negócios corporativos. Em São Paulo essas ações acontecem, a partir de
empresas como a CB Richard Ellis, na conformação do Novo Centro de Negócios na
cidade, situado no chamado Quadrante Sudoeste, que engloba as intermediações
da Avenida Faria Lima, Avenida das Nações Unidas e Avenida Luís Carlos Berrini.
A CBRE busca consolidar um mercado de edifícios de escritório de alto
padrão, como as designações de “Inteligente” nos anos de 1990. A atração dos
novos investimentos é realizada mediante um conjunto de fatores que procuram
marcar a singularidade: infra-estruturas físicas e comunicacionais, regulação política
e social, qualidade de vida, dentre outros. A cidade dota-se de modernas estruturas
informacionais para atender aos interesses das grandes empresas localizadas no
Brasil, principalmente no que toca às tecnologias de informação, prestação de
serviços e análises prospectivas de mercado. Dentre essas estruturas, destacam-se
os chamados “edifícios inteligentes”, objetos previamente concebidos para a difusão
de informações, colocando em prática as ações das grandes corporações
localizadas na cidade de São Paulo.
Novos Arranjos Espaciais e o Novo Centro de Negócios
A década de 1990 em São Paulo é denominada por Castillo e Bernardes
(2001) como a da “produção imobiliária para as empresas”, fazendo alusão aos
eixos viários envolvendo o Quadrante Sudoeste. Trata-se de uma área que passou a
contar com sistemas técnicos especializados, “edifícios inteligentes”, redes
telemáticas, sistema viário acessível aos aeroportos, grandes estacionamentos,
dentre outros. Toda essa infra-estrutura é acompanhada e gerenciada por empresas
de consultoria imobiliária que marcam um novo padrão de ocupação, tendo forte
atuação nessa região a CB Richard Ellis.
Devido a uma maior exigência das empresas multinacionais por espaços de
maior racionalidade durante a década de 1990, os empreendimentos do setor
incorporaram novas técnicas, fazendo com que o período fosse marcado pela
grande entrega de espaços considerados de Alto Padrão. O mercado de edifícios
para escritório na cidade de São Paulo gira, hoje, em torno dos grandes
empreendimentos imobiliários voltados ao atendimento das grandes corporações,
principalmente as transnacionais, fazendo com que a cidade se equipe de tal
maneira à atender as necessidades exigidas por estas.
Atualmente, existe uma geração de edifícios – “inteligentes”. A característica
mais importante desses sistemas é atingida quando dão suporte à uma grande base
de dados, com capacidade de processar rapidamente uma vasta quantidade de
informação. Outro fator imprescindível é a possibilidade de ser adaptado às novas
tecnologias que vão surgindo (flexibilidade). Há uma congruência entre estrutura
física e a localização dos edifícios que comporia a “família inteligente”. Esses objetos
informacionais são localizados de forma específica a que produzam os resultados
que deles se esperam. Com relação a estrutura, Santos (1997) diz que nos objetos
informacionais existe uma adequação entre a estrutura interna e a função a que ele
se destina e que essa extrema adaptação torna possível sua ação planejada.
Para Bernardes (2001), a implantação de objetos e ações informacionais
hegemônicos valorizam o espaço geográfico, ocorrendo “uma renovação do
conteúdo geográfico”, dada a divisão internacional do trabalho fundada na
informação. Nesse caso, São Paulo assume de fato um novo papel na Formação
Sócio-Espacial brasileira, a de metrópole informacional.
Essa análise da cidade de São Paulo nos permite apresentar dados que, nas
palavras de Bernardes (2001), revelam a “contemporaneidade de São Paulo”. Os
serviços oferecidos pela CBRE estão em plena consonância com a estruturação
desses edifícios e com a inserção da cidade de nas formas hegemônicas da
economia mundial, através dos espaços da globalização. Compreende-se, dessa
maneira, que a conformação do Centro de Negócios Corporativos, faz parte de uma
reestruturação que requer formas e ações conformativas: objetos informacionais
apropriados (“edifícios inteligentes”) e consultoria imobiliária de alcance e padrões
internacionais.
A empresa CB Richard Ellis e a estrutura montada no Novo Centro de
Negócios são exemplos que atestam que São Paulo constitui-se como um espaço
da globalização, uma cidade corporativa e desigual, considerando-se as
especificidades da modernização num país periférico como o Brasil.
Bibliografia
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