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Vícios de linguagem
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em 09 de Janeiro de 2020
O tesouro no quintal
Moacyr Scliar
Era uma família grande, a nossa: pai, mãe, cinco filhos. Grande e pobre. Papai, pedreiro, mal conseguia nos sustentar. Mamãe ajudava como podia, fazendo faxinas e costurando para fora, mas mesmo assim a vida era bastante difícil. Papai vivia bolando formas de reforçar nosso orçamento doméstico ou de, pelo menos, diminuir as despesas. Foi assim que lhe ocorreu a idéia da horta.
Morávamos numa minúscula casa de subúrbio, não longe de uma bela praia, que, contudo, raramente freqüentávamos: era lugar de ricos. Casa pobre, a nossa, sem nenhum conforto. Mas, por alguma razão, tinha um quintal bastante grande. Do qual, para dizer a verdade, não cuidávamos. O capim ali crescia viçoso e no meio dele jaziam, abandonados, pneus velhos, latas, pedaços de tijolos e telhas. Papai olhava para aquilo, pesaroso: parecia-lhe um desperdício de espaço e de terra. Um dia chamou os dois filhos mais velhos, meu irmão Pedro e eu próprio, e anunciou: vamos fazer uma horta neste quintal.
Proposta mais do que adequada. Nós quase não comíamos legumes e verduras, porque eram muito caros. Mas, se plantássemos ali tomate, alface, agrião, cenoura, teríamos uma fonte extra de alimento - e o mais importante, sem custo.
Sem custo, mas não sem trabalho. Para começar, teríamos de capinar aquilo tudo e revirar a terra para depois plantar e colher. Meu pai não hesitou: vocês dois, que são os mais velhos, vão fazer isso.
Não gostamos muito da determinação. Não éramos preguiçosos, mas preparar a terra para fazer uma horta não era bem o nosso sonho e representaria um grande esforço. Contudo, não tínhamos alternativa. Quando papai dava uma ordem, era para valer. E, no caso, ele tinha o decidido apoio da mamãe, que era de uma família de agricultores e gostava de plantar.
Quem prepararia a terra? Foi a pergunta que fiz ao Pedro, que, além de mais velho, era o líder entre os irmãos. Pergunta para a qual ele já tinha a resposta:
- Isso é coisa para o Antônio.
Antônio era o irmão do meio. Com 9 anos, era um menino quieto, sonhador. Mas não era muito do batente, de modo que fiquei em dúvida: como convencê-lo a fazer o trabalho?
- Deixa comigo - disse Pedro, que se considerava muito esperto. - Eu sei como convencer o cara.
E sabia mesmo. Porque Pedro era dono de uma lábia fantástica, argumentava como ninguém. Ah, sim, e sabia contar histórias - inventadas por ele, claro. Era com uma história que pretendia motivar o Antônio a capinar o pátio.
Eu estava junto, quando ele contou a tal história. Era uma boa história: segundo um famoso professor, séculos antes piratas franceses haviam andado pela nossa região, e ali haviam enterrado um tesouro. Expulsos pelos portugueses, nunca mais tinham retornado, de modo que a arca com jóias e moedas de ouro ainda estava no mesmo lugar, que podia ser o pátio de nossa casa.
- O tesouro será a nossa salvação - concluiu Pedro , entusiasmado.
Antônio estava impressionado. Se havia coisa em que acreditava, era em histórias. Aliás, estava sempre lendo - era o maior freqüentador da biblioteca do colégio.
- Quem sabe procuramos esse tesouro? - perguntou ele.
Era exatamente o que Pedro queria ouvir.
- Se você está disposto, eu lhe arranjo uma enxada...
Antônio mostrava-se mais do que disposto. No dia seguinte, um feriado, lá estava ele, enxada em punho, cavando a terra, diante do olhar admirado da família. Papai até perguntou o que tinha acontecido.
- Ele se ofereceu para fazer o trabalho - disse Pedro, dando de ombros.
Para encurtar a história: tesouro algum apareceu, mas, um mês depois, tínhamos uma horta no quintal. Antônio acabou descobrindo a trama de Pedro, mas não ficou zangado. Inspirado pelo acontecimento, escreveu uma história, com a qual ganhou um prêmio literário da prefeitura. Uma boa grana, que ele usou para comprar livros. Hoje é um conhecido jornalista e escritor. Acho que ele acabou, mesmo, encontrando o tesouro.
Fonte do texto: www.revistaescola.abril.com.br
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Questões
Orientações gerais:
- Resposta final à caneta preta ou azul.
- Caso haja rasura em questões de múltipla escolha, a mesma será desconsiderada.
- Não usar corretivo.
1- Antônio é descrito como um grande leitor e há dois fatos que sustentam essa ideia apresentada pelo narrador. Quais são elas?
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2- A história contada por Pedro a Antônio possui alguns elementos básicos de uma narrativa, como tempo, espaço, personagens e situação inicial. Defina qual é o tempo, o espaço, os personagens e a situação inicial na história que Pedro conta a Antônio.
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3- A princípio, o narrador e Pedro acham que a ideia de fazer uma horta era muito boa, mas algo faz com que os garotos se incomodem com essa ideia. Por que os garotos se incomodam com a proposta do pai em fazer a horta?
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4- “Papai, pedreiro, mal conseguia nos sustentar.”
O substantivo pedreiro acrescenta uma informação ao substantivo papai. Pensando nas funções sintáticas (sujeito, objeto direto, adjunto adverbial etc.), qual é a função do termo pedreiro?
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5- “No dia seguinte, um feriado, lá estava ele, enxada em punho, cavando a terra, diante do olhar admirado da família.”
A que função sintática corresponde a expressão “No dia seguinte”? Assinale a alternativa correta:
A- Sujeito
B- Predicativo do sujeito
C- Adjunto adverbial
D- Adjunto adnominal
E- Complemento nominal
6- Nos dois primeiros parágrafos do texto, o narrador nos fornece várias características sobre sua família e a casa onde moravam, de modo que possamos ter uma imagem mental dos personagens e do ambiente em que o texto se passará. Essas características são pertencentes a que tipo de texto? Assinale a alternativa correta.
A- Argumentativo
B- Descritivo
C- Dissertativo
D- Opinativo (de opinião)
7- “Não éramos preguiçosos, mas preparar a terra para fazer uma horta não era bem o nosso sonho e representaria um grande esforço.”
Temos no trecho acima várias orações que estão interligadas e sabemos que há dois processos para ligarmos orações dentre de um período: a coordenação e a subordinação. Nesse período prevalece o processo de subordinação ou de coordenação? Justifique sua resposta.
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8- O título do conto é “O tesouro no quintal” e temos aqui duas possibilidades que justificam o título. Quais são os dois tesouros de que o conto fala?
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9- Diferencie o objeto direto do objeto indireto. Crie orações para exemplificar cada tipo de objeto (ao menos um exemplo para cada tipo de objeto).
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10- Podemos colocar os pronomes oblíquos átonos em diferentes posições com relação ao verbo: antes, no meio ou após a forma verbal. Como se chamam os casos de colocação pronominal? Qual é o caso mais comum e o menos comum? Qual caso revela um maior nível de refinamento na fala ou na escrita? Por quê?
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