Medo de trovão
Por: Matheus B.
12 de Dezembro de 2022

Medo de trovão

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Viver em Dharamshala não é estar na Índia. Essa vila incrustada nos Himalaias tornou-se a casa de tibetanos expatriados. Sua presença aqui é muito mais antiga do que a vinda do Dalai Lama, fugido do regime chinês. Edificações já existiam nesse enclave há séculos.

Uma lenda diz que um demônio dorme no território do Tibete e para mantê-lo adormecido ao longo de séculos, templos e monastérios foram erguidos nos quatro cantos do país. O pé esquerdo está localizado em McLeod Ganj, onde estou vivendo com minha esposa.

Tibetanos são uma mistura de diferentes culturas. Seu território está bem no centro da rota da seda. Cravado entre os chineses e os persas, de leste à oeste, e entre mongóis e indianos, de norte a sul. Estes tiveram maior influência na formação dessa cultura. Indianos deram ao Tibete a religiosidade misturada às crenças endêmicas. Já os mongóis fundamentaram a cultura tibetana. Suas invasões e ocupações do território desde o século XII sedimentaram e transformaram a cultura, influenciando a sociedade em todos os aspectos. É nítido em sua fisionomia, em seus costumes pastoreiros, em seu canto gutural, nos instrumentos e em suas vestimentas.

Sou muito curioso e compreender o ser humano em suas diferentes facetas fomenta meu apetite pela vida. Minha esposa sabe disso. Comentando com ela minhas observações, ela me disse que quando adolescente assistiu um filme mongol sobre Gengis Khan na Reserva Cultural em São Paulo e que seria interessante que eu também visse. Fui atrás e encontrei o filme.

O filme se chama “Mongol”, mas chegou ao Brasil com outro título. Ele conta a história de Temudgin, futuro Gengis Khan, tornando-se a figura histórica que conhecemos. Já lhe adianto que se não o conheces, ele deixa Alexandre “O Grande” no chinelo. Para fazer um resumo grosseiro do filme e sendo muito claro, ele só “se dá mal” o filme inteiro e no final se torna o grande conquistador que lemos nos livros de história.

Algumas coisas me chamaram atenção no filme. Apesar de sofrer muito ao longo da sua infância e juventude, Temudgin se mantém fiel aos seus costumes, ao que lhe foi ensinado por seus pais. Ademais, ele se mantém aquém dos fatos, quase como se não fosse ele quem estivesse sofrendo nas situações. É racional e justo. Isso se refletiu na sua liderança e governança como o grande líder, Gengis Khan.

Os mongóis, como homens das estepes, nômades, estavam expostos as intempéries como nenhum outro povo. Eles não tinham cidades nem construções sólidas; viviam em tendas e mantinham-se sempre muito próximo à natureza. Na época das chuvas, as tempestades eram homéricas. Assim como os cavalos, seus companheiros e mais importantes posses, tinham muito medo do trovão. Na batalha final, entre Temudgin e Lamukha (sim, estou contando filme, mas é por uma boa causa), uma tempestade cai sobre o campo de batalha. Enquanto as tropas de Lamukha ficaram atordoadas e sem rumo, Temudgin e seus homens se mantiveram imbatíveis e avançaram sobre o inimigo, vencendo a batalha.

Capturado, humilhado, mas poupado pelo voto de irmandade que tinham, Lamukha pergunta à Temudgin: “Irmão, todo mongol tem medo do trovão, mas você não. Como isso é possível?”. Após um olhar profundo e sereno, ele responde: “Quando criança não tinha onde me abrigar do trovão. Logo, aprendi a conviver com o medo”. O ensinamento oculto aqui é o seguinte: o medo nos paralisa, nos trava e nos impede de seguir. O grande guerreiro não perde o medo. Aprende a conviver.

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