Breve Discussão sobre as Teorias Críticas da Liter
Por: Samantha S.
10 de Abril de 2018

Breve Discussão sobre as Teorias Críticas da Liter

Literatura Curso Superior Teoria da Literatura Estudos Literários Letras Português Teoria Literária

        Tão antigas quanto a própria produção literária são as teorias que a estudam. Atualmente temos ao alcance uma série de teorias que tentam definir a função e o funcionamento da literatura, e seguem elas por diversas vertentes, cada uma estudando um objeto específico, ou até estudando o mesmo objeto, mas sob pontos de vista diferentes. Mas, afinal, o que vem a ser essas teorias e para que servem? Para responder a essas perguntas é válido conhecer um pouco da história da crítica literária e como ela se transformou ao longo do tempo e das culturas.

        Muito pouco se registrou sobre a história da crítica, apesar do termo ser bastante utilizado, não apenas quando se refere à literatura, já que ela também pode estar ligada à filosofia, à política, à música, à arte, etc. René Wellek (1970) afirma que as Histórias da crítica abordam questões de estética, poética e teoria literária, entretanto não discutem, ou abordam suscintamente, a teoria da própria crítica.

        Num passeio pelas diversas abordagens críticas encontraremos o termo krineín (julgar) e derivando dele teremos kritikós (juiz de literatura), que se confundia com o termo gramatikós, ambos dedicavam-se ao estudo dos escritores clássicos, mas era um estudo de caráter pedagógico. Posteriormente encontraremos no latim o termo criticus também em contraposição com grammaticus, sendo o primeiro menos frequente e utilizado para designar o indivíduo que buscava aprofundamento na interpretação dos textos e palavras.

          O termo em questão foi cultivado por filósofos e retóricos e hoje corresponde ao que chamamos de crítica literária.

        Durante a Idade Média a palavra crítica vai ganhar a conotação de doença, mas vai reaparecer entre os humanistas como uma subdivisão da gramática com objetivo limitado à correção e valoração dos textos. Também durante o Renascimento haverá a distinção dos termos gramático, crítico e filólogo, o que já oferece grande abertura para o que viria ser a crítica literária na era moderna.

        Desde o século XVIII observamos um crescente desenvolvimento de várias teorias. Nos últimos três séculos crítica ocidental parece ter encontrado terrenos férteis para discussões pertinentes no ramo literário. Em certo momento ganhou tal importância que passou a preceder a própria produção literária, não mais buscavam sua base na obra, eram a base da obra. Seguem adiante algumas das teorias mais importantes que exemplificam os métodos de análise que podem ser tomados no estudo literário.

        O formalismo Russo, fundamentado nas teorias de Jakobson e Chklovski, foi uma das teorias mais difundidas no ocidente. Buscava explicar os fatores determinantes para se considerar um texto como obra literária, concentrava-se na distinção entre a linguagem prosaica e a linguagem poética. Chklovski defende que a arte se diferencia das demais linguagens pelo seu procedimento de construção e pela desautomatização da percepção. Segundo esta teoria, a linguagem prosaica é automatizada, não há reflexão acerca das palavras pronunciadas ou escritas, nos acostumamos ao uso de certas palavras em certas situações e seguindo determinada ordem. Para a linguagem se tornar poética é necessário que ela cause um estranhamento, que novos sentidos e sonoridades sejam percebidos e que a experiência de entrar em contato com essa nova linguagem seja ímpar. No formalismo Russo o objeto de estudo não é o texto literário em si, mas a sua literariedade.

        Seguindo o mesmo pensamento dos formalistas, encontramos o New Criticism americano, que se desenvolveu durante a primeira metade do século XX no sul dos Estados Unidos e fundamenta-se nas obras de Samuel Taylor Coleridge. Defende a análise minuciosa dos elementos internos do texto, tomando-o como um fenômeno autônomo, portanto livre de influências exteriores, tais como referências sociais, intencionalidade do autor, biografismos, etc. Os novos críticos se concentram no estudo das técnicas de que tornam possível a materialidade linguística do texto e o efeito provocado na articulação de cada partícula textual no conjunto da obra.

        O Estruturalismo também se concentra na análise do discurso textual, da forma e da estrutura que acoplam a obra de arte. Seu método se baseia m técnicas interpretativas através das quais se depreende padrões estruturais dos textos literários. Quando se estuda um texto em particular é com o objetivo de estabelecer o padrão, um modelo geral. Para os estruturalistas forma e conteúdo não se separam no texto literário, pois o significado depreendido do texto é dependente da maneira como ele ganhou materialidade. As teorias estruturalistas, assim como o formalismo e o new criticismo, recusa a participação do indivíduo na produção de sentido do texto.

        Diferente das teorias anteriores, a teoria sociológica busca as relações entre o texto literário e a sociedade. Agora as peculiaridades internas serão relegadas e os fatores externos ganham destaque na análise textual. Os estudiosos dessa tendência veem na literatura um reflexo da sociedade e da época em que foi produzida. Os estudos da teoria sociológica darão maior abertura para a participação do autor e do leitor na interpretação do texto.

        A psicanálise foi criada por Sigmund Freud também exerceu importante papel na crítica literária. Freud formulou muitas de suas ideias baseando-se em personagens literários. Os conceitos de Id, ego, superego, inconsciente, complexo de Édipo entre outros serviram de base para analisar os textos literários, traçar perfis psicológicos através dos personagens, ou até mesmo desvendar resquícios biográficos do autor em seus textos.

        Podemos ainda citar outras tendências críticas, tais como a marxista, a feminista, a estética da recepção, a cultural, a filosófica, a linguística e estilística, a mítica, e inúmeras outras. O que se percebe é que cada teoria crítica apresenta um ponto de vista diferente sobre a literatura, cada uma avalia um objeto diferente. Não há como dizer que uma crítica é mais válida que outra, todas elas apresentam pontos falhos, mas também têm sua parcela de acertos, cada teoria tem seu valor dentro da análise literária. É válido lembrar também que as teorias críticas surgem em consonância com outras, de certa maneira uma nova teoria terá resquícios de uma teoria anterior. Assim como na química nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, funciona também a crítica literária: uma teoria “adormece” enquanto outra ganha espaço, esta por sua vez, tem influência de outra que outrora também tinha sido esquecida.

 

 

Referências bibliográficas

 

WELLEK, René. Termo e conceito de crítica literária in Conceitos de Crítica. São Paulo: Cultrix, 1970.

_________. Principais tendências da crítica no século XX in Conceitos de Crítica. São Paulo: Cultrix, 1970.

 

 

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