Análise de poemas
Por: Samantha S.
10 de Abril de 2018

Análise de poemas

Correspondências - Charles Baudelaire

Literatura Simbolismo Poesia poema estudo do poema Análise Interpretação

Correspondências

A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam escapar, às vezes, confusas palavras;
O homem ali passa por entre florestas de símbolos
Que o observam com olhares familiares.

Como longos ecos que ao longe se confundem
Em uma tenebrosa e profunda unidade,
Vasta como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se correspondem.

Há perfumes frescos como carnes de crianças,
Doces como oboés, verdes como as pradarias,
— E outros, corrompidos, ricos e triunfantes,

Tendo a expansão das coisas infinitas,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Que cantam os transportes do espírito e dos sentidos.

Charles Baudelaire


O poema Correspondências, como o próprio título sugere, apresenta através de imagens relativas à natureza, uma caracterização do mundo poético e de como este se relaciona com o homem (seja ele leitor ou poeta).

Nos dois primeiros versos nos é apresentada uma descrição da natureza como um templo, um termo que pode carregar a conotação do sagrado, neste espaço “vivos pilares/deixam brotar confusas palavras”, esta imagem nos remete à plurissignificação das palavras, que só podem ser decifradas dentro de um texto e de um contexto. O homem penetra este templo, uma “floresta de símbolos”, o misterioso mudo das palavras, e estas o observam com “olhos familiares”, esta expressão faz lembrar uma passagem de Diálogos de Oficina, de Mário Faustino, na qual um dos poetas conclui acerca da utilidade da poesia que ela “é instrumento de realização existencial, do próprio poeta, que através dela se organiza, se afirma e se harmoniza com o resto da humanidade e do universo. (FAUSTINO, 1977, p. 40), assim, como entidade viva misteriosa, a poesia conhece o homem em sua profundidade.

A segunda estrofe inteira é construída por comparação e sinestesias: os perfumes, cores e sons formam uma única entidade, estão em consonância, se correspondem, respondem a si mesmos como longos ecos (sons) que se confundem ao longe e se tornam unidade – e, novamente, o uso de adjetivos que nos remete ao mistério da poesia – tenebrosa e profunda. Misturam-se os sentidos como se todas as sensações emanassem de um único ser, uma unidade, e não apenas emanam, mas formam este ser, ou melhor, a poesia se transfigura na imagem da natureza.

A terceira e a quarta estrofe também é composta por sinestesias e comparações: perfumes (olfato) frescos (tato) como corpos infantis/ doces (paladar) como o oboé (audição)/ verdes (visão) como campinas. Todos esses adjetivos se referem a aspectos positivos da natureza (fresco, doce, verde), mas há também os perfumes “corrompidos, ricos, triunfantes”, aspectos humanos, e estes se prologam no espirito e no sentido, tal qual aroma místicos (âmbar, almíscar, benjoim e incenso), há, então, um vínculo entre a natureza e o homem nestes perfumes, que bem poderiam ser os versos ou o poema.

Destarte, depreende-se um vínculo entre o homem e a poesia, mas no caso é ela que o observa, o homem penetra esta misteriosa “floresta de símbolos”, a linguagem/floresta/natureza de mistérios e ecos eternos, de múltiplas significações e interpretações se eterniza no êxtase do homem.


Referências

FAUSTINO, Mário. I. Poética: diálogos de oficina in Poesia-Experiência. São Paulo: Perspectiva, 1997.

 

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em 4 de janeiro de 2020

Que maravilha! Tudo a ver!

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