Música não é talento, é direito!

Gostaria de iniciar esse post expondo aquilo que acredito veementemente: aprender música é um direito e não um luxo reservados àqueles considerados mais “abençoados” ou “afortunados”.

Ao longo da minha ainda pouca (porém produtiva) experiência como professora de música, posso dizer que a ideia de “talento” ou “dom” ainda assombra a cabeça de muitos professores e pai de alunos. Mas afinal, como se define um talento ou  dom?

Segundo o Dicionário Online de Português, talento se define por “Aptidão invulgar (natural ou adquirida); (…).Indivíduo engenhoso, de habilidade ou capacidade incomuns: é um talento de primeira ordem.”

Já o “dom” segundo o mesmo dicionário se define por “Qualidade inata, natural; aptidão, talento: tem o dom da pintura”.

Ambas definições parecem apontar para um habilidade e inclinação a qual a razão aparentemente não pode explicar. Dessa forma é comum acreditar que “fulano já nasceu cantando, tocando” ou então “meu filho puxou o avô que adora tocar violão”. Ignora-se no entanto, que a criança só manifestou tal interesse por meio dos sentidos e estímulos que a rodeiam. Uma criança que nunca viu alguém segurar um violino não irá posicioná-lo ( por imitação) da maneira mais próxima ao correto, ao passo que se a mesma criança viu o avô tocando violão, é comum que queira segurar e/ou “tirar algum som” do violino como se esse fosse um violão.

Num exemplo como esse é evidente que a criança teve a oportunidade de ouvir ao vivo e a cores alguém tocando o violão para ela, o que de certa forma  contribui para sua musicalização e despertar dos sentidos mais imediatos como visão e audição, que segundo Piaget corresponderiam às fases de assimilação e incorporação.

Para Piaget o conhecimento é fruto das trocas entre o organismo e o meio. Essas trocas
são responsáveis pela construção da própria capacidade de conhecer. Produzem estruturas
mentais que, sendo orgânicas não estão, entretanto, programadas no genoma, mas aparecem
como resultado das solicitações do meio ao organismo. (CAVICCHIA, pg.2)

Em contrapartida, se tomarmos como exemplo uma criança cujo lar seja desprovido de estímulos musicais diretos (como alguém que possa tocar para ela um instrumento ao vivo), teria de fato a mesma  facilidade ou habilidade motora-musical para tal?

E se, a criança simplesmente observasse alguém tocando um violão ou piano na televisão, ao ter contato com os mesmos, teria alguma aptidão revelada?

Ambas perguntas são difíceis de responder, mas não se pode negar que quanto maior e mais próximo for o contato de uma criança ou adolescente com o universo musical – a qual todos tem direito – mais aflorada será sua musicalidade.

Considerando essas questões,  acredito que cabe ao professor reconhecer as facilidades e dificuldades de um aluno, tomando cuidado para não enaltecer um aparente “dom” que na verdade é resultados de estímulos e oportunidades a ele oferecidos provavelmente pelo meio familiar.

Por outro lado também, é importante oferecer uma educação musical de qualidade àquele aluno que aos olhos mais apáticos não possui muito “jeito para a música”, a oportunidade de aprender, criar e apreciar de maneira justa e não simplista que visa apenas facilitar nosso próprio caminho enquanto professores. Afinal como dito anteriormente, aprender música é um direito e cabe a nós professores garanti-lo.

Até mais =)

REFERÊNCIAS

CAVICCHIA, Durlei de Carvalho. O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida. Unesp.