“Quanto tempo levo para aprender um idioma?”
em 10 de Dezembro de 2014
Estou na reta final da minha pós-graduação em revisão de texto e escolhi escrever sobre o preconceito linguístico para o artigo que apresentarei como trabalho de conclusão de curso.
E você sabe o que é preconceito linguístico? Talvez já o tenha cometido, mesmo sem saber.
Quando alguém critica outra pessoa pelo seu modo de falar e/ou escrever, esse alguém está cometendo um ato de preconceito; linguístico, no caso. Segundo Bagno (2013), esse preconceito acontece por causa da confusão feita entre gramática normativa e língua. Bagno (2013) afirma:
Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo... Também a gramática não é a língua. A língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma-padrão. Essa descrição, é claro, tem seu valor e seus méritos, mas é parcial (no sentido literal e figurado do termo) e não pode ser autoritariamente aplicada a todo o resto da língua – afinal, a ponta do iceberg que emerge representa apenas um quinto do seu volume total. Mas é essa aplicação autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia geradora do preconceito linguístico. (BAGNO, 2013, p.19)
Marcos Bagno é um autor muito lido por quem estuda Letras, e eu li um livro dele, na época de faculdade, chamado "Preconceito linguístico - o que é, como se faz". Li e, infelizmente, me reconheci preconceituosa linguisitcamente. Podia afirmar que não era uma pessoa preconceituosa, mas quando me reconheci como uma pessoa que pensa "Nossa, fulano fala errado!", tive que aceitar que cometia o preconceito linguístico. E hoje trato de mantê-lo o mais longe possível de qualquer pensamento meu.
Aprendi com as leituras de Bagno que não devemos julgar a fala ou a escrita de alguém. Não é porque a pessoa fala "pobrema" que ela não é inteligente, ou que ela está "errada". Devemos entender que o meio em que a pessoa vive reflete na sua língua. O português não é uma língua singular, homogênea. Ele é plural, tem diversas variações. Não devemos acreditar que o português ensinado na escola é o correto. A gramática ensina regras. Devemos segui-las para escrever um artigo, como o que eu estou escrevendo para o trabalho final da minha pós, devemos usá-las numa apresentação formal. Mas não é crime nenhum falar ou escrever "pobrema". O que está em jogo é a mensagem que se quer passar. Alguém falou "pobrema", mas isso não interferiu na mensagem passada pela pessoa? Ótimo! Ela se fez entender, e você a entendeu. Isso é o que importa!
Diga não a todas as formas de preconceito, inclusive o linguístico! Quem não julga vive melhor.