Argentina: Reversão de Expectativas na Política Econômica?
Por: V C.
26 de Outubro de 2023

Argentina: Reversão de Expectativas na Política Econômica?

O que estará em jogo no segundo turno das eleições presidenciais

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O recente resultado do primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina acirrou os ânimos aqui no Brasil. Em algumas rodas, as pessoas comentavam que Milei irá perder ao passar para o segundo turno, de modo análogo ao ocorrido no embate do ano passado entre Bolsonaro e Lula. Em outras reportagens, argumentava-se que a vitória do ministro da economia Sergio Massa reflete o fato que a população argentina está votando na continuidade dos gastos públicos e no peronismo. O tema de hoje está longe de analisar a política argentina e quem irá ganhar a presidência daquele país. Nosso principal argumento abaixo é que importa menos o nome do próximo presidente da Argentina e mais as suas intenções quanto aos rumos da política econômica.

A história das políticas públicas contém diversos episódios onde reformas estruturais e mudanças na política econômica foram implementadas por partidos políticos ou ministros cuja posição tradicional era veementemente a de oposição a tais políticas. Nos EUA, foi um presidente da direita americana (Richard Nixon), sabidamente contrário ao ‘comunismo´, o responsável pela aproximação do país com a China. No Brasil, no início dos anos 90 foi Fernando Collor de Mello que promoveu o maior confisco da poupança já visto no país. Tal confisco ocorreu apesar de reiteradas (e falsas) promessas que não faria qualquer tipo de ‘agressão’ contra as contas bancárias da população. A França durante os anos 80 privatizou parte de seu setor público sob a gestão socialista de Miterrand. O primeiro mandato de Lula em 2003 também evidenciou um presidente austero e preocupado com o equilíbrio orçamentário e preservação do sistema de metas de inflação, o oposto do que defendia na campanha. Tais episódios não sugerem apenas que grandes mudanças podem ser implementadas apenas por partidos políticos que se mostram contrários a tais políticas.

Intrigados com casos desse tipo, Alex Cukierman e Mariano Tommasi, desenvolveram um modelo teórico que permite entendimento mais claro das condições que podem levar a tal reversão de políticas. Os autores explicam que o eleitorado, de um lado, e os políticos, do outro, possuem informações distintas sobre os efeitos de tais políticas. Para os autores, políticos tendem a ser mais bem informados do que o eleitorado, apesar da existência de incerteza quanto aos resultados das políticas. Os autores ressaltam que num determinado momento, mudanças nas circunstâncias podem, por exemplo, tornar claramente desejável uma política percebida pelo eleitorado como “de direita”. Para adotá-la, contudo, o partido que detém o poder tem de angariar apoio. Isso exige que o político transmita ao eleitorado sua convicção que tal política se tornou imperativa para a conquista da estabilidade econômica, por exemplo. Os autores argumentam que, em muitos casos, é mais fácil para um partido de esquerda convencer o eleitorado de tal necessidade do que o de direita.

O trabalho dos autores citados revela que em situações de crise econômica grave, como é o atual caso da Argentina, espera-se tudo, menos continuidade da política econômica. Neste sentido, o candidato mais radical, Milei talvez não seja eleito devido a tal extremismo. Ainda assim, nada garante que o equilibrado Massa irá seguir com a atual estratégia que envolve elevado volume de subsídios, inflação crescente e alta do dólar. Se aplicarmos o argumento de Cukierman e Tommasi para a situação da Argentina é possível argumentar que os maiores reverses de política econômica pode surgir do candidato mais ao centro – Massa. Numa eventual presidência deste último será preciso conquistar credibilidade e sobretudo estabelecer uma distinção do novo presidente com a situação anterior (e atual) de ministro de um país falido.  Em contraste, numa eventual presidência Milei, esperamos poucas mudanças da situação atual. Isto porque Milei tem pouco (ou nenhum) apoio no congresso e sua equipe econômica ainda é pouco conhecida. Os reversos de política econômica ocorrem nos casos onde menos se espera. Assim, um governo Massa pode implicar uma grande mudança de política enquanto Milei poderá implicar em continuidade, mais do mesmo. A verificar.

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