O que é um argumento?
Por: William A.
05 de Abril de 2022

O que é um argumento?

Filosofia Lógica Argumentação

 

É comum ouvirmos reclamações sobre pessoas que não justificam bem suas posições, não oferecem argumentos para elas. Dizemos que essas pessoas não estão agindo racionalmente, pois não apresentam razões para sustentar suas próprias opiniões. Uma opinião racional precisa de argumentos. Mas o que exatamente é um argumento? O que queremos dizer com argumentar para sustentar uma opinião?

Para entender o que um argumento é precisamos primeiro entender o que é uma proposição. Entendemos uma proposição como o conteúdo de uma alegação, aquilo que uma alegação quer dizer. A alegação em português "O céu é azul", por exemplo, expressa como proposição que o céu é azul. Se a realidade confirmar a proposição, então a proposição é verdadeira, mas se negar, então a proposição é falsa. Assim, a proposição que o céu é azul será verdadeira apenas se o céu for azul. 

Sabendo o que são proposições, podemos definir um argumento. Um argumento é um conjunto de proposições no qual uma delas é a conclusão e as outras são premissas. A conclusão é a proposição que queremos defender e as premissas são as proposições que sustentam essa conclusão.

Como a conclusão é sustentada pelas premissas? Isso depende de outras propriedades do argumento. Uma dessas propriedades é a validade. Dizemos que um argumento é válido quando é impossível que todas as premissas sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa. Tome, por exemplo, o argumento a seguir:

1. Todo homem é mortal.

2. Sócrates é homem.

Logo,

3. Sócrates é mortal.

Nesse exemplo, as proposições dadas por 1 e 2 são premissas e a proposição dada por 3 é a conclusão. O argumento é válido, pois é impossível que as duas premissas sejam verdadeiras e a conclusão seja falsa. Se assumirmos que 1 e 2 são verdadeiras, mas 3 é falsa, chegaremos em uma contradição. 

A validade é uma propriedade formal. Isso significa que ela não depende do que as proposições tratam, depende apenas do modo como elas estão organizadas. Isso tem algumas consequências curiosos. Considere o exemplo a seguir:

4. Todo cachorro é gato.

5. Bóris é cachorro.

Logo,

6. Bóris é gato.

Esse argumento é válido. Se as premissas fossem verdadeiras, a conclusão teria que ser verdadeira. Claro que uma das premissas não é verdadeira (cachorros não são gatos), mas se fosse verdadeira, teríamos que aceitar a conclusão. Quando falamos em argumentação, não queremos apenas validade, precisamos também de solidez. Um argumento é sólido quando é válido e, além disso, todas as premissas são verdadeiras.

Argumentos são válidos e sólidos quando usamos um raciocínio dedutivo, ou seja, quando partimos de premissas visando chegar necessariamente na conclusão. Na prática, nem sempre queremos garantir que a conclusão seja verdadeira com base nas premissas. Às vezes, é suficiente que a conclusão seja provavelmente verdadeira. Nesse caso, o argumento que usamos não precisa ser válido ou sólido, mas precisa ser persuasivo. Um argumento é persuasivo quando é muito provável assumir a conclusão com base nas premissas. Quando pensamos assim, estamos adotando um raciocínio não-dedutivo, ou seja, partimos das premissas visando uma alta probabilidade de chegar na conclusão.

Há dois tipos principais de argumentos persuasivos usando raciocínio não-dedutivo. O primeiro deles é um argumento indutivo. O exemplo a seguir é um caso típico de argumento indutivo:

7. O sol nasceu todos os dias desde que nasci.

Logo,

8. O sol também nascerá amanhã.

Esse argumento não é válido, pois a verdade de 7 não acarreta a verdade de 8. Não é contraditório dizer que o sol não nascerá amanhã, ainda que ele tenha nascido todos os dias desde que nasci. Porém, dado que o sol nunca falhou em aparecer toda manhã, é razoável supor que ele também nascerá amanhã. No argumento indutivo, tomamos uma grande quantidade de casos particulares verificados no passado para generalizar uma conclusão. Não podemos garantir essa generalização, mas é muito razoável assumi-la.

Um outro modo de raciocínio não-dedutivo aparece em argumentos abdutivos. Em argumentos abdutivos, a conclusão é tomada como a melhor explicação para uma situação. Considere o seguinte exemplo:

9. A televisão não quer ligar quando uso o controle remoto.

10. O aparelho está ligado na tomada.

11. A televisão funciona quando ligo pelos botões do aparelho.

12. Faz muito tempo que não troco as pilhas do controle remoto.

Logo,

13. A televisão não quer ligar porque as pilhas do controle remoto descarregaram.

Assumindo a verdade das premissas (9 a 12) podemos concluir 13 como a melhor explicação. Mas essa é a melhor explicação? O que queremos dizer com "melhor explicação"? Essa é uma discussão que não vamos tratar agora, mas o importante é entender que argumentos desse tipo são usados quando tomamos as evidências que temos disponíveis e elaboramos uma explicação provável para elas. É um modo de pensar muito usado na prática científica.

Vemos, então, como há diferentes tipos de argumentos e diferentes formas de pensar. Às vezes queremos provar nossa crença e, para tanto, precisamos de argumentos sólidos. Em outras, queremos apenas mostrar que nossa crença é razoável diante dos dados e evidências, então podemos usar argumentos indutivos ou abdutivos. Com isso, vemos que argumentar não é algo tão simples assim e exige um pouco de esforço para sustentarmos nossas opiniões cada vez melhor. Nem sempre os argumentos que alguém dá são bons, não provam a conclusão ou não são persuasivos o bastante. Detectar esses problemas de argumentação exige treino e prática, algo que posso ajudar caso precise. Suas redações podem melhorar muito se você entender melhor como argumentos funcionam! ;)

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