O que é Física e para que estudá-la?
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Por: Maykell F.
06 de Julho de 2014

O que é Física e para que estudá-la?

Física Ensino Médio Eletromagnetismo Geral Radioatividade Ensino Fundamental

Olá caros leitores, como a vida tem lhes tratado? Hoje, tentarei resumir em algumas poucas linhas minha limitada e jovem visão sobre o que é a Física e para que estudá-la. Como vocês podem pressentir, não será uma tarefa fácil, mas nem só de Doritos e Coca são feitas nossas noites. Vamos lá!

A Física é, assim como a Filosofia, a Matemática, a História, a Paleontologia, a Medicina (e tantas outras) uma construção do imaginário humano. Essa construção tem como objetivo principal descrever, classificar, conceituar e explicar os fenômenos que acontecem ao nosso redor que envolvem dois personagens muito importantes: a matéria e a energia. Onde quer que haja matéria se transformando em matéria (e.g., água virando gelo), matéria se transformando em energia (reações em cadeia usadas em reatores nucleares) ou energia se transformando em matéria (geração de pósitrons em aceleradores de partículas...ha, essa é nova heim), lá estará a Física a tentar explicar o que acontece.

Pois bem. Essa pode ter sido uma descrição razoável que sirva para colocar em algum livro didático e doutrinar algumas mentes. No entanto, a questão central que quero abordar aqui não se restringe ao campo de estudo da Física como disciplina curricular, mas sim o porque de esse desenvolvimento ter acontecido como aconteceu. Bem, vamos a alguns números interessantes e, quem sabe, assustadores. 

No dia 14 de Agosto de 2003, por volta das 16.10h (4.10 p.m. horáro de Nova Iorque), uma pane no sistema de redes de distribuição de energia elétrica norte americano ocasionou um blackout digno dos roteiros apocalípticos de Hollywood, atingindo as regiões de Cleveland, Akron, Toledo, Nova Iorque, Westchester, Baltimore, Buffalo, Rochester, Syracuse, Binghamton, Albany, Detroit, New Jersey, Connecticut, Vermont e também algumas cidades canadenses como Toronto, Ottawa e Niagara Falls. Mais de 50 milhões de pessoas ficaram sem acesso aos serviços essenciais de sobrevivência humana por cerca de 24 horas, tais como água (o que inclui o uso de banheiros), energia elétrica, transportes (aéreo, terrestre e possivelmente marítimo),  comunicações e alimentação. Pode parecer estranho dizer que uma pane na distribuição de energia elétrica causou falta de água, mas o fato é que segundo aquele simples princípio de conservação da energia total de um sistema, pra você levar a água dos rios aos locais mais altos da cidade é necessário instalar bombas hidráulicas que puxem a água e operem a distribuição, sendo tais bombas aparelhos elétricos.

O blackout norteamericano ocasionou pelo menos 10 mortes diretas e, provavelmente, várias indiretas, já que equipamentos médicos que sustentavam a vida de pacientes hospitalares também pararam de funcionar por algumas horas. A princípio, todos pensavam que se tratava de outro ataque terrorista, como o que havia acontecido a pouco menos de um ano e meio nas torres gêmeas. Mas, conforme investigações começaram a rolar, o erro foi atribuído a uma companhia energética de Cleveland (Ohio) chamada First Energy. Eventos similares aconteceram também na Europa em 2006 e no Brasil em 2009. Vários filmes foram feitos com a temática ''fim do mundo por blackouts'', tal foi o medo instalado no imaginário dos cidadãos de que o que ocorreu se repetisse em maior escala. Fato é que após certo tempo de uso da energia elétrica, todos nos tornamos escravos dela. Nos afeiçoamos aos benefícios que seu uso controlado pôde trazer-nos e nos apavora a longínqua ideia de um dia ficar sem ela novamente. 

Com essa breve descrição catastrófica, podemos refletir que as coisas que existem hoje e que nos trazem benefícios em termo de tempo e dinheiro não existiram sempre. Alguém teve de idealizá-las, planejá-las, engendrá-las, instalá-las, testá-las e dar manutenção constante para que pudéssemos usufruir delas. Não gosto da ideia mesquinha que alguns livros didáticos trazem de que o inventor da lâmpada foi Thomas Edison ou qualquer outro indivíduo, pois desenha a Ciência como um processo pontual em que um indivíduo isolado cria algo do nada. Não é assim que a roda gira! Tudo é construção social. Alguns indivíduos deram contribuições mais significativas que outros, é verdade, mas todos foram responsáveis pela tecnologia da qual usufruímos hoje. 

A Física, tendo como bases a investigação e o questionamento constante de como e porque as coisas funcionam da forma que funcionam, foi uma importante ferramenta na idealização e construção da tecnologia da qual usufruímos hoje em dia e à qual estamos tão viciados (veja os jovens e sua necessidade sobrehumana por wifi em todas as ocasiões). Físicos sempre foram conhecidos por pensar o mundo de uma forma diferente, por tentar ver novas possibilidades para aproveitar os recursos que o planeta nos dispõe e por tentar fazer com que a comunidade entenda um pouco o que está por trás de tudo isso que usufruem, já que uma das coisas mais perigosas ideologicamente falando é consumir algo sem saber de onde vem e porque vem.

Estudar Física não é uma chatisse sem fim como a maioria dos jovens pensam. A Física com a qual se está acostumado nos Ensinos Fundamental e Médio é sim bem tediante (afinal, quem é que aguenta ficar decompondo forças e analisando bloquinhos por 12 meses consecutivos?). Essa obrigatoriedade em estudar Física no Ensino Médio é um resquício de projetos norte americanos implementados nos Estados Unidos no período pós 2ª Guerra Mundial e que foram inadequadamente transportados para a realidade brasileira. Agora a Física que acontece dia após dia nos centros de pesquisa em todo o país é sim muito interessante. Novos jovens cientistas brasileiros estão estudando formas não invasivas de tratamento de câncer via exposição tumoral à radiação emitida por LEDs. Softwares de simulação computacional que calculam acoplamentos moleculares e energias de ligação tem sido usados para prever como as drogas usadas no tratamento quimioterápico agem no DNA celular matando as células tumorais. Telas feitas de materiais orgânicos (OLEDs) estão ganhando espaço não apenas entre os grupos de pesquisa das universidades brasileiras, mas também aos olhos de empresários do setor de displays que tem visto nos OLEDs uma alternativa mais barata e ecológica para um futuro próximo. Todas essas coisas serão desenvolvidas com o estudo e o esforço de pessoas que querem estudar Física diariamente.

Todavia, até agora este texto transmitiu uma ideia que tende a considerar um papel bem utilitarista da Física, isto é, estuda-se Física para construir coisas novas que serão usadas pelas próximas gerações, tornando sua vida mais fácil e cômoda. Há, por trás de tudo isso, um sentido mais profundo do porque estudar Física. No budismo, considera-se que o mais importante de um período qualquer não é o resultado final obtido, mas sim o percurso trilhado para chegar a tal resultado. E é nesse processo de tentativa e erro, de especulação e descoberta, de questionamento e frustração que surgem as mais interessantes ideias. Tudo que é criado por um cientista (não me restringindo aqui apenas aos Físicos) não nasce do dia para a noite. São frutos de um processo que, na maioria dos casos, leva anos ou talvez décadas, mas que tem origem com uma simples dúvida, como descreveu Isaac Asimov usando das seguintes palavras:

The most exciting phrase to hear in science, the one that heralds new discoveries, is not 'Eureka!' but 'That's funny...'
A frase mais excitante de ouvir na Ciência, a que anuncia uma nova descoberta, não é "Eureka" e sim "Que estranho..."*

A curiosidade por aquilo que é desconhecido, a inconformação em não entender algo e a sede por explicações coerentes é o real motor da Física e de todas as Ciências. E, sinceramente, espero que tais características não morram com as facilidades que a vida cotidiana tem oferecido. Enquanto existir a dúvida, existirá a Física/Ciência!

Abraço a todos e um excelente final de semana!

Maykell Figueira.

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*A frase em inglês "That's funny..." deveria ser traduzida literalmente como "Isso é divertido...". No entanto, não transmitiria o significado verdadeiro da expressão caso a tradução fosse feita literalmente.

Referências:

http://en.wikipedia.org/wiki/Northeast_blackout_of_2003
https://www.youtube.com/watch?v=nd3teNgUq8E 

 

Maykell F.
Maykell F.
Bauru / SP
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Doutorado: Doutorado em Educação para a Ciência (Universidade Estadual Paulista (UNESP))
Física para Pré-Vestibular, Física para Ensino Médio, Física para Ensino Superior
Professor online de fisica, matemática, inglês com 12 anos de experiencia e doutorado em ensino

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